A construção prevista de duas novas centrais solares fotovoltaicas no Alentejo poderá levar ao abate de 135 hectares de sobreiros e azinheiras, em projectos em que “os benefícios a obter poderão ser inferiores aos custos ambientais previstos”, alertou a Zero.
A associação ambientalista Zero, que pede regras mais apertadas para a aprovação de novas centrais solares fotovoltaicas, analisou quatro grandes projectos que estiveram em consulta pública até esta terça-feira, 12 de Setembro.
No total, estas centrais poderão ocupar 270 hectares da região alentejana com a montagem de 241.920 módulos de painéis, distribuídas entre as zonas de Portel (Herdade da Alcoubacia), Santiago do Cacém (Herdade de Vale da Cota), Vidigueira (Monte do Outeiro) e Arraiolos (Mourata).
Em questão está a afectação da Reserva Ecológica Nacional, “com riscos elevados de erosão e com afectação de cabeceiras de linhas de água, bem como a provável destruição de cerca de 135 hectares de povoamentos de sobreiros e azinheiras”.
No entanto, as preocupações dos ambientalistas centram-se sobre os projectos para Portel e Santiago do Cacém, onde “está em causa a destruição de uma área muito significativa de povoamentos com sobreiros e azinheiras”, sublinham os responsáveis da Zero, numa nota enviada à Wilder.
Se as duas novas centrais avançarem, “haverá um prejuízo em termos de emissões de dióxido de carbono da ordem das 5.000 toneladas”, ao longo dos 20 anos de horizonte de projecto. Isto tendo em conta dois impactos.
Por um lado, o benefício de se evitarem emissões anuais de 4.183 toneladas de dióxido de carbono (CO2) resultantes da queima de gás natural para produção de energia eléctrica, devido à instalação dos painéis fotovoltaicos, calcula a associação.
Pelo outro, a área de montado afectada com a alteração de uso dos solos impedirá “o sequestro médio anual de pelo menos 4.430 toneladas” de CO2, “traduzindo-se num balanço de carbono negativo desfavorável ao ambiente de pelo menos 250 toneladas de dióxido por ano”.
A Zero chama ainda a atenção para os “potenciais efeitos negativos” na biodiversidade local, na afectação do regime hídrico e na facilitação da erosão do solo.
“A compensação de plantação de sobreiros e azinheiras proposta nos projetos poderia reduzir este diferencial, mas é algo que só deverá acontecer em projetos de evidente utilidade pública e incapacidade de recorrer a alternativas, o que não é o caso”, acrescentam os ambientalistas.
Quanto aos projectos na Vidigueira e em Arraiolos, a associação admite que “possam vir a avançar no futuro”, desde que sejam clarificadas faltas de informação e definidas medidas compensatórias de recuperação de habitat em zonas classificadas.
Regras mais exigentes
A Zero defende ainda que a previsão de investimento em centrais solares fotovoltaicas se traduz numa situação “muito positiva para que o país alcance a neutralidade de emissões de carbono em 2050”, mas exige regras mais apertadas.
Por exemplo, a exclusão das áreas classificadas de investimentos em grandes centrais, excepto se se localizarem em áreas muito degradadas, tal como a exclusão de investimentos em áreas florestais e com solos agrícolas, “sempre que os custos ambientais ultrapassem os benefícios”.
Por outro lado, “deverão ser alvo de incentivos” os projectos para áreas degradadas, como pedreiras inactivas, minas abandonadas ou áreas com solos contaminados.