A procura mundial de areia disparou nas últimas décadas, para responder a uma procura crescente do sector da construção mas também da protecção do litoral perante tempestades e inundações como as que se vivem nestes dias. A revista Science publica um artigo que alerta para esta situação insustentável.
Entre 1900 e 2010, o volume mundial de recursos naturais usados na construção de edifícios e estradas aumentou 23 vezes. Quem o diz é a equipa de investigadores que publicou hoje o artigo na revista Science sobre o problema da extracção de areias no mundo.
“São vários os motores que fizeram disparar a procura de areia”, explica a primeira autora do artigo, Aurora Torres, em comunicado. “A expansão urbanística à escala mundial é a que exerce maior pressão, já que é um ingrediente chave nos materiais de construção, como o asfalto, mas também se utiliza na recuperação de zonas costeiras e na fracturação hidráulica para a extração de gás e petróleo”.
A areia das praias, rios e fundos marinhos tem um papel essencial nos ecossistemas já que, além de albergar uma grande quantidade de espécies, protege as zonas costeiras de tempestades e fenómenos atmosféricos intensos.
Mas a areia é uma matéria-prima cuja procura está a crescer rapidamente. Os impactos desta situação são apresentados agora neste artigo científico, bem como as medidas necessárias para uma gestão sustentável.
Os investigadores destacam que a sobre-exploração deste recurso natural, considerado erradamente ilimitado, tem impactos a nível ambiental, económico, político e social. Afecta a biodiversidade dos fundos fluviais e zonas costeiras, prejudicando as redes tróficas. Além disso, tem efeitos negativos na produção e obtenção de alimentos para as comunidades locais.
O transporte de areia de uma praia para outra pode facilitar a expansão de espécies invasoras ou dar lugar à formação de águas estagnadas que favorecem a dispersão de doenças infecciosas como a malária.
A extracção da areia aumenta ainda a vulnerabilidade das costas e rios à erosão. A diminuição de sedimentos nas praias e estuários provoca uma maior fragilidade das costas face à subida do nível das águas do mar ou a intensificação de tempestades, cujos danos, por sua vez, aumentam a procura de areia. Por exemplo, as recentes inundações nos Estados Unidos, Índia, Bangladesh ou Nepal vão exigir quantidades enormes de areia para se recuperarem.
“É imprescindível que os Governos cooperem à escala local e internacional na sua gestão”, disse Torres. “Os cientistas de diferentes áreas devem trabalhar juntos para que os responsáveis políticos e a sociedade tenham consciência da escala deste problema e das suas implicações”, acrescentou.
Esta investigadora considera que “é preciso continuar a fomentar a reciclagem de materiais de construção, promover convénios internacionais que regulem a extracção, consumo e comércio de areia e estabelecer um acompanhamento exaustivo da planificação e concessão de autorizações”.
Nesta investigação colaboraram cientistas do Centre for Integrative Biodiversity Research, a Martin Luther Universitat Halle-Wittenbert, a Universidade estatal de Boise, a Universidade de Georgia e a Universidade estatal do Michigan. Aurora Torres, que coordenou o grupo de trabalho, começou o estudo como investigadora do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais.