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Cientistas preocupados com escalada mundial da extracção de areias

08.09.2017

A procura mundial de areia disparou nas últimas décadas, para responder a uma procura crescente do sector da construção mas também da protecção do litoral perante tempestades e inundações como as que se vivem nestes dias. A revista Science publica um artigo que alerta para esta situação insustentável.

 

Entre 1900 e 2010, o volume mundial de recursos naturais usados na construção de edifícios e estradas aumentou 23 vezes. Quem o diz é a equipa de investigadores que publicou hoje o artigo na revista Science sobre o problema da extracção de areias no mundo.

“São vários os motores que fizeram disparar a procura de areia”, explica a primeira autora do artigo, Aurora Torres, em comunicado. “A expansão urbanística à escala mundial é a que exerce maior pressão, já que é um ingrediente chave nos materiais de construção, como o asfalto, mas também se utiliza na recuperação de zonas costeiras e na fracturação hidráulica para a extração de gás e petróleo”.

A areia das praias, rios e fundos marinhos tem um papel essencial nos ecossistemas já que, além de albergar uma grande quantidade de espécies, protege as zonas costeiras de tempestades e fenómenos atmosféricos intensos.

Mas a areia é uma matéria-prima cuja procura está a crescer rapidamente. Os impactos desta situação são apresentados agora neste artigo científico, bem como as medidas necessárias para uma gestão sustentável.

Os investigadores destacam que a sobre-exploração deste recurso natural, considerado erradamente ilimitado, tem impactos a nível ambiental, económico, político e social. Afecta a biodiversidade dos fundos fluviais e zonas costeiras, prejudicando as redes tróficas. Além disso, tem efeitos negativos na produção e obtenção de alimentos para as comunidades locais.

O transporte de areia de uma praia para outra pode facilitar a expansão de espécies invasoras ou dar lugar à formação de águas estagnadas que favorecem a dispersão de doenças infecciosas como a malária.

A extracção da areia aumenta ainda a vulnerabilidade das costas e rios à erosão. A diminuição de sedimentos nas praias e estuários provoca uma maior fragilidade das costas face à subida do nível das águas do mar ou a intensificação de tempestades, cujos danos, por sua vez, aumentam a procura de areia. Por exemplo, as recentes inundações nos Estados Unidos, Índia, Bangladesh ou Nepal vão exigir quantidades enormes de areia para se recuperarem.

“É imprescindível que os Governos cooperem à escala local e internacional na sua gestão”, disse Torres. “Os cientistas de diferentes áreas devem trabalhar juntos para que os responsáveis políticos e a sociedade tenham consciência da escala deste problema e das suas implicações”, acrescentou.

Esta investigadora considera que “é preciso continuar a fomentar a reciclagem de materiais de construção, promover convénios internacionais que regulem a extracção, consumo e comércio de areia e estabelecer um acompanhamento exaustivo da planificação e concessão de autorizações”.

Nesta investigação colaboraram cientistas do Centre for Integrative Biodiversity Research, a  Martin Luther Universitat Halle-Wittenbert, a Universidade estatal de Boise, a Universidade de Georgia e a Universidade estatal do Michigan.  Aurora Torres, que coordenou o grupo de trabalho, começou o estudo como investigadora do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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