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Rio Tejo ameaçado por “poluição extrema”

25.01.2018

Desde quarta-feira, uma cobertura de espuma esbranquiçada esconde as águas negras do rio Tejo na região de Abrantes (distrito de Santarém). Arlindo Marques, dirigente do movimento ProTEJO, denuncia mais um episódio de “poluição extrema”.

 

“Ando nisto há mais de três anos e este é um cenário dantesco e nunca visto”, disse Arlindo Marques à agência Lusa, citou esta quinta-feira a Rádio Renascença. O dirigente do Movimento pelo Tejo – proTEJO captou em vídeo a poluição que cobre as águas do rio junto ao açude de Abrantes, num “dos piores cenários” que já registou até ao momento no rio.

Nos últimos quatro dias, Arlindo Marques já tinha notado um agravamento da poluição do rio naquela região. Desde ontem, a situação agravou-se. “Parece o cenário de um filme, tanta espuma que mal deixa ver a água.” “O rio está branco, de margem a margem”, disse quinta-feira à tarde Arlindo Marques, junto ao Tejo. “É inadmissível.”

 

 

A meio da semana, o manto de espuma sobre o rio chegou a ter cerca de um metro de altura, segundo o jornal Público.

O dirigente apelou ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para se manifestar sobre este “atentado” que “pode pôr em causa todo o ecossistema, as espécies de fauna, a flora”.

Contactado pela agência Lusa, o vereador do Ambiente na Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos, disse ter sido surpreendido por um “nível de poluição visual brutal”, uma situação “assustadora”. De momento, a autarquia aguarda mais informações, depois de técnicos da Agência Portuguesa do Ambiente terem estado no local a recolher amostras de água, noticia a Rádio Renascença.

Na verdade, o Ministério do Ambiente disse à Lusa que está a acompanhar “de forma muito intensa tudo o que se passa no rio Tejo”.

Em comunicado, a Agência Portuguesa do Ambiente garante estar “a acompanhar, de perto, a ocorrência”. Ontem foram recolhidas amostras da água e espuma para análise e “mantém-se uma monitorização próxima, de dois em dois dias, em Perais e Belver”.

“Os resultados da análise, que procurarão identificar os poluentes em causa, serão conhecidos no decorrer da próxima semana”, avançou a Agência.

O Movimento ProTEJO acredita que a poluição tem origem na região de Vila Velha de Ródão, uma posição partilhada pela presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque. “O que verificámos é que, a montante de Vila Velha de Ródão, a água está limpa e a partir de Vila Velha de Ródão a água está poluída”, disse à Renascença. “Todos nós temos vindo a fazer um investimento muito grande, não só na melhoria daquilo que são as águas drenadas directa e indirectamente para o rio Tejo, como na recuperação das margens do rio para a sua valorização turística, económica e social”, acrescentou. “Sentimo-nos, portanto, completamente defraudados com aquilo que está a acontecer.”

 

Um caso que se repete

A poluição do rio Tejo está na lista daquilo que de pior aconteceu ao Ambiente em 2017, segundo a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza. Foi uma das piores  dos piores casos ambientais. As descargas poluentes no rio e os episódios de poluição “continuam a ser demasiado recorrentes” e, ano após ano, tornam o Tejo “mais degradado e ameaçado”, disse então a associação. A poluição impede o rio de “cumprir com as suas funções ecológicas e de suporte a actividades económicas locais”, lembrou. No final do ano, a Quercus pediu “uma acção mais firme por parte das autoridades competentes para resolver de vez este grave problema”.

Aquando de uma manifestação em meados de Dezembro em Lisboa, o Movimento ProTEJO pediu ao ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que “intervenha no sentido de que sejam tomadas medidas para a contenção das descargas poluentes no rio Tejo”.

Do lado português, a poluição tem origem na agricultura, indústria, suinicultura e vacarias, águas residuais urbanas e outras descargas de efluentes não tratados. O proTEJO denunciou o “total desrespeito pelas leis em vigor” e a falta de uma “competente acção de vigilância e controlo pelas autoridades responsáveis, valendo a acção de denúncia das organizações ecologistas e dos cidadãos, por diversas formas, nomeadamente, através das redes sociais e da comunicação social”.

Para agravar a situação, cada vez são mais reduzidos os caudais que chegam de Espanha e as barragens do Fratel e Belver diminuem a capacidade de depuração natural do rio Tejo.

Por tudo isto, o movimento considerou que a situação do rio Tejo é “catastrófica”, com “graves implicações na qualidade das águas para as regas dos campos, para a pesca, para a saúde das pessoas”. Além disso, “impede o aproveitamento do potencial da região ribeirinha para práticas de lazer, de turismo fluvial e desportos náuticos, respeitando a natureza e a saúde ambiental da bacia hidrográfica do Tejo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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