Foto: Helena Geraldes/Wilder

Nova investigação destaca o impacto de múltiplas infeções virais no coelho-bravo

20.01.2025

As populações naturais de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) enfrentam um nível de co-infeções virais mais elevado do que se pensava, o que revela a fragilidade desta espécie tão importante para os ecossistemas mediterrânicos, avança uma nova investigação.

 

O estudo, realizado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária de Portugal (INIAV) no âmbito do projeto LIFE Iberconejo, revelou que as populações naturais de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) enfrentam um nível de co-infeções virais mais elevado do que se pensava anteriormente, com até quatro infeções virais simultâneas identificadas em alguns indivíduos.

Estes resultados sublinham a fragilidade do estado imunológico desta espécie-chave nos ecossistemas mediterrânicos e oferecem informações que os investigadores consideram fundamentais para uma gestão sanitária mais eficaz das suas populações.

As doenças infeciosas têm sido um fator determinante no declínio das populações de coelho-bravo em grande parte da Península Ibérica. Em 2019, a espécie passou a ter a classificação de “Em Perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

A mixomatose e a doença hemorrágica viral dos coelhos (DHV) causaram mortalidade severa nas décadas de 1950 e 1980, respetivamente. Além disso, uma nova estirpe da DHV surgiu em França em 2011, afetando até mesmo coelhos jovens previamente imunes à estirpe clássica, dificultando ainda mais a recuperação da espécie em várias regiões.

Apesar de extensos esforços de investigação, muitas questões permanecem sem resposta sobre o impacto total destas e outras doenças nas populações de coelho-bravo.

O estudo do INIAV, publicado num artigo na última edição da revista Veterinary and Animal Science, analisou 68 coelhos-bravos recolhidos no sul, centro e norte de Portugal entre 2017 e 2024. Foram incluídos exemplares encontrados mortos, caçados e aparentemente saudáveis.

Os resultados mostraram que 27,8% das amostras analisadas estavam infetadas simultaneamente com o vírus da mixomatose (MYXV) e com o vírus da doença hemorrágica viral dos coelhos tipo 2 (RHDV2), uma taxa de co-infeção significativamente mais elevada do que a anteriormente reportada.

Pela primeira vez, foram documentados coelhos infetados com até quatro vírus em simultâneo, incluindo agentes patogénicos menos estudados, como herpes e o rotavírus.

“A elevada prevalência de co-infeções em coelhos-bravos sugere que as infeções primárias podem enfraquecer o sistema imunológico, permitindo a invasão de outros agentes patogénicos e causando, potencialmente, desfechos clínicos mais graves,” explicam os investigadores em comunicado.

Embora Espanha tenha um Plano Nacional de Vigilância Sanitária da Fauna Silvestre, que inclui o coelho, e Portugal tenha o Sistema de Notificação Imediata de Mortalidade de Animais Selvagens (ANIMAS), ainda existe uma lacuna significativa no conhecimento sobre o estado epidemiológico e o impacto das doenças nas populações de coelho-bravo. Para abordar esta questão, o projeto LIFE Iberconejo desenvolveu um sistema para monitorizar o estado de saúde dos coelhos-bravos em toda a Península Ibérica. Este sistema foi desenvolvido em colaboração com as autoridades competentes e todos os intervenientes no projeto.

“Compreender a dinâmica e o impacto destas infeções nas populações de coelho-bravo é essencial para desenvolver estratégias de gestão eficazes e baseadas na ciência, que permitam respostas rápidas em caso de potenciais surtos,” afirma Ramón Pérez de Ayala, Diretor do projeto LIFE Iberconejo.

O projeto LIFE IBERCONEJO/LIFE IBERCOELHO tem como objetivos conhecer e melhorar o estado das populações de coelho-bravo em Portugal e Espanha e ainda prevenir os danos que possa causar à agricultura.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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