Marta Monteiro, 24 anos, é bióloga e reside na Figueira da Foz. Começou há três anos a participar em censos de aves e confessa que já pegou o “bichinho” destes animais a todas as pessoas que lhe são próximas.
WILDER: O que faz enquanto voluntária?
Marta Monteiro: Enquanto voluntária pela natureza, participo todos os anos no CANAN-Contagem de Aves no Natal e Ano Novo, que consiste na contagem de aves não passeriformes durante este período, ao longo de um determinado percurso escolhido pelo voluntário. A ideia é realizar o mesmo percurso todos os anos, de forma a analisar possíveis diferenças nas populações de um ano para o outro.
Este ano tambem estou a participar no Censo para o 3° Atlas de Aves Nidificantes em Portugal.
Para além, disso coloco regularmente as minhas observações no eBird, onde os dados podem ser utilizados para estudos.
WILDER: Há quanto tempo é voluntária pela natureza e o que a levou a começar a participar?
Marta Monteiro: As primeiras ações de voluntariado pela natureza que fiz foram maioritariamente limpeza de praias e ações de reflorestação.
Especificamente quanto aos censos de aves, o primeiro que fiz foi há três anos, o CANAN. Foi pouco depois de me começar a interessar pelas aves. Descobri o site da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e queria saber como poderia contribuir para ajudar as aves. Vi que havia uma ação para iniciantes e quis logo participar. Sempre gostei de estar no meio da natureza e queria dar o meu contributo para a valorizar.
WILDER: Quais são os maiores desafios dos censo de aves em que participa?
Marta Monteiro: No início, um dos maiores desafios foi saber identificar as espécies. No primeiro CANAN que fiz ainda não conseguia distinguir bem as gralhas pretas dos corvos e as limícolas pareciam todas iguais. Agora já me sinto muito mais à vontade na identificação e, em caso de dúvida, existem sempre outras pessoas mais experientes a quem podemos perguntar, caso consigamos tirar uma foto à espécie em questão.
Outro desafio passa por fazer uma contagem que seja suficientemente rigorosa. Muitas vezes os bandos são grandes e em movimento e temos que fazer estimativas dos indivíduos por bando.
Outro grande desafio: acautelar para não contar a mesma ave duas vezes, porque elas estão em constante movimento e vão passando de um lado para o outro.
WILDER: Quando começou o seu interesse pelas aves?
Marta Monteiro: O meu contacto com a natureza começou desde cedo. Cresci numa aldeia perto da Figueira da Foz e uma das minhas atividades favoritas era caminhar por zonas florestais e observar os animais e plantas que encontrava. Inclusive procurava pegadas, fezes, bolotas picadas, pinhas roídas, na tentativa de identificar os animais que por ali andavam.
No entanto, o meu interesse pelas aves só começou há cerca de quatro anos, num episódio em concreto: estava a observar os voos incríveis daquelas que achava serem andorinhas e reparei que não tinham o ventre branco e pareciam maiores. Fiquei a pensar naquilo e em casa fui pesquisar. Descobri que eram andorinhões. Não fazia ideia de que tal existia e ainda fiquei a saber que existiam 5 espécies de andorinhas em Portugal. Foi aí que tudo mudou e comecei a perceber que não era tudo pardais, pombas, andorinhas e gaivotas. Comecei a olhar para as aves com mais atenção e percebi que existiam muitas espécies diferentes mesmo ali à minha volta.
WILDER: Porque considera as aves tão especiais?
Marta Monteiro: Acho as aves incríveis. Os seus voos, cores e comportamentos. A questão das migrações é fascinante e penso que há ainda muito a estudar a esse respeito.
Adoro sentar-me a ouvir e a ver as aves à minha volta. O que acho ainda mais incrível é quando vou passando num determinado local com regularidade e vou acompanhado um determinado indivíduo ou casal de aves que ali habita e seguir aquele momento da vida deles, evitando interferir obviamente! E ver que muitas aves que acompanho e que migram voltam para o mesmo sítio ano após ano.
WILDER: Como aprendeu a identificar estas espécies?
Marta Monteiro: No início aprendi a identificar as espécies através do site Aves de Portugal. Ficava a explorar o site e via onde determinada espécie aparecia. Ou se observava uma ave na rua depois vinha comparar no site com o que achava. A página do Facebook Aves de Portugal Continental também foi uma grande ajuda.
WILDER: O que tem aprendido e o que tem ganhado com esta experiência de voluntariado?
Marta Monteiro: Só o facto de estar em contacto com a natureza e com as aves já é um dia ganho para mim. E saber que o posso fazer dando o meu contributo para a valorizar e preservar ainda melhor! Também tenho percebido que há muita gente com o mesmo interesse e isso deixa-me contente, saber que mais pessoas se interessam e esforçam para preservar o meio natural.
WILDER: Costuma participar nos censos sozinha, acompanhada ou em grupo?
Marta Monteiro: Já peguei “o bichinho das aves” a toda a gente que me é próxima. O CANAN já é tradição realizar sempre com a minha mãe. Outros censos e observações, ora faço sozinha, ora com família ou amigos. Por vezes até já tenho amigos a enviar-me vídeos e fotos de aves e a pedir ajuda na identificação da espécie.
Saiba mais.
Descubra mais sobre o CANAN, um dos censos em que Marta Monteiro participa, e também sobre outras contagens realizadas pela SPEA, aqui.
Conte as Aves que Contam Consigo
A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.
A secção “Seja um Naturalista” é patrocinada pelo Festival Birdwatching Sagres. Saiba mais aqui o que pode ver e fazer neste evento dedicado às aves.