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participantes no bioblitz, na Quinta do Saldanha
Saída de campo no Bioblitz do Montijo. Foto: Tiago Abreu

Cidadãos ajudaram a identificar mais de 60 espécies novas

23.04.2018

Mais de dois terços das 86 espécies registadas no primeiro bioblitz realizado na Quinta do Saldanha, Montijo, foram novas para aquele espaço. A Wilder falou com os organizadores desta iniciativa.

 

Um bioblitz é um registo relâmpago de espécies, que se realiza ao longo de várias horas num determinado espaço, em que normalmente qualquer pessoa interessada pode participar, acompanhada por cientistas que ajudam na identificação e registo.

Exemplos das 62 espécies que nunca tinham sido registadas nos 17.500 metros quadrados da Quinta do Saldanha? A planta Atriplex portucaloides, comum em terrenos arenosos e salgadiços, como são os sapais; o líquene Flavoparmelia caperata; a gaivota-de-cabeça-preta (Ichthyaetus melanocephalus) e a borboleta cauda-de-andorinha (Papilio machaon).

 

borboleta cauda-de-andorinha vista de cima, pousada numa flor
Borboleta-cauda-de-andorinha (Papilio machaon). Foto: Uoaei1/Wiki Commons

 

“Como se pode verificar são espécies bastantes comuns, mas não tinham anteriormente sido registadas na plataforma BioDiversity4All para esta região”, explicou à Wilder Cristina Luís, investigadora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUNHAC), que fez parte da organização desta iniciativa coordenada pela BioDiversity4All, em parceria com a Câmara do Montijo.

Entre os cerca de 40 participantes neste bioblitz, que aconteceu a 25 de Março, havia pessoas de todas as idades, “desde crianças a pessoas na casa dos 60 anos”, descreve Cristina Luís. “A maioria eram curiosos, pais que traziam os filhos por gostarem de temáticas relacionadas com a natureza. Em alguns casos, tivemos pessoas que já tinham participado em Bioblitzes anteriores e gostado da experiência.”

 

gaivota com plumagem da cabeça preta, num lago
Gaivota-de-cabeça-preta (Ichthyaetus melanocephalus), uma das aves observadas. Foto: Martin Olsson/Wiki Commons

 

Ao longo do dia sucederam-se várias saídas de campo, mas o número de espécies novas identificadas foi maior nas plantas, líquenes e insectos – por duas razões, avança a investigadora. Primeiro, por haver muito poucos registos naquela região; em segundo lugar, porque desde logo não há em Portugal muitos amadores a fazerem registos destes grupos de espécies.

 

planta de perfil
Planta Halimione portulacoides. Foto: M.Porto/Flora-On

 

Quem andou à procura de líquenes, por exemplo, conseguiu encontrar cerca de 20 espécies diferentes, entre as quais a Flavoparmelia caperata. “Houve um grande interesse da parte dos participantes, que ajudaram a encontrar uma grande variedade de líquenes”, comenta a investigadora Palmira Carvalho, do MUNHAC, que orientou esta saída de campo. “O mais curioso é que à primeira vista o local parecia bastante pobre em espécies, mas com a ajuda de todos, foi possível registar um número bastante elevado.”

 

líquene em tronco de árvore
Líquene Flavoparmelia caperata. Foto: Norbert Nagel/Wiki Commons

 

A diversidade de substratos (superfícies) encontrados também contribuiu, acrescenta, pois “muitos substractos diferentes implica um maior número de espécies”. Por exemplo, “os substractos líticos [rochosos] eram muito antigos e bastante colonizados.”

Esta iniciativa de ciência cidadã faz parte de um ciclo de bioblitzes na Península de Setúbal, que têm vindo a ser realizados desde Novembro, com o apoio da Simarsul, empresa que gere o sistema multimunicipal de saneamento de águas residuais na região.

 

saída de campo
Saída de campo no Bioblitz do Montijo, realizado na Quinta do Saldanha. Foto: Tiago Abreu

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Conheça melhor os números de espécies que foram registadas na Quinta do Saldanha durante o Bioblitz do Montijo, aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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