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Quatro jovens de Setúbal estão a limpar praias de beatas de cigarro

27.09.2017

Márcia, Mafalda, Vânia e Carolina, com 24 e 25 anos de idade, querem um ambiente melhor para Setúbal e criaram o grupo Feel4Planet. Desde Abril, as suas acções de limpeza já retiraram das praias  cerca de 32.500 beatas de cigarro.

 

A última acção da Feel4Planet, grupo que pretende reduzir o impacte ambiental gerado pela elevada produção de resíduos, aconteceu a 24 de Setembro na Praia Figueirinha, em Setúbal. Munidos com camaroeiros, sacos reutilizáveis e luvas, 21 voluntários recolheram, em cerca de hora e meia, quase 5.000 beatas de cigarro, 344 cotonetes, palhinhas e pequenos pedaços de plástico.

Em cinco acções da Campanha #STBSEMPONTAS já foram recolhidas 32.493 beatas de cigarro, o equivalente a mais de 1.624 maços de tabaco.

 

 

“As beatas de cigarro, e ao contrário do que a maioria da população pensa, são constituídas por fibras de plástico, constituindo o principal lixo marinho encontrado nas praias”, explicou à Wilder Vânia Silva, 24 anos e uma das fundadoras do grupo, com formação na área de Ciência Política e Relações Internacionais.

Um dos objectivos da campanha é evitar que as beatas cheguem ao mar e aos rios, “já que não são biodegradáveis. Levam entre sete e 12 anos a degradar-se, mas nunca totalmente, transformando-se em microplásticos. São responsáveis pela libertação de cerca de 4.700 substâncias nocivas para o ambiente”.

O problema dos microplásticos é um dos alvos do Feel4Planet. “Existem estudos científicos que comprovam a sua ingestão por parte de algumas espécies de zooplâncton e, com uma média de 7.000 beatas atiradas para o chão em Portugal, torna-se imperativo alertar para este problema.”

 

 

“É importante que as pessoas compreendam que existe um ciclo: a beata vai para o chão, acabará eventualmente no mar onde se irá degradar, e esses compostos irão entrar na nossa vida de alguma forma. E isto apenas no caso dos oceanos, porque relativamente às que ficam em terra temos outros problemas como a ingestão das mesmas por crianças e animais de estimação que frequentam parques e praias.”

A próxima acção já tem data. A 30 de Setembro, a Feel4Planet associa-se ao Clube da Arrábida na realização da 7ª recolha voluntária anual de lixo nas praias, matas, falésias e acessos do Portinho da Arrábida, Creiro, Alpertuche, Coelhos e Galapinhos. A atividade terá inicio às 09h00 e deverá terminar às 13h00.

A Feel4Planet, organização independente e informal, foi fundada por quatro jovens do distrito de Setúbal, todas com 24 e 25 anos de idade e de várias áreas de estudo – Educação Básica e Ensino Especial (Márcia Batista, Barreiro), Gestão e Administração Pública (Mafalda Custódio, Palmela), Ciência Política e Relações Internacionais (Vânia Silva, Setúbal) e Biologia (Carolina Nunes, Setúbal).

A sua primeira recolha de beatas aconteceu a 10 de Maio, reunindo 30 voluntários que, em apenas 15 minutos, recolheram 4.212 beatas de cigarro abandonadas na zona ribeirinha da Praia da Saúde, em Setúbal. As campanhas seguintes decorreram a 14 de maio no campo de futebol do União Futebol Comércio Indústria de Setúbal, a 20 de maio nas Praias de Albarquel e da Rainha, e a 4 de junho novamente na Praia da Saúde, Jardim da Beira Mar e Avenida Luísa Todi.

 

 

“Infelizmente não nos foi possível realizar uma ação por mês durante o Verão, mas o nosso objetivo futuro será realizar, pelo menos, uma ação mensal, incidindo não só na limpeza mas também na sensibilização da população”, contou Vânia Silva. Além disso, querem ajudar a cuidar de outras zonas que não as praias. “Temos uma estratégia integrada de limpeza urbana em jardins e outros espaços, não se focando apenas nas praias e na serra, já que este é um problema transversal a todos os espaços.”

Desde Abril, este grupo organizou acções de sensibilização do público em geral. “A educação ambiental e a responsabilidade social são os pilares da organização. Através destes procuramos despertar o interesse para a proteção do ambiente, incluindo praias, zonas verdes e o centro histórico da cidade.”

De acordo com Vânia Silva, o que as motiva para recuperar e conservar a natureza “é o futuro. Sendo de várias áreas do conhecimento temos uma visão alargada dos problemas inerentes à poluição e à quantidade desmesurada de resíduos produzidos pelo ser humano e que acabam por prejudicar todo o ecossistema”. Estas quatro jovens querem “que todas as gerações tomem real conhecimento deste tipo de problemas que irão afectar o futuro das próximas gerações, consciencializando e apresentando soluções para esses mesmos problemas. Acreditamos que apenas se pode cuidar do que se conhece, por isso pretendemos que as pessoas se voltem novamente para a Natureza, para o que existe à sua volta, apreciando e criando a empatia que temos, por exemplo, com os nossos animais de estimação. Temos apenas um planeta, como não cuidar dele?”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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