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Que espécie é esta: rela-comum

12.12.2019

O leitor Alcides Simão fotografou duas relas a 5 de Dezembro em Reveles (Montemor-o-Velho) e pediu para saber a que espécie pertence. Rui Rebelo responde.

“As chuvas trazem surpresas e, neste caso, trouxe de volta uma espécie algo desaparecida da área por causa da seca! Conhecida na zona por rela, este exemplar – que acredito ser da espécie da rela-comum (Hyla arborea) muito comum”, escreveu o leitor à Wilder.

“As pessoas de gerações mais antigas contavam histórias interessantes sobre este bichinho, nomeadamente que excreta um jacto de urina capaz de causar cegueira num ser humano.”

Era, “portanto, um animal rico em histórias do imaginário colectivo, promovendo um temor tal que os bichinhos eram frequentemente mortos pelos trabalhadores rurais”.

“Curiosamente, as fotos referem-se a dois exemplares tirados na mesma altura, e a poucos metros de distância, no meu quintal: um numa estrelícia e outro numa nespereira.”

“Dado o volume de insectos nas flores da nespereira nesta altura, fiquei na dúvida se estaria ali estrategicamente à espera de uma refeição ou se estaria a aproveitar o sol da tarde.”

“Toda a informação sobre este bichinho – em especial, sobre a veracidade ou não das histórias populares – seria muito bem vinda!”

Tratam, de facto, de duas relas-comuns (Hyla molleri)

Espécie identificada e texto por: Rui Rebelo, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

“Sim, trata-se de dois exemplares da rela-comum, que agora se passou a chamar Hyla molleri. A mudança de nome acontece porque se descobriu que as populações da Península Ibérica são diferentes das da Europa Central, e por isso a antiga subespécie ibérica foi promovida a espécie”, explicou Rui Rebelo.

“Estes animais são bem pacíficos, mas quando apertados podem mesmo urinar-se… Só que nunca em jacto, nem nunca direcionado para os olhos do atacante.”

“Em todo o caso, têm uma secreção que lhes lubrifica a pele (e contribui para o aspecto luzidio). Essa secreção é tóxica para algum animal que as tente comer (provoca o vómito). Se essa secreção entrar em contacto com feridas ou com mucoses, pode provocar ardor mais ou menos intenso.”

“E deve evitar-se esfregar os olhos depois de ter um destes animais nas mãos, porque a secreção é irritante. Depois de apanhar e soltar um destes animais, basta lavar as mãos com água que a secreção sai e não há mais problema.”

“Esta espécie torna-se mais activa e visível na Primavera, que é quando se reproduz. Assim, estas observações em Dezembro são pouco habituais e podem indicar que o mês de Dezembro está mais quente que o normal, com dias que podem parecer os de início da Primavera.”


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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