Em Vila do Bispo, a autarquia vai juntar-se a associações ambientais e grupos de cidadãos para fazer obras de requalificação vegetal na arriba fóssil do geossítio do Telheiro, num “projecto pioneiro em Portugal que combina a engenharia natural e a participação activa de cidadãos na conservação e na gestão do território”.
Segundo a Geota (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente), uma das associações envolvidas no projecto, estas obras têm como objectivo requalificar o percurso de acesso à praia do Telheiro, restabelecendo ali a cobertura vegetal para proteger a arriba fóssil naquela zona.
Os trabalhos arrancam no início da próxima semana e deverão prolongar-se até dia 30 de Janeiro, com a participação de funcionários da Câmara Municipal de Vila do Bispo, voluntários da Liga de Protecção da Natureza, Centro de Ecologia Aplicada “Prof. Beta Neves”, Associação A Rocha, Geota e Grupo Proteger Telheiro.
No entanto, a participação nas obras está aberta também a todos os cidadãos ainda não envolvidos, que se podem inscrever através da Internet, informa uma nota enviada à Wilder. “Entre as tarefas inclui-se a colocação de terras, faxinas, sementeiras e plantas.”
Entretanto já começou a preparação dos trabalhos, com a “recolha de madeiras, construção de feixes e identificação de terras e pedras a utilizar na base da sementeira.” As sementes foram recolhidas com autorização do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, de cujos viveiros vieram também espécies autóctones que serão plantadas.
A arriba fóssil da Praia do Telheiro é hoje considerada “um dos sítios geológicos e ecológicos mais importantes de Portugal” e está abrangida pela classificação de Reserva Biogenética de Sagres.
“Para além da discordância angular identificada nos anos 80 pelo Prof. Miguel Magalhães Ramalho, a arriba do Telheiro caracteriza-se pela presença do habitat prioritário 5140 e grande área coberta por Thymus camphorathus (Tomilho-do-mar), espécie endémica do sul de Portugal e protegida por lei, com estatuto de protecção prioritário.”
A solução de engenharia natural que serve de base ao projecto foi concebida por Alberto Pietrogrande, técnico de planeamento do território, e por Carlos Bifulco, membro da direcção da Liga de Protecção da Natureza e actualmente director do Parque Natural italiano de Monte Sibilini, com a ajuda de técnicos da autarquia.
O caminho de acesso automóvel à Praia do Telheiro foi aberto no final do Verão de 2015 por iniciativa da autarquia de Vila do Bispo, que justificou a obra para facilitar o acesso a veículos de emergência, mas pouco depois o ICNF considerou que estes trabalhos colocavam em risco valores naturais.
O instituto sugeriu então soluções para minimizar os estragos provocados pela obra na arriba fóssil, que passariam pela renaturalização do sítio, noticiou nessa altura o jornal Público. A autarquia cortou também o acesso no final do troço, que passou a ser apenas pedonal nos últimos 150 metros de acesso à praia.