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Morreu Wallace Broecker, o “profeta” das alterações climáticas

20.02.2019

O cientista americano Wallace Broecker morreu esta segunda-feira em Nova Iorque, com 87 anos. “A minha grande alegria na vida vem de descobrir alguma coisa nova”, dizia.

 

Broecker ficou conhecido por ter usado pela primeira vez a expressão “aquecimento global” durante a década de 1970, ligando as emissões de dióxido de carbono à subida das temperaturas e atribuindo esse facto à actividade humana.

Em causa esteve um estudo publicado na revista Science em 1975, intitulado “Alterações climáticas: Estamos à beira de um aquecimento global pronunciado?”, recorda a BBC.

 

Broecker, em 2010. Foto: Lamont-Doherty Earth Observatory

 

Conhecido entre os seus pares simplesmente como Wally, Broecker era geo-químico e passou 67 anos a trabalhar na Universidade de Columbia, em Nova Iorque.

No estudo publicado na Science, argumentava que o aquecimento global não era visível porque o mundo estava a atravessar um ciclo natural de arrefecimento de 40 anos, mas previa que esse ciclo iria terminar em breve e que os efeitos da acção humana se iriam começar a ver.

A verdade é que, logo em 1976, as temperaturas começaram a subir e assim têm continuado de acordo com as previsões deste cientista, lembra um obituário no site da Universidade de Columbia.

Broecker ficou também conhecido pelo trabalho pioneiro sobre as correntes oceânicas e a forma como regulam o sistema climático a nível mundial. Ao longo da vida, foi autor e co-autor de quase 500 artigos científicos e de pelo menos 17 livros – muitos dos quais eram publicações de autor que oferecia livremente a quem se interessasse.

“Não há prémio Nobel na área das ciências da terra, mas Broecker recebeu distinções e milhões de dólares em prémios de fundações, governos e sociedades científicas”, sublinha a Universidade de Columbia, lembrando que “a maioria desse dinheiro foi investido em investigação”.

“A minha grande alegria na vida vem de descobrir alguma coisa nova”, disse em 1998 ao New York Times. “Descubro alguma coisa mais ou menos de seis em seis meses, escrevo sobre isso e encorajo a pesquisa, e isso é a alegria da minha vida.”

 

“A natureza é realmente complicada”

Em anos mais recentes, este cientista americano fez questão de alertar para os perigos das alterações climáticas, mas reconhecendo que muito se desconhece ainda. “Torna-nos humildes estudarmos o sistema terrestre, porque percebemos que a natureza é realmente complicada”, disse à CBC.

Como não acreditava que fosse possível um rápido abandono dos combustíveis fósseis, pois “o carvão vai continuar a ser queimado e não há nada que possamos fazer sobre isso”, defendia o uso de máquinas para extrair o dióxido de carbono da atmosfera e voltar a guardá-lo debaixo da superfície.

O último grande trabalho foi CO2: Earth’s Climate Driver, publicado no Outono de 2018.

Broecker sofria de dislexia e nunca aprendeu a escrever à máquina ou a usar um computador. Ficava também embaraçado quando o apelidavam como o ‘padrinho’ do termo “aquecimento global”. Terá avisado, aliás, que daria voltas dentro da sepultura se alguém se atrevesse a colocar essa frase na sua lápide.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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