Foto: Vítor Jesus Fonseca

Estas são 10 pequenas criaturas que pode encontrar no Parque das Serras do Porto

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Do gaiteiro-ocidental ao escaravelho-gálico e à lesma-do-gerês, descubra as sugestões de Sónia Ferreira, coordenadora dos conteúdos de um novo guia gratuito sobre os invertebrados desta paisagem protegida regional.

O Parque das Serras do Porto tem quase 6000 hectares, que se estendem pelos municípios de Gondomar, Paredes e Valongo, abarcando as serras de Santa Justa, Pias, Castiçal, Santa Iria, Flores e Banjas.

Sónia Ferreira é investigadora na associação Biopolis/CIBIO, da Universidade do Porto, e coordenadora dos conteúdos do livro “Os invertebrados do Parque das Serras do Porto”, lançado no final de Maio. Com a ajuda das imagens e dos textos deste novo guia, dá-nos a conhecer 10 de 117 espécies insectos, moluscos e outras pequenas criaturas que podemos encontrar nesta área protegida e noutras regiões do país.

1. Gaiteiro-ocidental (Calopteryx xanthostoma)

Foto: Hugo Amador

Dimensões: 4.5-4.8 cm

Quando: Pode ser observada de abril a setembro

Esta é uma espécie de libelinha com distribuição restrita à Península Ibérica, Sul de França e Norte de Itália. Os machos apresentam coloração azul no corpo e nas asas, enquanto as fêmeas são verdes metalizadas. Pode ser confundida com o gaiteiro-azul, no entanto, apenas metade das asas dos machos de gaiteiro-ocidental são sombreadas, enquanto que no gaiteiro-azul a quase totalidade da asa é azul. É observável especialmente em áreas de remanso de ribeiros e rios.

2. Mosca-abelha-de-abdómen-prateado (Exoprosopa jacchus)

Foto: Rui Andrade

Dimensões: 0,9-1,5 cm

Quando: Pode ser observada de maio a setembro

Esta é uma mosca de dimensões médias cujas asas apresentam um padrão escuro extenso interrompido por áreas hialinas, ou seja, transparentes como o vidro. O corpo está coberto de pilosidade castanha ou preta, e o abdómen apresenta bandas prateadas ou brancas. Os adultos são bons voadores e podem ser vistos com frequência sobre flores a alimentar-se de néctar. A biologia das larvas desta mosca é desconhecida, mas outras espécies do género Exoprosopa são parasitóides de uma grande diversidade de insetos, como gafanhotos e larvas de vespas solitárias. Algumas espécies são inclusivamente parasitóides de outros insetos parasitóides, como moscas da família Tachinidae. É uma espécie com distribuição Paleártica (região biogeográfica que engloba a Europa, o Norte de África e a Ásia a norte dos Himalaias).

3. Borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius)

Foto: Vítor Jesus Fonseca

Dimensões: 7,6-8,5 cm

Quando: Pode ser observada de janeiro a dezembro

Borboleta diurna de tamanho muito grande, esta é a maior borboleta diurna da Europa. As asas possuem um padrão complexo inconfundível, com tonalidades quentes e contrastantes. Incluem um zebrado em fundo vermelho escuro, bandas laranjas e brancas e pontos azuis. Esta borboleta ocorre principalmente em zonas de mato com presença da sua planta-hospedeira, o medronheiro (Arbutus unedo). É comum ver o adulto a libar fluídos açucarados de fruta em decomposição. As lagartas da espécie alimentam-se de medronheiro e possuem cabeças com quatro protuberâncias alongadas na margem posterior e ainda dois ocelos – manchas arredondadas que parecem pequenos olhos – no dorso do corpo. Ocorre na Europa meridional e em África.

4. Vespa-bugalheira-prateada (Andricus quercustozae)

Dimensões: 0,4-0,45 cm

Quando: Pode ser observada de janeiro a dezembro

Esta é uma vespa de pequenas dimensões e constituição robusta, de coloração variável, mas predominantemente castanha-alaranjada ou amarela-alaranjada. É parasita obrigatória de espécies de carvalhos (Quercus spp.), induzindo o crescimento de galhas no interior das quais as larvas se desenvolvem. As galhas (conhecidas como bugalhos) formam-se nas gemas dos ramos e têm uma forma esférica e dimensões variáveis, desde 1,5 a 4,5 centímetros de diâmetro. No terço apical destas galhas, ou seja, a parte mais próxima do topo, está presente uma coroa de protuberâncias pontiagudas, e no ápice (extremidade superior) aparece geralmente outra protuberância central. As galhas da vespa-bugalheira-prateada desenvolvem-se no verão e outono, e os adultos emergem na primavera seguinte. Nativa no Paleártico Ocidental (Europa, Norte de África e parte da Península Arábica).

5. Percevejo-de-escudo (Coreus marginatus)

Foto: Francisco Gil

Dimensões: 1-1,6 cm

Quando: Pode ser observada de janeiro a dezembro

Este é um percevejo relativamente grande, de cor castanha-alaranjada com pontos negros. O tórax tem lados pontiagudos, enquanto que o abdómen é largo e oval. É uma espécie polífaga, pois ingere uma grande variedade de substâncias, e por isso pode ser observado sobre um número diverso de plantas. Entre as mais habituais estão aquelas que pertencem à família das poligonáceas – como as dos géneros Polygonum e Rumex – e as asteráceas, incluindo as plantas do género Sonchus e vários cardos (género Carduus), entre outras. As fêmeas deste percevejo depositam os ovos no fim da primavera e início do verão, e as ninfas emergem três ou quatro semanas depois, passado o inverno na fase adulta. Trata-se de uma espécie cuja área de distribuição se estende pelo Paleártico Ocidental.

6. Escaravelho-gálico (Trichius gallicus)

Foto: Pedro Andrade

Dimensões: 0,9-1,5 cm

Quando: Pode ser observada de abril a junho

Membro da ordem dos coleópteros, à qual pertencem todos os escaravelhos, esta espécie tem um aspeto chamativo: os seus élitros, ou seja, as asas anteriores, apresentam uma cor amarelada e de brilho ceroso, com três bandas transversais negras. Os adultos do escaravelho-gaélico podem ser observados geralmente em habitats abertos como clareiras de florestas ou pradarias, principalmente sobre flores de rosáceas e umbelíferas, tais como roseiras-bravas (género Rosa), cenoura-brava (Daucus carota) ou branca-ursina (Heracleum sphondylium). As larvas desenvolvem-se em madeira em decomposição de várias espécies de árvores. Espécie com distribuição europeia e norte-africana.

7. Cesteira-vespão (Argiope bruennichi)

Foto: João Fernandes

Dimensões: 0,7-2,2 cm

Quando: Pode ser observada de maio a dezembro

O abdómen das fêmeas desta aranha apresenta uma série de listras pretas e amarelas transversais, que inspiram o seu nome comum, enquanto que as patas possuem vários anéis negros num fundo acastanhado. Já os machos são significativamente menores e de cor castanha-acinzentada, passando facilmente despercebidos. A teia da cesteira-vespão tem a forma de uma espiral e é construída na vegetação herbácea ou arbustiva, possuindo uma estrutura central em ziguezague, bem visível. Esta ranha preda uma grande diversidade de invertebrados, tais como gafanhotos, moscas, vespas e libélulas. Durante o Verão, a fêmea deposita os ovos numa ooteca (bolsa fabricada pela aranha) muito característica, que tem a forma de uma cesta, e as ninfas emergem na primavera seguinte. É uma espécie com distribuição Paleártica.

8. Opilião-robusto | Ischyropsalis robusta 

Foto: João Nunes

Dimensões: 0,6 cm

Quando: Pode ser observada de janeiro a dezembro

Os opiliões pertencem à classe das aranhas. Esta espécie apresenta um corpo grande e de aspeto compacto, com um dorso rugoso e de cor escura, e um tubérculo ocular, onde se localizam os olhos, muito desenvolvido. As patas são relativamente curtas e de cor amarela na base, com segmentos escuros. As quelíceras deste opilião – como é conhecido o primeiro dos quatro pares de patas das aranhas – são enormes comparativamente ao corpo, muito alongadas e robustas, exibindo uma coloração preta brilhante e um segmento basal armado de espinhos fortes. Esta espécie pode ser encontrada em carvalhais, mas pouco se sabe sobre a sua distribuição e ecologia. Outras espécies aparentadas alimentam-se de caracóis, cujas conchas são abertas com as poderosas quelíceras. É conhecida apenas de Portugal.

9. Lesma-do-Gerês (Geomalacus maculosus)

Foto: Sónia Ferreira

Dimensões: 7-8 cm

Quando: Pode ser observada de janeiro a dezembro

A lesma-do-Gerês é uma espécie de tamanho médio com requisitos ecológicos específicos, ocorrendo principalmente em áreas de bosques maduros de caducifólias, onde pode ser localmente abundante. Tem atividade essencialmente noturna e alimenta-se de musgos e líquenes. O padrão de coloração é bastante mimético do tipo de substrato onde geralmente é encontrada, pelo que confunde-se facilmente com o ambiente que a rodeia. A sua distribuição mundial está restrita à Irlanda e ao Noroeste da Península Ibérica. No Parque das Serras do Porto foi registada pela primeira vez em 2021. Trata-se de uma espécie inscrita nos anexos II e IV da Directiva Habitats

10. Sanguessuga-pequena-europeia (Helobdella europaea)

Foto: Andriy Utevsky

Dimensões: 1-2,5 cm

Quando: Pode ser observada de janeiro a dezembro

Apesar do seu nome, a sanguessuga-pequena-europeia é uma espécie exótica com origem na América do Norte. A sua presença na Península Ibérica era já conhecida de Espanha. Curiosamente não parece alimentar-se de sangue, sendo predadora de outros invertebrados. Caracteriza-se pela presença de um pequeno escudo quitinoso na face dorsal e por possuir uma probóscide (apêndice alongado localizado na cabeça) que é saliente, podendo a sua coloração ser bastante variável. Na área do Parque das Serras do Porto foi possível encontrar exemplares no rio Ferreira em 2019, cuja identificação foi confirmada por códigos de barras de ADN. Saiba mais aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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