O mais recente censo das populações de lince-ibérico (Lynx pardinus) – apresentado hoje em Sevilha e que, pela primeira vez, inclui dados de Portugal – revela que, em 2015, existiam pelo menos 404 linces a viver na natureza, um número superior aos 327 registados em 2014.
Estes 404 linces vivem em nove núcleos em Espanha e Portugal. A maior população fica na Andaluzia. É a de Andújar-Cardeña, com 176 linces, seguida pela população de Doñana-Aljarafe (76) que, desde 2013, tem registado uma diminuição no número de linces.
Guadalmellato começou a receber linces em 2009 e tem hoje 61 animais. Em Guarrizas, com as primeiras libertações em 2011, tem 48.
E se a Andaluzia regista 361 linces, no resto da Península Ibérica há, pelo menos, 43 animais, fruto das libertações que começaram em 2014 em cinco locais. Matachel (Badajoz) surge com 16 linces, seguido do Parque Natural do Vale do Guadiana (Mértola, Portugal) com 10, Montes Toledo (Toledo) com oito, Serra Morena Oriental com cinco e Serra Morena Ocidental com quatro.
Dos 404 linces a viver na Península Ibérica, 120 são fêmeas territoriais e 115 são crias. A maioria das crias encontra-se em Andújar-Cardena (51). Em Guadalmellato registam-se 27 crias, em Doñana-Aljarafe 17, em Guarrizas 14 e em Matachel seis. Nos restantes núcleos não foram observadas crias em 2015.
Um número a meio caminho
Quando, em 1986, a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) classificou o lince-ibérico como espécie Ameaçada existiam 1.100 animais. Em 2002, a população mundial batia um recorde crítico ao atingir os 200 animais.
O censo apresentado hoje no V Seminário Internacional de Conservação do Lince-Ibérico na Universidade de Sevilha revela, assim, um número a meio caminho para esta espécie que vive em Portugal, pelo menos, há 27 mil anos.
Catorze anos de trabalho de conservação chegam hoje a novas etapas. Depois de, desde 2009, terem sido criadas sete novas populações de lince, uma das quais em Portugal, começa-se a conseguir interligá-las. No final do ano passado, Miguel Ángel Simon, coordenador do Plano de Recuperação da espécie, disse à Wilder que um dos grandes objectivos para 2016 era “interligar as áreas de reintrodução com as áreas de presença de lince na Península Ibérica”. E isso já está a acontecer com as populações de Guadalmellato, Cardeña, Andújar, Guarrizas e Serra Morena Oriental. O censo de 2015 confirmou a troca de animais entre estas cinco regiões.
Além disso, já foram detectadas crias de terceira geração em estado selvagem e o nascimento de ninhadas de cinco crias (quando o normal são ninhadas de duas crias).
Para o futuro
A estratégia futura da conservação do lince-ibérico está em debate no V Seminário Internacional de Conservação do Lince-Ibérico, a decorrer em Sevilha de 4 a 6 de Abril.
E há várias questões por resolver. Uma delas é a da mortalidade de lince-ibérico. De acordo com o novo censo, em 2015 foram registados 31 linces mortos. A principal causa foi o atropelamento (15 animais), seguido do furtivismo (três), doença (dois), lutas (dois) e afogamento (um). Para oito animais, a morte teve causas desconhecidas.
A nova estirpe da doença hemorrágica viral, que causou uma diminuição das populações de coelho-bravo (principal presa do lince) em toda a Península Ibérica, afectou as populações do felino. Segundo o censo, as mais afectadas são as populações de Cardeña-Andújar e Doñana-Aljarafe. Como consequência, os linces estão a aumentar a superfície de caça dos seus territórios, “com os consequentes riscos que isto implica”, salienta o censo.
Como resposta, foi lançado um “plano de choque” contra os efeitos da doença do coelho-bravo e a disponibilização de alimentação suplementar. Estas medidas “estão a garantir a estabilidade e uma certa recuperação das populações de lince-ibérico”, acrescentam os responsáveis pelo censo.
Estas questões não passaram desapercebidas à WWF espanhola. A organização saudou hoje o “contínuo aumento da população de linces”, salientando que é o melhor número dos últimos 15 anos. “Com estes números que nos dão esperança, o objectivo mais urgente é travar as duas grandes ameaças que afectam o felino: os atropelamentos nas estradas e, sobretudo, a escassez de coelhos, o seu principal alimento”, escreve a organização em comunicado. “Caso contrário assistiremos a uma autêntica catástrofe ecológica, dado o papel chave do coelho nos ecossistemas mediterrâneos”, comentou Luis Suárez, responsável pelo Programa de Espécies da WWF.
Ainda assim, a organização sublinhou como positiva a consolidação da presença de lince fora da Andaluzia e o nascimento da primeira cria confirmada na Extremadura.
[divider type=”thick”]Saiba mais.
Consulte aqui o Censo das Populações Ibéricas de Lince-Ibérico – Ano 2015.