Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Perda de diversidade genética está a ameaçar biodiversidade, alerta estudo

14.02.2025

Um estudo publicado a 29 de Janeiro na revista Nature revela um preocupante declínio da diversidade genética em espécies de todo o mundo. Mas os investigadores também destacam exemplos de esforços de conservação que estão a fazer a diferença.

Este estudo representa uma análise da diversidade genética cobrindo mais de 30 anos de dados (1985-2019) e 628 espécies de animais, plantas e fungos em ecossistemas terrestres e marinhos de 141 países. 

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Os resultados mostram que dois terços das populações analisadas estão a perder diversidade genética, um fator crucial para a resiliência das espécies face às mudanças ambientais.

Mas ações como restauro de habitats, programas de reprodução em cativeiro e transferência de indivíduos entre populações têm demonstrado efeitos positivos, ajudando a manter, e até aumentar, a diversidade genética de algumas espécies.

“A manutenção da diversidade genética é crucial para a resiliência das espécies às mudanças ambientais bem como à ocorrência de novos agentes patogénicos, e assim para a preservação da biodiversidade global”, escreve o CIBIO em comunicado. Este estudo fornece evidências sólidas de que a perda de diversidade genética está a ocorrer numa escala global e destaca a urgência de implementar medidas de conservação para proteger a integridade genética das populações de espécies.

Galo-das-pradarias-grande. Foto: Doug Greenberg/Flickr/creative commons

Entre os casos bem-sucedidos destacados no estudo está o lince-ibérico (Lynx pardinus). Os programas de reprodução em cativeiro e de reintrodução em Portugal e em várias regiões de Espanha conseguiram reverter a situação de quase extinção a nível dos efetivos populacionais e controlar a perda da diversidade genética.

Ainda assim, menos de metade das populações ameaçadas analisadas beneficiaram de alguma forma de gestão de conservação. Os investigadores apelam à “necessidade urgente de expandir e reforçar estas iniciativas”.

Raposa-do-ártico. Foto: Jonathan Pie/unsplash

“Não há dúvida de que a biodiversidade está a diminuir a um ritmo sem precedentes”, comentou Paulo Célio Alves, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) e Professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e um dos coautores do estudo. “No entanto, este estudo, realizado a uma escala global, demonstra não só a necessidade de monitorizar a perda da diversidade genética de uma forma sistemática e continua, bem como que as ações de conservação podem reverter essas perdas e criar populações geneticamente diversas e resilientes.”

Os investigadores esperam que estas descobertas incentivem políticas mais eficazes e ampliem as proteções para espécies que ainda não estão sob gestão ativa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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