Por ser muito eficaz e de baixo custo, o rewilding deve ser considerado uma opção válida pelo Plano Nacional de Restauro da Natureza que Portugal está a preparar, defendem a ZERO e a Rewilding Portugal no Dia Mundial da Vida Selvagem, 3 de Março.
O Plano Nacional, que deverá estar pronto até Agosto de 2026, deve prever o rewilding como uma opção por ser “muito eficaz como medida para restaurar ecossistemas à escala da paisagem”, escreveram as duas organizações num comunicado conjunto.
“A abordagem rewilding ou renaturalização na sua tradução em português, reconhece a capacidade que a natureza tem para regenerar quando lhe é permitido o tempo e o espaço necessários para tal”, explicam ainda. “O rewilding coloca o foco em restaurar processos naturais – e.g. ciclos de nutrientes, ciclos naturais do fogo, predação – e deixar que estes deem forma às paisagens terrestres e marinhas de forma dinâmica.”
Mas, “para consegui-lo, o rewilding trabalha lado a lado com as comunidades locais, para que o restauro dos ecossistemas beneficie a sociedade e crie economias baseadas na natureza que tragam novas oportunidades para os territórios”.
A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável e a Rewilding Portugal pedem, assim, ao Governo para “testar e avaliar um novo modelo de cogestão das áreas protegidas, em que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas passe a atuar como promotor, avaliador e fiscalizador das ações de conservação da biodiversidade, recorrendo à contratualização de entidades externas para executar a gestão”.
Esta foi uma das medidas propostas no estudo “Biodiversidade 2030”, encomendado pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática, e desenvolvido por uma equipa portuguesa de investigadores coordenada por Miguel Bastos Araújo, responsável pela Cátedra de Biodiversidade na Universidade de Évora.
As duas organizações lembram estudos recentes que “têm vindo a explorar a forma como certas espécies-chave podem realizar funções na paisagem que evitam custos de gestão humana”.
E dão o exemplo do potencial económico do regresso da cabra-montesa (Capra pyrenaica) a novas regiões de Portugal, sendo que hoje apenas existem no Parque Nacional Peneda-Gerês. Um estudo sobre a cabra-montesa “concluiu que os benefícios associados à presença da espécie na paisagem superam os custos, e que os efeitos globais sobre a paisagem são positivos, favorecendo outras espécies ao mesmo tempo que criam novas oportunidades de ecoturismo. Adicionalmente, a presença de cabras-montesas noutras paisagens portuguesas – neste momento apenas estão presentes – tem também o potencial de ajudar na prevenção de incêndios florestais”.
“Outro estudo recentemente publicado na revista Nature-Based Solutions avaliou o potencial impacto económico da reintrodução de castores em Portugal. O estudo mostra que o benefício económico pode ser significativo, sendo que ao fim de um ano, uma colónia de castores poderia levar a cabo intervenções de restauro fluvial que poupariam às entidades públicas e aos contribuintes valores entre os 240.000 euros e os três milhões de euros.”
De momento está a decorrer em Portugal, um processo de renaturalização no Grande Vale do Côa que, segundo as ONGA, poderia “ser replicado noutras áreas do país, como por exemplo em áreas já protegidas e em baldios”. “Além dos benefícios do restauro ecológico, esta paisagem está também a beneficiar de um aumento de ecoturismo potenciado pela criação da Rede Côa Selvagem, uma rede com mais de 60 parceiros do setor turístico e de produtores locais que tem vindo a melhorar a oferta local, numa abordagem ambiciosa e com visão de futuro para o território.”
E não é só em áreas terrestres que o rewilding funciona. Esta opção “pode trazer resultados em pouco tempo” em áreas marinhas protegidas, através da “declaração de áreas sem extração que, em poucos anos, revertem num aumento da biodiversidade dentro da área protegida e um aumento dos recursos pesqueiros fora da mesma, garantindo os objetivos de preservar 30% da superfície marinha protegida, dos quais 10% com proteção estrita”.
“Perante o contexto nacional, em que a degradação da qualidade dos habitats e declínio do estatuto de conservação e da abundância de múltiplas espécies continua sem abrandamento visível, o rewilding como abordagem de gestão da paisagem – combinada com a remuneração dos serviços de ecossistemas aos proprietários rurais – traz benefícios claros para recuperar paisagens degradadas e reforçar a qualidade de vida das populações locais, hoje prejudicada pelas políticas públicas.”