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Que espécie é esta: aranha-lobo Hogna insularum

29.01.2021

O leitor Bruno Sérgio fotografou esta aranha a 22 de Janeiro na Ponta de São Lourenço, Madeira, e quis saber qual a espécie. Luís Crespo responde.

“Durante uma caminhada na Ponta de São Lourenço, às 17h00 observámos a aranha que enviamos foto em anexo, com 8 a 10 centímetros. Podem ajudar?”, escreveu Bruno Sérgio à Wilder.

Trata-se de uma aranha-lobo Hogna insularum.

Espécie identificada e texto por: Luís Crespo, investigador da Universidade de Barcelona.

De facto, um dos temas do meu doutoramento é o estudo do género Hogna no arquipélago da Madeira.

Podem contabilizar-se sete espécies espalhadas por diferentes ilhas.

Da Ponta de São Lourenço conhece-se uma população da espécie Hogna insularum, que também está presente nas outras ilhas do arquipélago, não sendo, portanto, exclusiva da ilha da Madeira.

A sua fotografia corresponde na perfeição ao aspecto da referida espécie, pelo que não tenho reservas em identificar a sua fotografia ao nível de espécie.

O tamanho indicado parece-me corresponder ao tamanho contando a envergadura de patas.

Eu medi vários exemplares dessa espécie na lupa binocular para os meus estudos e o tamanho de corpo deverá estar compreendido entre 1 e 2 cm de comprimento. Para nós aracnólogos a envergadura de patas é uma medida que não é habitualmente considerada, sendo considerado tamanho de corpo a distância da zona anterior do cefalotórax (vulgo cabeça) até à zona posterior do abdomen.

Esta espécie habita as zonas costeiras da costa Sudeste da ilha da Madeira, a ilha de Porto Santo e respectivos ilhéus, e também as ilhas Desertas, sendo portanto a Hogna mais comum em todo o arquipélago.

Está habitualmente refugiada durante o dia sob pedras, saindo à noite para caçar outros invertebrados.

O número de potenciais refúgios para a H. insularum na Ponta de São Lourenço tem vindo a diminuir devido a um comportamento ridículo da espécie humana na Ponta de São Lourenço, o de empilhar pedras.

Da última vez que me desloquei à Madeira para encontrar materiais desta espécie (2017) tive a busca mais difícil por uma espécie normalmente fácil de ser encontrada devido a isto.

No decorrer dos nossos trabalhos, a H. insularum revelou-se como uma espécie problemática, pois aparenta ter alguns caracteres (morfológicos e genéticos) tão variáveis que nos tornam difíceis a delimitação da espécie, quando comparada com outra espécie próxima.

Os nossos trabalhos visam perceber o que se passa na biologia evolutiva deste grupo de aranhas endémicas emblemáticas do arquipélago da Madeira.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.


Já que está aqui…

Apoie o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.

Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.

Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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