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Melro a comer um fruto de palmeira-das-canárias. Foto: Sara Mendes

Animais ajudam plantas a subir às montanhas para escapar das alterações climáticas

04.12.2024

Os animais que dispersam sementes, como várias espécies de aves, ajudam as plantas a subir às montanhas para escapar das alterações climáticas, revela um estudo liderado por Sara Mendes e Rúben Heleno, investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

 

Esta investigação, publicada na revista New Phytologist, documentou todas as espécies de animais que dispersam cada espécie de planta ao longo dos cinco pisos de vegetação altitudinais da ilha de Tenerife, nas Canárias. Esta ilha é o ponto mais alto do Oceano Atlântico, atingindo os 3.718 metros acima do nível do mar, e a sua vegetação está estruturada verticalmente, o que a torna o local ideal para explorar como as espécies respondem às alterações climáticas em ecossistemas montanhosos.

 

“Durante dois anos, subimos e descemos a serra, culminando numa das redes de dispersão de sementes mais completas já compiladas a nível mundial. Os resultados que obtivemos indicam que os dispersores de sementes conectam os diferentes pisos de vegetação, comendo frutos e dispersando sementes viáveis ao longo de ‘corredores’ que vão da praia ao cume da montanha. Desta forma, permitem que as próximas gerações de plantas consigam germinar e crescer em altitudes mais elevadas, escapando às duras alterações climáticas nas zonas mais baixas (seca e calor)”, explicou Sara Mendes, primeira autora do estudo.

 

De acordo com os autores, um dos resultados mais importantes e inesperados foi terem encontrado sementes de 11 espécies de plantas a ser dispersadas pelos animais (nos seus excrementos) para altitudes superiores àquelas onde as plantas adultas atualmente existem. “Estas sementes mostram que os animais conseguem ajudar as plantas a subir a montanha a uma velocidade suficiente para que estas consigam acompanhar as alterações climáticas”, afirmaram.

Contudo, alertam os especialistas, “o estudo revelou um resultado preocupante: mais de metade dessas plantas que os animais estão a ajudar são espécies exóticas, que podem tirar vantagem desta boleia, representando uma potencial ameaça para os ecossistemas nativos”.

Esta investigação frisa a importância de proteger as espécies de animais que dispersam sementes, não apenas pelo seu valor intrínseco, mas também pelo serviço que prestam para a sobrevivência das plantas nas montanhas num clima em mudança. No entanto, evidencia ainda a necessidade urgente de controlar a propagação de espécies exóticas.

 

“Proteger os dispersores de sementes e investir em estratégias de conservação para mitigar a invasão de espécies exóticas são passos cruciais para salvaguardar a integridade dos ecossistemas montanhosos”, concluíram os investigadores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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