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Investigadores de morcegos, peixes-lua e usos do solo ganham prémio de Ecologia

12.10.2021

Vanessa Mata, Miguel Baptista e Tiago Morais foram os galardoados com o Prémio de Doutoramento em Ecologia 2021 – Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia, foi recentemente revelado.

No seu quinto ano, estes prémios pretendem “valorizar o trabalho desenvolvido por recém-doutorados ao longo do seu programa doutoral” na área da Ecologia, explicam os organizadores.

O primeiro prémio foi para a utilização de uma ferramenta molecular, baseada no código de barras de DNA, para identificar espécies de morcegos úteis no controlo de pragas florestais.

Esta ferramenta foi desenvolvida por Vanessa Mata, investigadora no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

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Vanessa Mata. Foto: D.R.

Trata-se de uma ferramenta de metabarcoding no estudo das interacções entre espécies. O metabarcoding funciona como um código de barras de DNA (ou RNA) que permite a identificação simultânea de muitas espécies dentro da mesma amostra”, segundo um comunicado da SPECO.

A vantagem de usar uma ferramenta do tipo metabarcoding é usar DNA (ou RNA) de vários organismos diferentes provenientes de uma amostra global. Com a utilização desta ferramenta molecular, Vanessa Mata conseguiu detectar variações subtis, intra- e inter-específicas, na dieta de morcegos, o que lhe permitiu a descrição da primeira rede de interacções predador-presa entre morcegos e pragas agroflorestais.

“A utilização desta ferramenta científica tem elevada relevância do ponto de vista aplicado ao permitir identificar espécies de morcegos cuja presença pode ser favorecida para intensificar o controlo de pragas. Do ponto de vista da biodiversidade, chama a atenção para a importância de conservar comunidades diversas de vertebrados em paisagens multifuncionais.”

O segundo prémio foi para Miguel Baptista investigador no MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, pelo seu trabalho que desvendou as características de um predador de topo da cadeia alimentar, o peixe lua (Mola mola), espécie icónica que contribui para o equilíbrio do ecossistema oceânico, já que funciona como regulador de organismos gelatinosos.   

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Miguel Baptista. Foto: D.R.

Miguel Baptista estudou o peixe-lua e delineou medidas de conservação mais objectivas e necessárias, tendo em vista o declínio generalizado desse peixe. “Por falta de interesse académico, é escassa a informação credível sobre a biologia e ecologia desta espécie, pelo que este trabalho veio preencher uma lacuna no que se refere à utilização espacial, crescimento e composição”, segundo o mesmo comunicado.

O peixe-lua é um peixe predador de grande porte ameaçado e classificado como Vulnerável, de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) uma vez que se estima um declínio global de 10% por década.

Este trabalho permitiu mostrar que a temperatura da superfície do mar e a concentração de clorofila a (como “proxy” para a produtividade), são factores ambientais que predizem o seu espaço de utilização. Comparando populações das águas do Atlântico Norte com outras do Pacífico Norte verificou-se que há diferenças em termos de relação peso/comprimento e que a sua composição elementar varia consoante a estação do ano e o tipo de músculo em observação.

Em terceiro lugar ficou Tiago Morais, investigador no MARETEC (Centro de Investigação Marinha, Ambiente e Tecnologia) do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, com o seu trabalho de modelação ambiental quantitativa para avaliar processos físicos e biológicos que influenciam os serviços de ecossistema de diferentes usos de solo agrícola.

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Tiago Morais. Foto: D.R.

Tiago Morais, engenheiro do ambiente, produziu modelos que utilizam dados de deteção remota e tratamentos estatísticos para melhorar a caracterização de sistemas de pastagens, nomeadamente ligadas ao ciclo do carbono e do azoto. A nível global, aplicou um modelo análogo à produção mundial de alimentos para avaliar as emissões de gases com efeito de estufa tendo em conta as múltiplas dietas e sistemas de produção. Utilizou ainda o carbono orgânico no solo como indicador de biodiversidade e dos serviços de ecossistema. “Os estudos elaborados demonstram como a modelação ambiental quantitativa pode ser utilizada e melhorada para a caracterização ecológica de diferentes usos do solo.”

Os três primeiros classificados irão receber o prémio e apresentar o seu trabalho no 20º Encontro Nacional de Ecologia que, este ano, irá decorrer de 2 a 4 de Dezembro na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo. Os prémios – no valor de 3.000, 2.000 e 1.000 euros – são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de 2 anos com quotas pagas.

Nesta edição, o júri recebeu 20 candidaturas de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Aveiro, Coimbra, Évora, Lisboa, Nova de Lisboa, Porto e Trás-os Montes e Alto Douro.

O júri dos prémios foi constituído por Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO, Ricardo Melo (professor auxiliar da Universidade de Lisboa e coordenador do pólo de Lisboa do MARE – Centro de Ciências Marinhas e Ambientais), Margarida Reis (professora associada com agregação da Universidade de Lisboa e investigadora do cE3c), Helena Freitas (professora catedrática da Universidade de Coimbra e coordenadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra), Myriam Lopes (professora auxiliar da Universidade de Aveiro e vice-coordenadora do CESAM – Centro de Estudos Ambientais e Marinhos da Universidade de Aveiro), Joaquin Hortal (investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales de Madrid) e João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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