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Franga-d'água-das-galápagos. Foto: Adam Jackson/WikiCommons

Anunciado primeiro registo em 190 anos de franga-d’água-das-galápagos na ilha Floreana

14.04.2025

Uma equipa de conservacionistas anunciou a presença confirmada da franga-d’água-das-galápagos (Laterallus spilonota) na ilha Floreana, nas Galápagos, Equador. Este é o primeiro registo desde que Charles Darwin esteve na ilha e viu a ave em 1835.

“Esta notável redescoberta é o primeiro registo oficial da ave naquela ilha desde que Charles Darwin a observou pela primeira vez na sua visita em 1835”, anunciou a Fundação Charles Darwin em comunicado.

A franga-d’água-das-galápagos é uma pequena ave terrestre endémica das Ilhas Galápagos. Pesa entre 35 e 45 gramas e tem a plumagem cinzento escura, dorso castanho, pequenas pintas brancas e olhos avermelhados.

Franga-d’água-das-galápagos. Foto: Adam Jackson/WikiCommons

Classificada como Vulnerável pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), a franga-d’água-das-galápagos ocorre nas ilhas Fernandina, Isabela, Pinta, Pinzón, Santa Cruz e Santiago. A sua presença em Floreana e San Cristóbal, onde se sabe já ter existido, tem sido há muito um mistério.

Esta espécie tem sido muito afectada pelas espécies invasoras, principalmente a população da ilha Floreana, onde vivem 150 pessoas. Aqui há uma forte presença de cabras, vacas, cães, gatos e roedores. “Estes predadores e competidores introduzidos têm sido dos principais responsáveis pelo declínio da vida selvagem nativa, incluindo da franga-d’água-das-galápagos, especialmente antes da criação do Parque Nacional em 1959”, escreve a Fundação em comunicado.

Apesar dos censos repetidos, o mais recente foi feito em 1987, a espécie nunca mais foi vista. Acreditava-se que a espécie estivesse localmente extinta. Até agora.

Durante a mais recente monitorização anual à ilha Floreana, os cientistas da Fundação Charles Darwin e os guardas do Parque Nacional registaram esta ave em três locais diferentes. Os registos já confirmados incluem seis registos acústicos, duas confirmações visuais e uma fotografia.

Desde 2015 que os locais agora prospectados têm vindo a ser monitorizados todos os anos pela Fundação com o objectivo de tentar encontrar as quatro espécies de aves perdidas de Floreana, sendo uma delas a franga-d’água-das-galápagos. Surpreendentemente, este é o primeiro registo confirmado da espécie na ilha Floreana em 190 anos.

“Esta foi uma linda surpresa”, comentou Birgit Fessl, principal investigadora para a conservação das aves terrestres na Fundação Charles Darwin. Na sua opinião há duas explicações possíveis para estes novos registos. “Ou a franga-d’água-das-galápagos recolonizou a ilha ou nunca se extinguiu verdadeiramente mas esteve longe da vista por haver muito poucos indivíduos.” Para a investigadora, a última explicação parece ser a mais provável, já que estas aves não são grandes voadoras.

Segundo a Fundação, esta redescoberta é um passo importante no âmbito do Projecto de Restauro da Floreana, que tinha identificado a franga-d’água-das-galápagos como uma das 12 espécies localmente extintas com objectivo de reintrodução.

Esta descoberta surge um ano depois de uma campanha de erradicação de gatos e ratos, espécies invasoras, naquela ilha.

“Este anúncio demonstra que os ecossistemas podem recuperar se lhes dermos a oportunidade”, comentou Arturo Izurieta, director do Parque Nacional das Galápagos. “A erradicação das espécies invasoras permitiu a uma espécie, que acreditávamos localmente extinta, voltar a fazer parte do ambiente da Floreana.”

Os próximos passos para os investigadores incluem a recolha de amostras genéticas para determinar se a população de franga-d’água-das-galápagos recentemente registada na Floreana é uma linhagem reintroduzida ou uma população sobrevivente que conseguiu passar despercebida nos últimos 190 anos.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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