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Halloween. Imagem: Larisa Koshkina/Pixabay

Halloween: por que não precisamos ter medo de morcegos, aranhas e cobras

30.10.2024

A Noite das Bruxas, ou Halloween, que se celebra a 31 de Outubro, é uma excelente oportunidade para descobrir por que não precisamos ter medo de morcegos, aranhas e cobras. Os peritos explicaram à Wilder porquê.

Aranhas:

“Não temos que ter medo porque as aranhas não são assustadoras”, disse à Wilder Pedro Sousa, biólogo com vasta experiência na identificação de espécies de aranhas autóctones de Portugal e especialista do grupo Aranhas e Escorpiões da IUCN SSC.

“Há mais de 800 espécies de aranhas em Portugal. E, no entanto, a esmagadora maioria é demasiado pequena para ser um problema para os seres humanos; nem sequer são capazes de perfurar a pele humana”, salientou.

“Mais que isso, as aranhas, quando em perigo, reagem escapando. Correm para longe, deixam-se cair das suas teias, escondem-se nas suas tocas.”

Teia de aranha. Foto: Lussie G/Pixabay

Mas, claro, se alguém “prender, agarrar ou tentar esmagar uma aranha esta vai tentar fazer tudo ao seu alcance para se proteger, incluindo morder, mas em legítima defesa!”

Segundo Pedro Sousa, “há talvez uma mão cheia de aranhas agressivas como primeiro comportamento, procurando intimidar o predador para que este recue. E menos ainda, as espécies com venenos potencialmente problemáticos para o ser humano em Portugal!”

“Mas existe ainda muito desconhecimento associado às aranhas, esse é o maior ‘perigo’ associado a estes animais.”

O “outro lado” das aranhas: “As aranhas são muito importantes pois ajudam a controlar o número de insectos nos ecossistemas, mantendo-os em números ‘naturais’. Isso inclui comerem vários insectos que são pragas agrícolas e insectos que se alimentam de nós, como mosquitos. Mas são, acima de tudo, fascinantes pois têm comportamentos fantásticos, incluindo a sua capacidade de produzir estruturas extraordinárias, as teias de captura, das quais existem vários modelos e formatos que as diferentes espécies usam para capturar diferentes presas. Mas realmente fascinante é olhar para um animal com menos de 1 cm e descobrirmos que ele nos olha de volta, como muitas aranhas saltadoras fazem! Será curiosidade ou instinto de avaliação de perigo?” 

Cobras:

E quanto às cobras e serpentes? “Apesar de existirem serpentes venenosas e perigosas, praticamente todas as espécies que ocorrem em Portugal são inofensivas”, garante Diogo Parrinha, herpetólogo e aluno de doutoramento do BIOPOLIS/CIBIO.

Cobra-de-ferradura (Hemorrhois hippocrepis). Foto: Luis Fernández García/WikiCommons

“As serpentes são animais como os outros, com um instinto de sobrevivência e, regra geral, a primeira reação que têm face a um perigo é fugir! E tal como outros animais, uma serpente só será agressiva e tentará defender-se se vir que não tem outra alternativa.”

Dito isto, Diogo Parrinha lembra que “não devemos ter medo destes animais mas sim respeitá-los e ao seu espaço, procurar aprender e conhecer as espécies que partilham o habitat conosco, e assim manter boas práticas e evitar acidentes”.

O “outro lado das serpentes”: “Independentemente do fascínio e curiosidade que estes animais podem despertar nas pessoas, a sua importância é incontestável. Um dos melhores exemplos da sua importância e utilidade para nós é o facto de boa parte da dieta das serpentes ser composta por roedores, outros animais pouco amados pela maioria das pessoas. Ao alimentarem-se de roedores (e outros pequenos vertebrados), as serpentes ajudam a controlar as populações destes animais, que muitas vezes podem ser pragas agrícolas ou domésticas, e assim contribuem para a manutenção da saúde dos ecossistemas.”

Se gostava de descobrir mais sobre as espécies de cobras de Portugal a Wilder tem uma ficha de campo sobre estes animais.

Morcegos:

Um dos grupos de animais mais icónicos da Noite das Bruxas é o dos morcegos. Por que não devemos ter medo destes animais? “Pessoalmente, acho que não devemos ter medo de nenhum animal, sejam eles “perigosos” ou não :)”, respondeu Vanessa Mata, investigadora no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que se dedica ao estudo dos morcegos. 

“Com isto não quero dizer que devemos pegar e mexer em todos os animais sem qualquer tipo de cuidado, mas simplesmente que ao conhecermos os animais e sabermos se, e em que condições, nos podem magoar, saberemos se, e como, podemos interagir com eles.” 

Morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus). Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

“Relativamente aos morcegos, que é o grupo com qual trabalho, não os considero ‘perigosos’, no sentido em que não vêm atrás de nós para nos atacar. Não, não são vampiros nem sugam sangue, e também não se agarram aos cabelos, a não ser que não tenham espaço para voar e se atrapalhem e fiquem presos. Diria até que são bastante fofinhos (risos), com um pêlo extremamente suave, embora com focinhos um pouco estranhos em relação ao que estamos habituados noutros mamíferos.”

No entanto, não nos podemos esquecer que são animais selvagens, salientou. “Tal como não fazemos festas ou agarramos num gato ou cão assilvestrado (de rua), pois estamos sujeitos a levar uma dentada ou uma arranhadela que pode infetar, também não devemos mexer num morcego sem qualquer tipo de proteção”. 

O “outro lado” dos morcegos: “os morcegos são, sem dúvida, animais fascinantes! Não só porque são o único mamífero com capacidade de voo, mas também porque têm hábitos noturnos e podem viver em grande número em ambientes ‘misteriosos’ como grutas, normalmente pendurados de cabeça para baixo, mas também porque têm uma grande diversidade de tamanhos, formas, comportamentos, estratégias de caça, e ciclos de vida bastante particulares. Esta diversidade, associada ao nosso desconhecimento generalizado de cada uma das espécies (já vamos em mais de 1,400 espécies descritas no mundo, >20% das espécies conhecidas de mamíferos), torna-os animais bastante interessantes de estudar! Quanto mais os estudamos, mais descobrimos o quão são importantes para os ecossistemas! Não só são excelentes predadores de insetos, muitos deles pragas agrícolas, contribuindo assim para o equilíbrio dos ecossistemas, mas também são importantes dispersores de sementes, promovendo a renovação florestal, e polinizadores de várias espécies de plantas, algumas de elevado interesse comercial, como a manga, banana, goiaba e agave (usada para fazer tequilha!).” 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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