Flores silvestres. Foto: Helena Geraldes/Wilder

Bioblitz Flora de Portugal está de volta e desafia-nos a procurar o maior número de plantas possível

16.05.2025

A 5ª edição do Bioblitz Flora de Portugal já está no terreno para tirar uma ‘fotografia’ da diversidade florística do país, de 16 a 18 de Maio. Há mais de 2600 espécies de flora nativa em Portugal continental à nossa espera. A Wilder falou com um dos coordenadores desta iniciativa da Sociedade Portuguesa de Botânica.

O desafio é lançado a todas as pessoas, em qualquer parte do país: registar o maior número possível de observações de espécies da nossa flora, de 16 a 18 de Maio.

A edição de 2024 conseguiu um total de 1.352 espécies diferentes e a de 2023 um total de 1.286 espécies.

“Os últimos trabalhos apontam para a existência de mais de 2600 espécies de flora nativa em Portugal continental. Tendo em conta estes valores, 1.352 espécies é um número muito interessante, mesmo incluindo espécies não nativas e espécies dos Açores e da Madeira”, comentou à Wilder Sergio Chozas, coordenador do Bioblitz e especialista da Sociedade portuguesa de Botânica.

No bioblitz do ano passado “dominaram as plantas de ocorrência comum no país – resultado esperado, pois são estas espécies as mais fáceis de encontrar, identificar e validar”. Mais concretamente, as cinco espécies mais encontradas foram o cardo-dos-picos (Galactites tomentosus), a tripa-de-ovelha (Andryala integrifolia), a cenoura-brava (Daucus carota), a língua-de-vaca (Echium plantagineum) e a campainhas-rabanete (Campanula rapunculus).

Cardo-dos-picos. Foto: Ana Júlia Pereira/Flora-On

Ainda assim, entre as 1.352 espécies foram encontradas verdadeiros tesouros botânicos. Sergio Chozas destacou sete espécies classificadas como Criticamente Em Perigo de extinção – Armeria velutina, Berula erecta, Halopeplis amplexicaulis, Heteranthemis viscide-hirta, Onosma tricerosperma, Schoenoplectus litoralis Vallisneria spiralis – e nove classificadas Em Perigo: Armeria berlengensis, Armeria maritima, Buxus sempervirens, Damasonium bourgaei, Picris willkommii, Pinus sylvestris, Potentilla montana, Pulicaria microcephala, Senecio lopezii Tuberaria major.

E este ano, como será? “Esperamos mobilizar não só os sócios e amigos da Sociedade Portuguesa de Botânica, mas também todas as pessoas que gostam de plantas e da natureza”, comentou o coordenador do Bioblitz.

Nesta “caça ao tesouro” estão incluídos todos os grupos de plantas terrestes, desde a plantas com flor (chamadas angiospérmicas) aos musgos, hepáticas, fetos, antóceros e gimnospérmicas. 

Os dados recolhidos por este bioblitz são muito importantes por duas razões, explicou Sergio Chozas. “Por um lado, servem para tirar uma ‘fotografia’ da diversidade florística do país, que pode ser comparada com as das quatro edições anteriores. Para além disso, têm um papel importante na divulgação da importância do conhecimento da flora e na sensibilização para o contributo da ciência cidadã e dos cidadãos cientistas na recolha de dados sobre a biodiversidade.”

E como participar?

A primeira coisa a fazer é sair de casa com o objectivo de procurar plantas. Este ano, Sergio Chozas vai a dois locais. “No dia 16, no âmbito da cadeira de Diversidade Vegetal da Faculdade de Ciências de Lisboa, iremos à zona da Comporta e Tróia registar especies dunares e de turfeiras litorais. No dia 17 tenciono ir à Charneca da Caparica.”

Mas o céu é o limite quanto a locais para procurar árvores, arbustos, flores e outros representantes do mundo botânico. Os jardins e parques de uma cidade, o campo, as margens de rios, uma floresta ou até as dunas das praias figuram entre o catálogo de sítios. A maravilha é que as plantas estão por todo o lado.

Foto: Joana Bourgard

Aquilo que dá mais prazer a Sergio Chozas num bioblitz botânico é “procurar espécies que ainda não tenha registado”. Além disso, também gosta “de ver os registos dos colegas e amigos e de nos desafiarmos uns aos outros para ver quem consegue mais registos ou espécies!”

“No ano passado apenas registei 20 espécies porque tive que viajar nesse fim-de-semana fora de Portugal, pelo que este ano espero ultrapassar esse valor facilmente!”

Quando encontrar uma espécie, fotografe-a – flor, folha e também o conjunto da planta – para depois submeter as imagens na plataforma Biodiversity4All, que organiza esta iniciativa em parceria com a Sociedade Portuguesa de Botânica.

Para isso é preciso registar-se na plataforma BioDiversity4All/iNaturalist e na página do projecto.

Segundo os organizadores, as fotografias não têm que ser inseridas logo no momento em que a pessoa está em passeio. “É possível fazer o ‘upload’ em casa ou usar a página web da iNaturalist, o que permite o uso de câmaras fotográficas no campo sem serem as do telemóvel.”

A identificação da espécie é feita com o apoio da mesma plataforma, ou então através da ‘app’ com o mesmo nome, que faz uma primeira identificação automática que é depois validada por uma comunidade de especialistas.

Este projecto ocorrerá de forma paralela com o V Biomaratón de Flora Española #VBiomaratón , de modo a realizar-se um grande festival de Botânica. 


Saiba mais.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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