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Tiago Lopes: “os linces estiveram meses para se habituar à minha presença”

11.04.2016

Tiago Lopes, 32 anos e natural de Marinhais (Ribatejo), é tratador no CNRLI desde Setembro de 2014.

 

Quando soube que havia uma vaga aberta no centro, Tiago Lopes, biólogo marinho, decidiu candidatar-se. No currículo, um Zoo perto de Benidorm (Espanha), o Badoca Park e o Zoomarine.

 

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“A minha adaptação teve de ser feita em tempo recorde porque havia pessoas de férias e de baixa. Duas semanas depois de ter começado entrei logo nos cercados. O normal é entrar apenas um tratador. Mas nas primeiras vezes nunca vamos sozinhos. Nas primeiras três semanas ia sempre acompanhado.” Perante um novo tratador, os linces reagem com receio, estão desconfiados. “Os linces estiveram meses a habituar-se à minha presença. Por isso, estou cá para ficar. Os linces não iriam gostar se estivéssemos sempre a mudar.”

O que é preciso para ser tratador? “É preciso ter experiência com animais, ter a noção do que é o comportamento e a saúde do animal e estar habituado ao maneio, por exemplo quando é preciso tirar o animal de um sítio e pôr noutro.”

“No início, os linces parecem todos muito iguais e é complicado distingui-los. Para tornar a tarefa mais fácil temos um quadro na sala de video-vigilância onde estão as localizações de todos os animais. Com o tempo, começamos a distingui-los pelos comportamentos. Há uns muito confiantes, como a Fresa que costuma estar à porta a pedir o coelho. Já a Era não é nada confiante e foge de nós.”

“É muito importante mostrarmos aos linces que não queremos invadir o seu espaço. Uma das maneiras é rodeá-los e não andar de frente para eles, para não se sentirem ameaçados.”

A cooperação com os vídeo-vigilantes é crucial. “Eles são os nossos olhos, especialmente à noite quando entramos nos cercados. É que, apesar de levarmos um frontal, está tudo às escuras. Os animais são muito confiantes à noite.”

Do seu trabalho no centro recorda especialmente os partos da Biznaga, da Flora e da Artemisa. “Calharam todos no meu turno.”

 

[divider type=”thick”]Série Como nasce um lince-ibérico

Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março do ano passado e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Nesta série contamos-lhe como é o trabalho naquele centro e apresentamos-lhe as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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