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Foto: Joana Bourgard

Saiba o que pode fazer para ajudar os insectos polinizadores e porquê

21.09.2016

Em Portugal não se sabe ao certo quantas espécies de polinizadores existem. Serão mais de mil. Abelhas, abelhões, borboletas, escaravelhos, formigas e vespas são apenas alguns dos animais sem os quais não podemos viver. Dave Goulson, biólogo britânico e conservacionista, esteve em Lisboa e deixou as razões pelas quais os devemos ajudar. E como.

 

“Se pelos ursos polares e pelas florestas tropicais não podemos fazer muito, pelos polinizadores podemos fazer muitas coisas. Estão em todo o lado.” Quem o disse foi Dave Goulson, biólogo e conservacionista britânico, no XVII Congresso Ibérico de Entomologia, realizado de 5 a 8 de Setembro no LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), em Lisboa.

O especialista apontou quatro grandes ameaças a estes pequenos animais. A intensificação agrícola que faz desaparecer os prados de flores silvestres e instala monoculturas, “autênticos desertos para a vida selvagem”, é uma delas. Isto significa a perda de habitat para polinizadores. Depois há o problema das doenças, transmitidas e espalhadas pelo mundo através do comércio global, e dos pesticidas. Por exemplo, “os neonicotinoides introduzidos nos anos 90 tornaram-se no insecticida de eleição. Mas têm como consequência a ingestão de neurotoxinas muito potentes pelos animais”, acrescentou o investigador.

 

 

As alterações climáticas são outra ameaça, especialmente para as populações mais a Norte que perdem território e não estão tão bem adaptadas ao calor. “Há espécies que não aguentam a subida das temperaturas, como os abelhões. Estes são animais adaptados ao frio; produzem o seu calor internamente e os pelos mantêm o calor. Podem até viver no Círculo Polar Árctico. Mas com o calor sobreaquecem, não gostam de tempo quente.”

Ainda assim, a escala do declínio dos polinizadores não é bem conhecida. “Há falta de dados”, lamentou.

Em Portugal, por exemplo, não se sabe ao certo sequer quantas espécies de polinizadores existem. Mário Boieiro, investigador do cE3c (Centre for Ecology, Evolution and Environmental Changes) da Universidade de Lisboa e da Sociedade Portuguesa de Entomologia, estima que sejam mais de mil. “Há um desconhecimento da diversidade de muitos grupos de polinizadores, por isso é impossível apresentar um número concreto”, explicou à Wilder. “Porém, tendo em conta que só as abelhas serão cerca de 500 espécies, mais a diversidade conhecida de formigas, de grupos de coleópteros e de dípteros florícolas, o número de polinizadores em Portugal será sempre superior ao milhar de espécies.”

 

 

Segundo Mário Boieiro, os principais polinizadores das flores são os grupos de invertebrados, quase exclusivamente insectos. Os principais grupos, porque são os mais diversos e abundantes, são as abelhas, abelhões, formigas e vespas (ou seja, os himenópteros); depois temos as moscas (dípteros), os escaravelhos (coleópteros), as borboletas e traças (lepidópteros) e os hemípteros, grupo do qual fazem parte as cigarras e os afídios.

Dave Goulson deixou sete ideias para ajudarmos os polinizadores. “Há muitas coisas a fazer e devemos começar a fazê-las. Os polinizadores precisam da nossa ajuda.”

  • Criar ou restaurar habitats ricos em flores silvestres, autênticas reservas naturais para abelhas e abelhões;
  • Sensibilizar outras pessoas, passar a palavra;
  • Envolver as crianças e mantê-las comprometidas. “Quando somos crianças, somos fascinados mas depois, na adolescência começamos a ter medo e perdemos o entusiasmo”;
  • Monitorizar os polinizadores e participar em projectos de ciência cidadã
  • Promover a jardinagem pela vida selvagem. “Há muitas pessoas que plantam as flores erradas. Muitas plantas disponíveis nos centros de jardinagem não têm interesse para os insectos porque não têm pólen ou têm mas os insectos não lhe conseguem chegar. Acontece que há uma grande variedade de plantas úteis, mais próximas das plantas silvestres. São flores nativas lindas”.
  • Tentar influenciar as autoridades locais para terem prados de flores silvestres na berma das estradas, nas rotundas ou nas escolas primárias, por exemplo.
  • E coisas tão simples como criar hotéis para abelhas solitárias no quintal. “Resulta, por exemplo, num velho poste de madeira se fizermos uns buracos. É fácil.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Leia aqui a entrevista que fizemos a Dave Goulson.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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