Neste momento, 52% dos britânicos querem sair da União Europeia, segundo os resultados de um referendo vinculativo conhecidos hoje. O que quer isto dizer para a conservação da natureza inglesa?
As reacções ao “Brexit” não se fizeram esperar no meio ambientalista. A WWF britânica diz-se “preocupada com os riscos e incertezas” colocadas pela saída da União Europeia. Ainda assim, a organização lembra que o Governo britânico tem as suas próprias regras e planos para a natureza e que, mais do que nunca, não os deve deixar cair.
“Sair da União Europeia traz riscos e incertezas para a nossa vida selvagem”, comenta hoje David Nussbaum, director da WWF britânica, num comunicado em reacção aos resultados do referendo. “Mas com as políticas certas, o Reino Unido pode continuar a ser uma força mundial pela protecção da natureza”, acrescentou.
Na sua opinião, uma das primeiras coisas a fazer é manter “as protecções ambientais que nos deram praias e ar mais limpos, que ajudaram a preservar habitats e a reduzir as emissões de dióxido de carbono e trabalhar a partir daí para reverter o declínio ambiental que estamos a registar”.
Actualmente, o Governo britânico propôs planos a 25 anos para a Agricultura e Natureza. Resta saber se a natureza continuará a estar na lista de prioridades do Governo, salienta .
Outra organização que também já reagiu ao “Brexit” foi o Wildlife Trust, para quem este novo mundo político só dá razões para o Governo inglês trabalhar mais pela natureza. “É da responsabilidade de todos garantir que os benefícios para a vida selvagem que tivemos na União Europeia não se percam através da desregulamentação ou da falta de cooperação internacional”, escreve a organização em comunicado.
Mais do que nunca, a conservação da natureza está nas mãos de Downing Street. “Durante a campanha do referendo, aqueles que defendiam a saída da União Europeia disseram que não seria reduzido o financiamento à agricultura amiga da natureza e que a protecção da vida selvagem seria reforçada num país independente. Chegou a altura para todos os envolvidos nos debates dos últimos meses honrarem os seus compromissos e construírem um futuro melhor para a nossa vida selvagem, para os lugares selvagens e para as pessoas que os apreciam e que dependem deles todos os dias”, apela a organização.
Mas há razões para algum cepticismo, tendo em conta casos recentes. Como o combate a pesticidas que prejudicam os insectos polinizadores e a luta contra o tráfico de espécies selvagens.
O zoólogo britânico Jules Howard lembrou num artigo de opinião publicado no jornal britânico The Guardian a 9 de Maio que, “nos últimos anos, o Governo tem tentado encerrar a nossa Unidade Nacional de Crime contra a Vida Selvagem, um departamento importante para monitorizar o comércio ilegal de animais, por exemplo. Felizmente a União Europeia forçou-nos a resistir”.
Na opinião deste especialista, as directivas Aves e Habitats são duas razões para se gostar da União Europeia, juntamente com o combate aos neonicotinoides – banidos na União Europeia em 2013 perante forte oposição dos ministros britânicos – e à pesca de arrasto em profundidade. Nestes casos, o Governo britânico “arrastou os pés”, “empatou as negociações” ou “manteve-se em silêncio”.
Perante este cenário, Jules Howard vai mais longe. “Na verdade, estou a pensar o impensável. Talvez sejamos uma má influência na União Europeia quando se trata de vida selvagem e de protecção ambiental (…) Será que a vida selvagem europeia fica melhor sem nós a essa mesa?”
Craig Bennett, director do ramo britânico da organização Friends of the Earth (FOE), reagiu aos resultados do referendo com estas palavras: “A luta começa agora para garantirmos que o Reino Unido não deite fora as salvaguardas ambientais que herdámos da União Europeia”. Uma das suas preocupações é a ameaça à protecção dada pela Directiva Habitats a mais de 1.000 espécies de animais e de plantas e a 200 tipos de habitats.
“A nossa prioridade agora é garantir que cada deputado compreenda muito bem que o resultado deste referendo não é um mandato para enfraquecerem a nossa protecção ambiental”, acrescenta. “Quando era criança, o Reino Unido era chamado de ‘o homem sujo da Europa’. Isso não pode voltar a acontecer.”