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Graminhais. Foto: Joaquim Teodosio/SPEA

Restauro de turfeiras nos Açores é caso de estudo em projecto europeu

25.09.2024

Na semana do Dia Mundial dos Rios, que se celebrou a 22 de setembro, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) apresenta o projeto europeu do qual faz parte, o SpongeBoost, que está a melhorar ou restaurar a capacidade natural de retenção de água, através das turfeiras.

“A capacidade de retenção de água das turfeiras, enquanto reservatórios estratégicos de água, será cada vez mais relevante nos Açores, num contexto em que começamos a observar períodos de stress hídrico e seca no arquipélago e tendo em conta que a hidrografia de todas as ilhas não permite grande retenção de água, estando dependentes da pluviosidade”, disse, em comunicado, Rui Botelho, coordenador da SPEA Açores e do projecto SpongeBoost nos Açores.

O principal musgo que forma as turfeiras açorianas, o Sphagnum, é capaz de reter 20 vezes o seu peso em água, tornando estes habitats essenciais para a retenção de água doce em terra. Assim, as turfeiras atuam como esponjas naturais.

No inverno, quando caem as chuvas torrenciais, as turfeiras captam e armazenam milhares de litros de água, evitando que ela corra monte abaixo de enxurrada e cause derrocadas e inundações. Ao invés, essa água vai-se infiltrando no solo devagarinho, chegando aos lençóis de água e permitindo que as ribeiras tenham sempre água no verão.

Nos últimos 12 anos, a SPEA Açores tem vindo a restaurar as turfeiras e áreas circundantes, bem como as linhas de água que alimentam. Por exemplo, em São Miguel, a SPEA restaurou 75 hectares de turfeiras no Planalto dos Graminhais e diversas linhas de água da Serra da Tronqueira.

Estas áreas são agora caso de estudo no projeto SpongeBoost, para explorar a capacidade desta paisagem em reter água, através da criação de esponjas naturais, e o seu potencial para minimizar o impacto das cheias a jusante. O projeto irá ainda recuperar a cabeceira da Ribeira dos Caldeirões, para ajudar a manter a resiliência desta zona conhecida pelas suas quedas de água.

O projeto SpongeBoost – que decorre de Janeiro de 2024 a Dezembro de 2027 e é financiado pelo programa Horizon Europe – apresenta sete casos de estudo na Europa. Um deles é o da SPEA, de restauro de turfeiras no Planalto dos Graminhais em São Miguel, Açores.

O objectivo deste projecto europeu é “reforçar a função de esponja natural das zonas húmidas e dos solos na Europa”, em consonância com as políticas da UE em matéria de adaptação às alterações climáticas, explicou a SPEA.

Os trabalhos a realizar nos Açores, no âmbito deste projeto, terão a colaboração da E.RIO, – empresa especializada na execução de planos, projetos e intervenções de reabilitação fluvial. Esta empresa tem colaborado com mais de 100 municípios de Portugal Continental e Açores na reabilitação e valorização de mais de 1000 km de cursos de água, com aplicação de diferentes Soluções baseadas na Natureza e processos de participação pública. Já promoveu a plantação de cerca de 1 milhão de árvores e arbustos autóctones e fez sessões de formação e sensibilização ambiental para mais de 15 mil pessoas. 

“A reabilitação de turfeiras, rios e ribeiras é um investimento no futuro. É vital para promover a segurança e saúde das pessoas, travar a perda de biodiversidade e assegurar a adaptação às alterações climáticas. Ao tornar os rios mais saudáveis e resilientes, estamos a investir no bem-estar das pessoas e na qualidade de vida de todos”, comentou Pedro Teiga, CEO da E.RIO.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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