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Zona húmida do Mar de Campos, em Palencia. Foto: Ingolll/Wiki Commons

Espanha lança plano estratégico para conservar e recuperar as zonas húmidas do país

03.02.2022

O novo plano foi anunciado pela ministra para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico, Teresa Ribera, e deverá estar concluído até 2030.

“Há zonas húmidas espanholas extremamente ameaçadas. Urge tomar medidas ambiciosas para assegurar a sua protecção”, declarou esta quarta-feira Teresa Ribera, no dia internacional dedicado a estes ecossistemas.

O novo Plano Estratégico de Zonas Húmidas 2022-2030 destina-se a “impulsionar a salvaguarda e recuperação e a reverter a degradação das zonas húmidas de Espanha”, indica em comunicado o gabinete da ministra, classificando estas áreas como “espaços chave pelo seu papel como protectores da biodiversidade e mitigares dos efeitos das alterações climáticas”.

Segundo a governante, que apresentou as linhas gerais do novo documento numa cerimónia pública, “as zonas húmidas são especialmente valiosas num país tão árido como Espanha, no qual as cerca de 2.000 zonas húmidas existentes albergam uma biodiversidade extraordinária e cumprem serviços de ecossistema muito importantes”.

Os dados do Inventário Espanhol de Zonas Húmidas apontam para que cerca de metade (48,8%) das zonas húmidas em Espanha estejam alteradas ou muito alteradas, enquanto que as restantes estão conservadas ou bem conservadas. Calcula-se que desde o início do século XX desapareceu pelo menos 60% da superfície húmida original do país, sendo que hoje “há zonas húmidas espanholas extremamente ameaçadas” e que necessitam de “medidas urgentes”, assinalou a ministra.

“Encontramos-nos num momento crucial”

Espanha incluiu numa das componentes do Plano de Recuperação, Transformação e Resiliência uma verba destinada à conservação e restauro das zonas húmidas. Desse dinheiro foram transferidos 120 milhões de euros no ano passado, para as diferentes comunidades autónomas, para serem aplicados em projectos ligados à melhoria do conhecimento e à recuperação destes ecossistemas.

“Encontramos-nos num momento crucial, em que se juntam o enfoque numa nova estrutura de relacionamento entre os humanos e a natureza e a criação de numerosos estímulos económicos destinados à sua preservação e ao seu restauro”, salientou também a governante.

O novo documento estabelece vários objectivos para os próximos anos, incluindo a melhoria do conhecimento sobre as zonas húmidas espanholas, de modo a que todas passem a estar incluídas no respectivo inventário, incluindo o respectivo estado de conservação no caso das zonas protegidas.

Outra meta é conseguir que nenhuma zona húmida protegida tenha piorado a sua situação até 20309 e que pelo menos metade obtenham melhorias nesse período, o que irá depender da aplicação de novas medidas de conservação de espécies e habitats.

Estratégias para espécies exóticas invasoras

Para já, uma das prioridades vai ser reverter a degradação de algumas áreas consideradas mais importantes, como a laguna de La Janda, em Cádiz (Andaluzia), a laguna de Antela, em Ourense (Galiza) e também o chamado Mar de Campos, uma antiga laguna situada em Palencia (Castela e Leão) convertida em campos agrícolas, que nos últimos anos foi objecto de planos de recuperação.

A ideia é avançar com a recuperação de pelos menos 20.000 hectares de zonas húmidas, incluindo aquelas que se tenham perdido num passado recente. Para isso, está prevista a aprovação, até 2025, de estratégias de gestão e controlo das espécies exóticas que afectam as zonas húmidas do país.

O novo plano foi esta semana entregue ao Comité Espanhol de Zonas Húmidas, um órgão colegial e consultivo de cooperação no qual estão representadas as comunidades autónomas, que vai analisar o documento e juntar os seus contributos. A aprovação do documento final está prevista para os próximos meses.


Saiba mais.

Em Portugal, 77% dos habitats de zonas húmidas estão ameaçados, alertou esta semana a associação Zero.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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