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Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

Reintrodução do lince-ibérico poderá libertar 40 linces em 2016

12.08.2015

Este ano há 53 crias em quatro centros de reprodução ibéricos. Este número permite ter, pelo menos, 40 linces para libertar na natureza em Portugal e Espanha em 2016, disse hoje Miguel Ángel Simon, director do projecto Iberlince. Ainda assim, o número definitivo só se decidirá no Outono.

 

“Os resultados dos centros de reprodução em 2015 foram bons e, possivelmente, disporemos de, pelo menos, 40 linces para 2016”, disse Miguel Ángel Simon à Wilder.

Este ano, em que se celebra precisamente uma década de reprodução de linces em cativeiro, nasceram 61 crias, oito das quais morreram. Das 53 crias, onze nasceram em Portugal, no Centro Nacional de Reprodução de Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, no Algarve. São crias da Biznaga, Fruta, Fresa, Flora e Artemisa.

No entanto, o número definitivo de animais a libertar para o ano ainda não está decidido. “O número concreto e a sua distribuição por áreas de reintrodução vai decidir-se no Outono”, acrescentou o responsável pelo projecto que quer reforçar as populações de lince e criar novas.

De acordo com Miguel Ángel Simon, os locais selecionados para a reintrodução em 2016 são o Vale do Guadiana (Portugal), Vale de Matachel (Extremadura espanhola), Montes de Toledo e Serra Morena Oriental, Ciudad Real e Serra Norte de Sevilha. “Os trabalhos mais imediatos serão continuar a libertar animais apenas nessas zonas até conseguir o objectivo de criar populações estáveis”, explicou.

Contudo, o projecto Iberlince vai continuar a reforçar as populações já formadas de Guadalmellato e Guarrizas (Córdova e Jaén, respectivamente, ambos na Andaluzia) “com exemplares selecionados do ponto de vista genético para que se garanta a máxima variabilidade”.

 

Censo de 2015

 

Nos matagais mediterrâneos, onde predominam os sobreiros, azinheiras e giestas, as crias nascidas na natureza terão agora cerca de seis meses. Já começam a explorar o habitat e aprendem a caçar. Estão mais visíveis, depois de terem passado os primeiros meses de vida em abrigos com as suas mães. É por isso que só agora começa o censo anual aos linces que vivem em liberdade.

“Já começámos a fazer o censo de 2015, que terminaremos no final do ano”, disse Miguel Ángel Simon. Por enquanto, os números mais recentes são de 2014. Nessa altura existiam 327 linces nas quatro populações da Andaluzia. A maior continua a ser a de Andújar-Cardeña (com 161 linces), seguida de Doñana (com 80), Guadalmellato (45) e Guarrizas (41). Estas duas últimas são as populações mais recentes, com reintroduções que começaram em 2010 e 2011, respectivamente.

Para o Vale do Guadiana – assim como para Hornachos-Vale del Matachel e para Campo de Calatrava y Montes de Toledo – ainda não se podem considerar existirem populações propriamente ditas, uma vez que as reintroduções só começaram em 2014.

Nestas zonas, “o objectivo é conseguir linces territoriais que comecem a formar uma população. Por isso, devemos continuar a libertar exemplares nessas zonas até o conseguirmos”, explicou o responsável.

Para Miguel Ángel Simon, os maiores desafios da conservação do lince-ibérico para um futuro próximo são o controlo das doenças do coelho-bravo (a principal presa do lince), o controlo das mortes por atropelamento, caça furtiva e veneno e a consolidação das reintroduções começadas em 2014, até conseguir que se estabeleçam populações novas.

A 23 de Junho deste ano, o trabalho de conservação da espécie foi reconhecido. A União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), baixou o estatuto de ameaça de Criticamente em Perigo para Em Perigo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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