As baleias-de-bossa (Megaptera novaeangliae) estão a nascer bem mais a sul do que se pensava até agora, com avistamentos tão longe como a Tasmânia, a mais de 1500 quilómetros de distância da zona conhecida como berçário, revelou esta semana um estudo publicado na revista Frontiers in Marine Science.
“Historicamente, acreditávamos que as baleias-de-bossa que estavam a migrar para Norte, a partir das águas ricas em nutrientes do oceano Antárctico, dirigiam-se para as águas tropicais como as da Grande Barreira de Coral para ter as suas crias”, disse, em comunicado, Jane McPhee-Frew, investigadora principal deste estudo na Universidade da Nova Gales do Sul.
A investigação incluiu mais de 200 avistamentos de crias de baleias-de-bossa numa área desde Queensland até à Tasmânia e até à ilha do Sul da Nova Zelândia. Estes foram feitos por operadores de barcos de observação de baleias, cientistas-cidadãos e agências governamentais de vida selvagem. O que se descobriu põe em causa o que se sabia até agora sobre o local onde as baleias dão à luz.
“Em 2023 estava a trabalhar a part-time num barco de observação de baleias em Newcastle quando vi, pela primeira vez, uma cria naquela zona”, lembrou McPhee-Frew. “Parecia estar fora de sítio. A cria era muito pequena, obviamente tinha nascido há pouco tempo. O que estavam elas a fazer? Mas nenhum dos meus colegas pareceu ficar surpreendido. Isto gerou uma conversa com os meus colegas e apercebemo-nos de que havia uma lacuna entre a literatura científica e os avistamentos.”
McPhee-Frew disse que quando começaram a investigar, os avistamentos registados vinham de locais cada vez mais a Sul, até à ilha Sul da Nova Zelândia.
“Este padrão sugere que as baleias-de-bossa podem ter comportamentos migratórios e reprodutores mais complexos do que alguma vez pensámos.”
Além disso, o estudo descobriu mães baleias com as suas crias em algumas das rotas com mais tráfego de navios e perto de regiões urbanizadas. “Isto quer dizer que estes animais vulneráveis estão expostos a riscos como colisão com embarcações, a ficarem presas em redes, poluição e desconhecimento por parte das pessoas de que elas estão lá.”
As baleias-de-bossa já estiveram à beira da extinção. Nos anos 1960, as suas populações estavam reduzidas a escassas centenas. Depois, esforços de conservação conseguiram que os números subissem até às 50.000 que se estimam existir hoje.
McPhee-Frew notou que, apesar da descoberta de crias de baleias-de-bossa tão para Sul e longe dos trópicos parecer ser algo novo, o comportamento em si pode não ser. Provavelmente ainda ninguém tinha dado por ele.
A investigadora acredita que este estudo mostra a necessidade crucial de aumentar a protecção das crias de baleia ao longo da sua viagem para Norte. Em alguns casos, estas viagens podem ter mais de 2300 quilómetros.
“Independentemente da saúde da população agora, não podemos pôr em risco nenhuma baleia, especialmente as crias, nomeadamente ser apanhada em redes, ser exposta a químicos ou colidir com embarcações”, salientou.
“Já há legislação para proteger as baleias-de-bossa, mães e crias, em todos os estados australianos”, disse Adelaide Dedden, do Serviço Nacional de Parques e Vida Selvagem da Nova Gales do Sul que colaborou neste estudo. “Mas as pessoas precisam estar cientes de que há crias não só na migração para Sul mas também para Norte.”