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Sara Magalhães ganha bolsa europeia para estudar evolução de organismos

02.12.2016

A bióloga Sara Magalhães, investigadora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ganhou uma bolsa europeia de dois milhões de euros para descobrir como é que a competição entre organismos molda a evolução das espécies, foi anunciado nesta semana.

 

Esta é uma pergunta que tem mais de 150 anos. O naturalista britânico Charles Darwin começou a respondê-la e Sara Magalhães espera dar o seu contributo, graças a esta bolsa do Conselho de Investigação Europeu (ERC, sigla em inglês).

Para isso, a investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) vai fazer uma série de experiências com duas espécies de ácaros-aranha (Tetranychus urticae e Tetranychus ludeni) que competem por um alimento, neste caso a planta do tomate. Na verdade, estas espécies são uma conhecida praga agrícola.

Actualmente sabe-se que um dos principais motores da evolução das espécies é a competição entre elas por aquilo de que precisam para viver, como o alimento, espaço ou parceiro sexual. A partir de Maio de 2017 e nos próximos cinco anos, Sara Magalhães vai olhar com muita atenção para a forma como estas duas espécies de ácaros mudam as defesas do tomateiro.

As estratégias de ambos são diferentes. Segundo um comunicado do cE3c, “os ácaros T. urticae activam as defesas do tomateiro quando se alimentam, o que diminui a sua performance. Por outro lado, os ácaros T. ludeni provocam na planta uma reacção oposta, que lhes é favorável: em vez de a planta aumentar a produção das suas defesas, suprime-as, tornando a alimentação do ácaro mais fácil”.

Sara Magalhães, que vai trabalhar em colaboração com investigadores da Universidade de Montpellier (França), quer perceber como é que esta alteração do ambiente condiciona a evolução destas duas espécies competidoras, ao longo de muitas gerações.

Além de tomateiros normais, a bióloga vai utilizar um tomateiro mutante, cujas defesas não são afetadas pela presença de nenhum dos ácaros. “Estudando a evolução dos competidores nos dois ambientes diferentes – plantas do tomate que respondem à presença de ácaros e plantas do tomate que não respondem – vamos poder desmontar o efeito de diferentes fatores da competição no processo evolutivo dos dois ácaros competidores”, explica Sara Magalhães.

Segundo esta investigadora, “perceber a forma como as duas espécies competem e como isso afeta a forma como evoluem pode vir a ser essencial para fazer gestão de pragas”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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