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Nova série de televisão mostra os biólogos portugueses como nunca os vimos

02.07.2016

Nos confins da floresta e do deserto, de barco ou em trilhos enlameados, carregando panelas e tripés, uma equipa de televisão percorreu o mundo para nos contar as histórias de 13 biólogos portugueses e do seu encanto pela natureza. A aventura de “As Novas Viagens Philosophicas” começa neste domingo na RTP.

 

São milhares os portugueses a trabalhar no estrangeiro. Mas poucos trabalham com crocodilos na Mauritânia ou com preguiças no Brasil. Também serão poucos os que medem bicos de aves, dormem pendurados em árvores e acordam de madrugada para contar sapos, tudo para desvendar os segredos do mundo natural e reduzir a imensidão daquilo que ainda não sabemos.

Até Setembro, todos os domingos às 11h30, esta série de 13 episódios mostra o trabalho de 13 biólogos do Cibio – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, com sede em Vairão (Vila do Conde). Cada episódio tem 30 minutos e é dedicado a um biólogo e à sua investigação.

“A ideia principal é explicar o que motiva estes investigadores, o que querem saber, qual o seu olhar sobre o mundo”, explicou à Wilder Nuno Ferrand de Almeida, coordenador científico do Cibio e desta série televisiva.

 

Investigação sobre tecelões, África do Sul
Investigação sobre tecelões, África do Sul

 

Estas novas viagens filosóficas levam-nos até à Amazónia, Guiné-Bissau, Austrália, Europa, Estados Unidos, por exemplo. “A primeira coisa que queremos é encantar as pessoas pelo mundo natural. Depois, mostrar a investigação moderna que é feita por pessoas normais, motivadas e com curiosidade.”

Já em 2007, este investigador pensava numa série assim. As filmagens começaram em Novembro de 2011 e terminaram em 2014. “O nome para a série surgiu inspirado nas Viagens Philosóphicas que marcaram Portugal no século XVIII, quando os portugueses viajavam para terras longínquas com o propósito de conhecer e descrever a natureza, as pessoas e de que forma estas se ligavam”, acrescentou.

Duzentos anos depois, os portugueses continuam as expedições naturalistas nos quatro cantos do planeta. Desta vez, Sandra, Pedro, Umberto e João foram ter com eles. Esta equipa de jornalistas, operadores de câmara, repórteres de imagem e sonoplastas passaram temporadas de até 15 dias com cada um dos 13 biólogos.

 

Investigação sobre o caimão, Espanha
Investigação sobre o caimão, Espanha

 

“O nosso objectivo não é mostrar a vida selvagem, com grande proximidade, como os documentários televisivos clássicos com os quais crescemos”, disse à Wilder Sandra Inês Cruz, jornalista responsável pela coordenação editorial e pela realização da série. “O que queremos é mostrar a investigação feita por portugueses na área da biodiversidade.”

Para isso, foram escolhidos 13 projectos. “As histórias foram seleccionadas em conjunto com o Cibio, fazendo um equilíbrio entre aquilo que este considera relevante para a Ciência e o que consideramos atractivo do ponto de vista jornalístico e televisivo. Porque em televisão tem de haver imagens para contar a história.”

 

Investigação sobre as aves endémicas de São Tomé
Investigação sobre as aves endémicas de São Tomé

 

O primeiro episódio da série – que se prevê passar em breve na RTP Internacional – conta a história de José Carlos Brito e dos crocodilos da Mauritânia. “Como é que uma espécie que associamos às regiões tropicais vive num deserto como o Saara? O trabalho deste investigador ajuda a conhecer melhor a origem do próprio deserto”, explicou Nuno Ferrand de Almeida.

 

Investigação sobre crocodilos na Mauritânia
Investigação sobre crocodilos na Mauritânia

 

E há outras histórias, como a domesticação do coelho-bravo (por Nuno Ferrand de Almeida), a conservação das preguiças no Brasil e Panamá (por Nádia Morais Barros) e a conservação dos morcegos em Portugal (por Hugo Rebelo).

Mas Sandra Inês Cruz deixa um aviso. “Aqui não há uma história completa para contar, como o ciclo de reprodução da lagartinha. São mais as perguntas que as respostas e, na maioria dos casos, a investigação ainda está em curso”.

 

Investigação na Mauritânia
Investigação na Mauritânia

 

Da parte desta jornalista, não houve perguntas por fazer. “Assumi este trabalho mais como uma reportagem alargada, onde há espaço para o jornalismo quase de rua. Por isso insisti sempre em fazer perguntas que podem parecer chatas, como por exemplo, para que serve esta ou aquela investigação, qual o objectivo, como é que o biólogo trabalha, o que o move”, acrescentou.

Na sua opinião, “o facto de não ter formação em Biologia foi, ao início, um desafio, mas acabou por ser uma mais-valia”. E explicou. “Uma certa ignorância permite ao jornalista fazer as perguntas necessárias para tornar tudo mais claro. E estamos mais perto do público do que dos investigadores”.

 

Investigação sobre morcegos, Montemor
Investigação sobre morcegos, Montemor

 

[divider type=”thick”]Aqui fica o que vai poder ver nos 13 episódios:

 

  1. Mauritânia: os crocodilos do deserto: um grupo de biólogos procura crocodilos (Crocodylus suchus) nos oásis de montanha no Saara.
  1. A perigosa conquista da Guiné-Bissau: as consequências da transformação da ocupação do solo na biodiversidade, economia e sociedade.
  1. África do Sul: solidariedade aparente no Kalahari: investigação sobre os comportamentos dos tecelões sociais que vivem em comunidades e que fazem uma cria cooperativa.
  1. Brasil: rãs que contam a história da floresta: estudo das rãs arborícolas para retratar a evolução da floresta original da costa oriental brasileira.
  1. Morcegos de Portugal: estudo das espécies que habitam em Portugal e técnicas de captura inéditas.
  1. Cabo Verde: à procura de répteis: como se desenha um novo mapa das espécies neste arquipélago.
  1. São Tomé e Príncipe: um mundo de espécies no equador: O projecto no Golfo da Guiné estuda as diferenças entre populações e de que forma deram origem a novas espécies de aves.
  1. Portugal, Itália e França: a história interrompida dos peixes migradores: investigação para conhecer os mecanismos de adaptação destas espécies a uma vida mais sedentária, por causa dos obstáculos nos rios.
  1. Brasil e Panamá: o mundo vagaroso das preguiças: Estudo das diferenças entre populações de preguiças para ajudar a conservação da espécie e dos seus habitats.
  1. Cabo Verde: um casamento no Atlântico: os mecanismos genéticos e os vários momentos da colonização de Cabo Verde.
  1. Brasil/Austrália: a interminável viagem dos sapos: Um grupo de cientistas portugueses e brasileiros está a refazer os percursos do sapo ao longo de milhões de anos.
  1. Portugal e Espanha: o regresso do caimão: estudo dos resultados de várias reintroduções desta ave para actuar na conservação da espécie.
  1. França e Espanha: como os coelhos saíram da toca: a história de como um grupo de animais terá saído da Península Ibérica e chegado a França onde a espécie foi domesticada para servir de alimento nos mosteiros da Provença.

 

[divider type=”thick”]Ficha técnica:

Título: As Novas Viagens Philosophicas

Ano de produção: 2011 a 2016

Coordenação editorial e realização: Sandra Inês Cruz

Coordenação científica: Nuno Ferrand de Almeida

Produção: Um Segundo Filmes

Equipa no terreno: Sandra Inês Cruz (jornalista), Pedro Medeiros (operador de câmara e repórter de imagem), Umberto Rocha (repórter de imagem) e João Gazua (sonoplasta)

Datas de emissão: domingos, de 3 de Julho a 25 de Setembro, às 11h30

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia aqui a entrevista que fizemos a Sandra Inês Cruz com os bastidores desta série de televisão.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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