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Luisa Ferreira Nunes. Foto: D.R.

Entrevista: a entomóloga Luísa Ferreira Nunes e o seu podcast “Lições Naturais”

16.04.2025

Todas as segundas-feiras, a investigadora Luisa Ferreira Nunes fala de estratégias e soluções que animais e plantas encontraram e que podemos utilizar no seu podcast “Lições Naturais”. Saiba mais nesta entrevista da Wilder a esta naturalista.

WILDER: Como surgiu a ideia para este novo projecto de comunicação de natureza?

Luísa Ferreira Nunes: Este podcast foi um convite do Jornal Público. Foi gravado há muito tempo atrás mas só agora houve oportunidade de o lançar. A ideia surgiu da necessidade de aproximar mais pessoas do conhecimento sobre o mundo natural e da forma como a natureza inspira soluções inovadoras para os desafios humanos. A biomimética é um campo fascinante, mas ainda pouco explorado fora dos círculos científicos. Quis criar um espaço acessível onde qualquer pessoa, independentemente da formação, pudesse aprender sobre este tema de forma envolvente.

W: Qual o objectivo deste podcast?

Luísa Ferreira Nunes: O principal objetivo do podcast é divulgar a biomimética como uma abordagem revolucionária para a inovação, sustentabilidade e design. Pretendo mostrar como a natureza pode ser a nossa maior professora e como podemos aprender com os seus processos para resolver problemas nas mais diversas áreas, desde a engenharia à medicina. A mensagem principal é que a natureza já resolveu muitos dos problemas que enfrentamos hoje. Em vez de reinventarmos a roda, devemos estudar e aplicar essas soluções, usando a metodologia biomimética para criar um mundo mais eficiente e sustentável. Trata-se de aprender com a natureza, e não apenas explorá-la.

W: Como o pode descrever?

Luísa Ferreira Nunes: O “Lições Naturais” é um podcast que, em cada episódio, traz um ecossistema ou uma espécie que ensina uma lição valiosa para os desafios humanos. Através da observação da natureza, abordamos soluções para problemas como escassez de recursos, saúde, arquitetura sustentável, mobilidade, organização social, inovação tecnológica, resiliência ambiental e até estratégias de cooperação e estratégias dirigidas ao indivíduo. Por exemplo, exploramos como as térmitas ensinam princípios de ventilação natural para edifícios, como as formigas inspiram sistemas logísticos eficientes, como as baleias influenciam o design de turbinas mais eficientes ou como os fungos nos ajudam a pensar em redes de comunicação e inteligência coletiva. O objetivo é mostrar que a natureza não é apenas um cenário bonito, é um laboratório vivo de inovação, uma biblioteca de ideias.

W: Onde o podemos ouvir?

Luísa Ferreira Nunes: O podcast está disponível na página do Jornal Público e nas principais plataformas de streaming, como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras aplicações de áudio. Além disso, os episódios são partilhados nas redes sociais para que mais pessoas possam descobrir e acompanhar o projeto.

W: Que temas aborda no podcast?

Luísa Ferreira Nunes: Os temas vão desde estruturas e materiais bio inspirados até estratégias de adaptação e eficiência energética inspiradas na natureza. Alguns exemplos incluem a resiliência e capacidade de suplantar crises (com as lições das formigas e de outros animais); arquitetura sustentável (como os ninhos dos pássaros e ninhos de térmitas inspiram construções mais eficientes); saúde humana (com os mágicos do metabolismo, ursos, marmotas e beija-flores); gestão de recursos (como algumas espécies prosperam em ambientes extremos e o que podemos aprender com elas); multifuncionalidade do indivíduo nos grupos (o “artista dos sete instrumentos” é muito valorizado na natureza); inteligência coletiva (o que formigas, cogumelos e cardumes de peixes ensinam sobre redes de comunicação e organização).

W: Qual a frequência deste podcast?

Luísa Ferreira Nunes: O podcast é semanal, com novos episódios todas as segundas-feiras.

W: Porquê um podcast?

Luísa Ferreira Nunes: O podcast porque permite uma abordagem acessível, envolvente e flexível. As pessoas podem ouvir enquanto fazem outras atividades, o que facilita a disseminação do conhecimento. Além disso, o áudio permite criar uma experiência imersiva, combinando narração e efeitos sonoros que transportam os ouvintes para os cenários naturais de que falamos.

W: Como comenta o conhecimento das pessoas em geral sobre o mundo natural?

Luísa Ferreira Nunes: Infelizmente, o conhecimento sobre o mundo natural tem diminuído, especialmente entre quem vive em ambientes urbanos. Muitas pessoas desconhecem a complexidade e a inteligência dos sistemas naturais, o que leva a um afastamento da biodiversidade assim como  falta de consciência sobre a importância da sua preservação. Este é um dos motivos pelos quais a comunicação científica e projetos como este podem ajudar a mudar qualquer coisa…

W: Qual considera ser o papel dos investigadores neste âmbito?

Luísa Ferreira Nunes: Os investigadores desempenham um papel essencial na divulgação do conhecimento. A ciência não deve ficar confinada às universidades e aos artigos científicos, é fundamental que seja comunicada ao público de forma clara e acessível. Embora nem todos os cientistas tenham de ser divulgadores, acredito que a partilha do conhecimento deveria ser mais valorizada e incentivada dentro da própria carreira científica. Afinal, a ciência só cumpre totalmente o seu propósito quando é compreendida e aplicada na sociedade.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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