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Madagáscar. Foto: Armi Lafiniarivo/Pixabay

Descoberta origem de sapo que ameaça biodiversidade de Madagáscar

06.06.2017

O sapo-comum-asiático (Duttaphrynus melanostictus), espécie exótica invasora que poderá causar um desastre ambiental iminente na biodiversidade da ilha de Madagáscar, é originário do Camboja e Vietname, descobriram agora investigadores, entre eles o português Gonçalo M. Rosa.

 

Esta espécie foi detectada pela primeira vez em Madagáscar, ilha do Índico, em 2014 mas só agora se descobriu de onde veio, graças a análises genéticas.

 

Sapo-comum-asiático (Duttaphrynus melanostictus). Foto: Franco Andreone
Sapo-comum-asiático (Duttaphrynus melanostictus). Foto: Franco Andreone

 

Os investigadores acreditam que este sapo terá chegado a Madagáscar a bordo dos cargueiros que transportam mercadorias entre a cidade vietnamita de Ho Chi Minh e a ilha de Madagáscar. O artigo foi publicado na revista científica Amphibia-Reptilia.

“Saber exactamente de que população são originários estes sapos asiáticos introduzidos em Madagáscar permite-nos compreender melhor se existirão algumas limitações bioclimáticas que tornarão a sua dispersão mais difícil”, explica em comunicado Gonçalo M. Rosa, co-autor do estudo e investigador do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e da Sociedade Zoológica de Londres.

O sapo-comum-asiático é predador de muitas espécies e produz toxinas que podem levar à morte dos animais que dele se tentem alimentar, como aves, mamíferos ou serpentes. “Várias espécies de serpentes podem predar sobre este animal, acabando por morrer intoxicadas”, acrescenta o investigador, lembrando que as serpentes têm um papel crucial no controlo de ratos, um problema de saúde pública e económico naquela ilha.

 

Sapo-comum-asiático numa zona urbana de Madagáscar. Foto: Franco Andreone
Sapo-comum-asiático numa zona urbana de Madagáscar. Foto: Franco Andreone

 

Os investigadores alertam para um desastre ambiental iminente caso a propagação desta espécie não seja travada a tempo. Isto porque mais de 90% das espécies que vivem em Magadáscar não podem ser encontradas em qualquer outro local do mundo. Só para os anfíbios são conhecidas 500 espécies, ainda que nem todas estejam descritas.

As espécies de Madagáscar já têm sofrido na pele os impactos das espécies exóticas invasoras, como foi o caso do sapo-da-cana (Rhinella marina). Esta espécie foi usada para controlar pestes agrícolas mas acabou por ser uma séria ameaça à fauna nativa.

Apesar de uma erradicação de sucesso pareça ser extremamente complicada, um controlo e redução da população deste sapo invasor terá efeitos positivos na natureza e nas comunidades humanas, defendem os investigadores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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