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Portugal e Espanha unem-se para travar espécies aquáticas invasoras

O projecto LIFE Invasaqua, lançado esta sexta-feira em Lisboa, quer ser uma ferramenta ibérica para combater espécies exóticas nos rios e estuários, como o caranguejo-peludo-chinês, o lagostim-vermelho-do-Lousiana e o jacinto-de-água.

Este novo projecto, apoiado por fundos comunitários do Programa Life, vai investir cerca de três milhões de euros entre Novembro de 2018 e Outubro de 2023. O financiamento vai ser usado em acções de comunicação e sensibilização ambiental junto da sociedade, mas também no diagnóstico da situação actual.

Os rios e estuários de Portugal e Espanha estão a transformar-se rapidamente. E não para melhor.

Há hoje 158 espécies de animais e 32 espécies de plantas e macro-algas exóticas invasoras na Península Ibérica.

Estas espécies causam “graves perdas de biodiversidade, que podem levar à extinção de espécies autóctones”, segundo os responsáveis do projecto.

“Além dos riscos para o ambiente, há também efeitos económicos gravíssimos em Portugal”, disse Pedro Anastácio, investigador da Universidade de Évora e do centro de investigação MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, durante a apresentação pública do projecto esta manhã na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

A nível da União Europeia, estima-se que o custo anual das espécies invasoras ultrapasse os 12.000 milhões de euros por ano.

Os peixes, crustáceos, outros invertebrados e os moluscos são os principais grupos de espécies exóticas invasoras de água doce, segundo os especialistas.

O caranguejo-peludo-chinês, uma espécie asiática, corta as redes de pesca e come peixe das redes. O lagostim-vermelho-do-Lousiana é uma praga nos arrozais, enquanto a amêijoa-asiática danifica gravemente os sistemas de bombagem de água. Quanto ao peixe siluro – “um peixe gigante”, referiu Pedro Anastácio – “come tudo o que mexe nos rios, até mesmo os pombos que vão beber água nas margens”.

As macro-algas, plantas como o jacinto de água, anfíbios, répteis e mamíferos, aves e diatomáceas estão também na lista de preocupações do “Life Invasaqua – Espécies exóticas invasoras de água doce e sistemas estuarinos: sensibilização e prevenção na Península Ibérica”.

Para já, sabe-se que todas estas espécies chegam principalmente da Europa e da América do Norte, agarradas a barcos e a outros meios de transporte, ou que são introduzidas para a pesca desportiva ou como ornamentais. Em algumas lojas de aquarofilia em Portugal, por exemplo, já foram vistas à venda espécies invasoras proibidas, como é o caso do lagostim-mármore.

Medidas de combate

O Life Invasaqua vai criar listas de espécies invasoras prioritárias, concretamente as que já estão em Portugal e Espanha e que terão maior impacto, e avaliar o risco das que poderão chegar ao território ibérico.

A Portugal, por exemplo, sabe-se que chegam, em média, três novas espécies aquáticas invasoras por ano. Os “impactos são imprevisíveis”, alertou hoje Filipe Ribeiro, representante nacional da SIBIC – Sociedade Ibérica de Ictiologia e investigador do MARE.

“Algumas espécies extremamente complicadas e que não estão na lista europeia têm um risco elevadíssimo de entrada em Portugal”, referiu por seu turno Pedro Anastácio. Este é o caso do mexilhão-zebra e do caracol-maçã. O primeiro já está a 130 quilómetros da fronteira com Portugal e o segundo na bacia hidrográfica do rio Ebro. “A questão não é se vão chegar, mas sim quando é que vão chegar”, sublinhou o investigador.

Segundo explicou à Wilder Francisco Oliva-Paterna, coordenador principal do Invasaqua e investigador da Universidade de Murcia, a ideia do projecto surgiu “porque há um grande desconhecimento da sociedade sobre esta questão e há falta de ferramentas para integrar informação dos dois países”.

Uma das medidas previstas é a criação de uma “plataforma online que reúna toda a informação sobre espécies exóticas invasoras de água doce e de estuários, que seja uma referência para quem quiser saber mais”, acrescentou Francisco Oliva-Paterna.

Este especialista, falando à margem do evento, salientou o papel crucial dos cidadãos. “As pessoas devem conhecer e respeitar as normas em vigor para travar o avanço destas espécies e, no caso de animais de estimação, questionarem-se de onde vieram essas espécies e se, por acidente, se soltarem na natureza que impactos terão”, exemplificou.

Os nove sócios beneficiários do projecto – incluindo a Universidade de Évora, a SIBIC e a ASPEA – Associação Portuguesa para a Educação Ambiental – vão desenvolver campanhas de comunicação dirigidas à sociedade em geral e a alguns grupos-alvo, como pescadores desportivos e comunidade escolar. Previstas estão também campanhas de voluntariado, iniciativas de ciência cidadã, de formação e uma exposição itinerante nos dois países. 

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