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Três ideias para ajudar a vida selvagem no Verão

27.06.2016

Ouriços, lebres e corujas que perderam os pais são apenas algumas das histórias que por estes dias enchem os centros de recuperação de animais selvagens de Norte a Sul do país. Saiba o que fazer para ajudar estas crias durante o Verão.

 

O Verão é uma das alturas do ano de maior risco para as crias de animais selvagens. Já são independentes mas a experiência ainda não é muita e podem cair dos ninhos. Outras vezes, as crias ficam órfãs e ainda não conseguem sobreviver sozinhas.

Neste momento, os centros enchem-se de crias de várias espécies. No Algarve, o RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens tem ao seu cuidado 81 crias de 17 espécies diferentes. Neste centro de Olhão estão a ser recuperadas 17 gaivotas-de-patas-amarelas, 11 mochos-galegos, 10 peneireiros-vulgares, nove ouriços-cacheiros, uma lebre e muitos outros animais selvagens, como pardais, pintassilgos, patos-reais, melros e cegonhas.

 

 

Cria de lebre. Foto: RIAS

 

“A maioria das aves caiu dos ninhos ao tentar fazer os primeiros voos ou ficou órfã, como os patos por exemplo”, explica à Wilder Fábia Azevedo, do RIAS. Ali há muitas histórias, como a dos ouriços que ficaram órfãos e estavam na berma da estrada, ou a lebre que foi encontrada sozinha, provavelmente órfã também. E as águias-de-asa-redonda que foram apreendidas pela GNR “pois um particular retirou-as do ninho e manteve-as em casa ilegalmente”.

 

Crias de ouriços-cacheiros. Foto: RIAS
Crias de ouriços-cacheiros. Foto: RIAS

 

Desde 2009 a 2016 deram entrada neste centro algarvio um total de 1.466 crias de animais selvagens, correspondendo a 20% do total. Só este ano já entraram 188”, acrescentou Fábia Azevedo.

Mais a Norte, em Gouveia, o CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens tem nas suas instalações 35 crias em recuperação. Fazem parte deste grupo sete corujas-do-mato, seis cegonhas-brancas, quatro pica-paus-malhados-grandes, um milhafre-preto e três andorinhões-pálidos.

 

Crias de pato-real. Foto: RIAS
Crias de pato-real. Foto: RIAS

 

“Na maior parte dos casos foram animais encontrados no chão, após terem saído do ninho”, diz Ricardo Brandão, director veterinário do centro. “Os pica-paus estavam dentro do tronco de uma árvore que foi cortada em Cantanhede, tendo as pessoas entregue as aves ao SEPNA/GNR de Cantanhede”, acrescenta. As crias de coruja-das-torres foram retiradas pelos proprietários de uma casa em obras que as entregaram ao SEPNA/GNR de Gouveia. O CERVAS recebeu um total de 674 crias desde 2009 a 2016.

O CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens, em Castelo Branco está “ao rubro” e, “a cada dia que passa” recebe “mais andorinhas e andorinhões”, escreve numa mensagem no Facebook.

 

Crias de corujas-do-mato. Foto: RIAS
Crias de corujas-do-mato. Foto: RIAS

 

Aqui fica, então, o que pode fazer para ajudar:

 

Prestação dos primeiros cuidados:

Se encontrar uma cria de animal selvagem, evite ao máximo perturbá-la, minimizado o barulho e o contacto com as pessoas. Primeiro, verifique se os progenitores estão por perto. Muitas vezes, os pais continuam a alimentar as crias que caíram do ninho. Se não os vir ou se a cria estiver ferida, use um pano para cobrir a cabeça do animal e coloque-o numa caixa de cartão com uma toalha ou pano para manter a temperatura amena e pequenos furos para que possa respirar. Pode contactar o Serviço de Protecção da Natureza da GNR, o SEPNA, ou os Vigilantes da Natureza para o ajudarem a levar o animal para um centro de recuperação.

 

Quatro crias de pica-paus-malhados-grandes. Foto: CERVAS
Quatro crias de pica-paus-malhados-grandes. Foto: CERVAS

  

 

Não mantenha as crias em casa e entregue-as num centro de recuperação:

Apesar das suas melhores intenções, “as crias necessitam de atenção constante e alimentação adequada, que nem sempre é fácil de encontrar”, escreve o RIAS. Se recolher uma cria de ave ou mamífero, por favor não tente alimentá-la. Segundo o RIAS, só este ano já receberam “mais de 10 crias que acabaram por morrer devido ao estado grave em que chegaram, provocado por ingestão de alimentos inapropriados (como por exemplo pão, papa de bebé, leite, etc.). As crias são muito sensíveis e podem ficar com graves problemas gastrointestinais quando mal alimentadas.”

 

Duas crias de melro-preto a ser alimentadas por sonda com papa. Foto: CERVAS
Duas crias de melro-preto a ser alimentadas por sonda com papa. Foto: CERVAS

 

Deverá encaminhá-la os centros de recuperação de animais selvagens mais próximo o mais rápido possível para que possam tratar dela correctamente.

 

Apadrinhe crias em recuperação ou seja voluntário num centro:

Se quiser pode ir ainda mais longe. Neste momento vários centros têm a decorrer campanhas de apadrinhamento de animais, como por exemplo o CERVAS e o RIAS. O CERAS pede voluntários na zona de Castelo Branco para ajudar na recuperação das crias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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