O poejo (Mentha pulegium) é uma das espécies mais conhecidas do género Mentha. De aroma intenso, esta planta aromática encontra-se agora em flor, e pode ser vista em locais húmidos e junto a cursos de água.
O género Mentha, a que pertence o poejo, é uma das designações botânicas mais antigas e ainda em uso. É um género de plantas da família Lamiaceae.
São 24 as espécies do género Mentha, aceites e descritas, com uma distribuição cosmopolita, presentes em todos os continentes. Dessas, cinco são espécies nativas em Portugal Continental, das quais duas também surgem de forma espontânea nas Ilhas dos Açores e três no Arquipélago da Madeira.
As plantas deste género são aromáticas, perenes, raramente anuais, de porte herbáceo ou arbustivo. Na generalidade, estas plantas são utilizadas desde a antiguidade para fins medicinais, aromáticos e condimentares.
O poejo é uma planta herbácea, rizomatosa, robusta e perene, que pode crescer até cerca de 40 cm de altura. É composta por talos quadrangulares, muito ramificados, prostrados, ascendentes ou eretos, consoante as condições de desenvolvimento em que se encontra.
As folhas são aromáticas, ligeiramente pubescentes e verdes, algumas mais claras e outras mais escuras, pontilhadas de glândulas translúcidas. Apresentam uma forma que varia entre oval a elíptico, pecíolo curto e margem levemente serrilhada ou quase inteira.
As flores surgem no final da primavera e durante todo o verão. São muito pequenas e surgem agrupadas em inflorescências globosas e densas, nas axilas das folhas, em verticilos compactos e afastados entre si. O cálice é tubular, de cor púrpura e pubescente, e as sépalas possuem forma triangular. As pétalas exibem um tom rosado a lilás.
O fruto é uma pequena núcula, de forma elíptica e de cor castanho claro ou amarelado.
O nome científico do poejo tem uma história mítica associada. O termo genérico Mentha deriva do latim Menta e do grego Minthe, uma ninfa transformada em planta por Perséfone (Deusa das ervas, das flores, dos frutos e dos perfumes), que a obrigou a viver em lugares húmidos e sombrios. A designação pulegium deriva da palavra latina pulex, que significa “pulga”, devido a, no passado, esta planta ter sido muito utilizada, no interior das casas, para repelir estes insectos.
Aromática e Medicinal
O poejo é uma espécie nativa da Macaronésia, Mediterrâneo, Europa e Ásia Ocidental.
Em Portugal surge de forma espontânea em todo o território nacional, incluindo nas regiões autónomas.
Ecologicamente, o poejo tem preferência por locais luminosos, com boa exposição solar, solos ácidos e húmidos, mesmo que periodicamente alagados. É frequentemente encontrado nas margens e leitos secos de linhas de água temporárias ou permanentes, em áreas de pastagem ou prado, em barrancos e noutros locais temporariamente inundados. É uma espécie não tolerante a temperaturas muito baixas.
Esta planta aromática é bastante conhecida pelas suas propriedades medicinais. Toda a planta, em especial as flores e o óleo essencial, possuem propriedades antisséptica, cicatrizante, colagoga, espasmolítica, desintoxicante, calmante e estimulante.
As infusões, preparadas com as partes aéreas desta planta, são utilizadas em medicina tradicional para aliviar sintomas de gripes, resfriados, tosse, febre, insónias, dores reumáticas, acidez do estômago, enjoo, bronquite, asma e cólicas menstruais. Também estimula o apetite, reduz os sintomas de azia e melhora a digestão.
Externamente, essas infusões podem ser usadas em cataplasmas, no tratamento de doenças de pele, erupções cutâneas e para aliviar sintomas da gota.
Do campo para a cozinha
Esta erva aromática faz parte da cozinha tradicional alentejana. Quem nunca ouviu falar da açorda de poejos, por exemplo? As flores são comestíveis e servem de aromatizante e para temperar pratos de carne, peixe, açorda, saladas e também no fabrico de licores e pratos doces, como pudins, tortas, compotas e na salada de fruta.
Apesar das diversas propriedades medicinais e interesse culinário, é necessário algum cuidado no uso desta planta, pois doses elevadas ou em períodos longos podem originar vómitos e outros problemas mais graves, ao nível do fígado, devido à presença de hepatotoxinas. Nos cozinhados, por exemplo, deve ser usado de forma moderada e evitado completamente pelas grávidas, uma vez que pode provocar aborto.
O poejo também não deve ser utilizado por pessoas com sensibilidade gastrointestinal ou com doenças neurológicas e está contraindicado no período de aleitação, e por crianças com idade inferior a 12 anos.
Além disso, diz-se que o óleo essencial de poejo é um excelente repelente natural, usado para afastar pulgas, formigas e traças, devido ao odor forte que liberta. Também tem revelado demonstrar ser um bom pesticida natural, no controlo e crescimento de fungos, bactérias e outros parasitas das plantas.
As folhas desta planta também são usadas para fazer sabão, para limpar tecidos.
O poejo é uma erva muito versátil. É também importante no controlo da erosão, junto dos cursos de água, é um excelente habitat animal e atrai inúmeros insetos polinizadores. A fragrância das suas folhas e a floração efusiva que surge no verão, torna-a uma excelente escolha ornamental, para cultivar junto a lagos, tanques e outros espelhos de águas, em vasos e em canteiros.
E se gostou de conhecer um pouco mais sobre esta espécie nativa, agora só falta explorar a natureza e descobrir a beleza e aroma refrescante que possui.
Dicionário informal do mundo vegetal:
Rizomatosa – planta cujo caule é subterrâneo (rizoma).
Rizoma – Caule subterrâneo, que cresce geralmente na horizontal, com aspeto de raiz, composto de escamas e gemas, como se de um caule aéreo se tratasse.
Prostrado – ramo estendido sobre o solo.
Ascendente – ramo que se desenvolve na posição horizontal ou quase, mas que tende a verticalizar.
Pubescente – que tem pelos finos e densos.
Elíptica – folha com forma que lembra uma elipse, mais larga no meio e com o comprimento duas vezes a largura.
Tubular – cálice que possui um tubo muito alongado.
Núcula – fruto seco, indeiscente do tipo esquizocarpo, semelhante a uma pequena noz.
Esquizocarpo – fruto seco que na maturação se divide em frutos parciais.
Todas as semanas, Carine Azevedo dá-lhe a conhecer uma nova planta para descobrir em Portugal. Encontre aqui os outros artigos desta autora.
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
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