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Imagens obtidas em microscopia eletrónica de varrimento de Classostrobus archangelskyi da Formação de Figueira da Foz (Juncal).

Descobertas duas novas espécies de coníferas do Cretácico na Figueira da Foz

13.12.2024

Mário Miguel Mendes, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), descobriu duas novas espécies de coníferas atribuídas à extinta família Cheirolepidiaceae, recolhidas perto da localidade de Juncal, Figueira da Foz. 

 

 

De acordo com o cientista, a primeira das novas espécies corresponde a um cone masculino, denominada Classostrobus doylei. Esta nova espécie, descrita e publicada na revista científica Cretaceous Research, foi dedicada a James Doyle, professor da Universidade da Califórnia (EUA). A realização deste trabalho envolveu a combinação de técnicas de microtomografia computadorizada de raios X (microCT), microscopia ótica, microscopia eletrónica de varrimento e microscopia eletrónica de transmissão. 

A segunda espécie, Frenelopsis callapezii, foi descrita com base nos caracteres morfológicos dos eixos caulinares da planta e nas suas características cuticulares, tendo sido dedicada a Pedro Callapez Tonicher, professor da FCTUC.

As coníferas da família Cheirolepidiaceae foram extremamente abundantes durante o Mesozoico, predominando em várias regiões do globo, incluindo aquelas que hoje correspondem à América do Norte e à Europa. Os primeiros membros desta família datam do início do Triásico Superior e, ao longo de 160 milhões de anos, continuaram a diversificar-se, entrando em declínio no final do Cretácico. 

“Acredita-se que os últimos representantes do grupo tenham resistido na América do Sul até ao início do Paleogénico, sobrevivendo à extinção em massa do Cretácico/Paleogénico”, comentou o investigador do MARE/FCTUC. “A descrição das novas espécies portuguesas demonstra que a diversidade deste grupo é muito maior do que se pensava e salienta também a importância destas plantas nos ecossistemas do Cretácico”, acrescentou. 

Segundo Mário Miguel Mendes, a paleoecologia destas plantas é bastante variável. Estas espécies terão “ocupado ambientes de estuário, planícies aluviais de água doce e locais mais elevados, sob influência de clima quente a temperado e, sazonalmente, com humidade significativa”. Aliás, o grande sucesso evolutivo e a resistência a condições ambientais extremas destas plantas podem ser explicados pela sua “plasticidade morfológica e ecológica”.

Os estudos das coníferas desta família Cheirolepidiaceae têm permitido reconstruir a sua evolução em termos de diversidade e riqueza de espécies, história biogeográfica e perceber quais as causas da sua extinção. “Estas plantas têm sido modelos fantásticos, pois o seu estudo tem contribuído, sem dúvida, para compreender como as coníferas se diversificaram e adaptaram ao longo dos tempos”, comentou. 

Estes trabalhos foram realizados em colaboração com investigadores da República Checa, Rússia e Holanda, tendo recebido financiamento da Czech Grant Agency e do MARE/FCTUC. 

 


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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