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Foca-cinzenta Topo. Foto: CRAM-Ecomare

Para sobreviver, esta foca cinzenta veio de avião dos Açores

13.02.2017

Chamam-lhe foca Topo porque foi resgatada do mar dos Açores junto à freguesia do mesmo nome, na ilha de São Jorge, de onde voou para o Continente e foi transportada para o CRAM-Ecomare. Marisa Ferreira, do centro de animais marinhos, contou à Wilder como tem sido a reabilitação.

 

Faz mais de um mês que a 9 de Janeiro a Topo foi resgatada junto à ilha de São Jorge, mas desde o início do ano que esta foca cinzenta (Halichoerus grypus) andava meio perdida no mar açoriano, mais magra e debilitada dia após dia. Primeiro avistaram-na junto à ilha do Pico, passados uns dias na costa do Faial, até chegar a São Jorge.

Este foi mais um caso de uma foca juvenil que se perdeu do resto da colónia, no Norte da Europa e que, apanhada desprevenida, veio parar a águas portuguesas, acredita Marisa Ferreira, coordenadora de reabilitação do CRAM-Ecomare, sediado na Gafanha da Nazaré, região de Aveiro.

“Normalmente, trata-se de animais que após se tornarem independentes (são desmamados ao fim de 18 a 21 dias), acabam por apanhar correntes que os deslocam até às nossas costas”, explica a coordenadora. “Alguns, um pouco mais inexperientes, acabam por ficar mais debilitados e precisam ser resgatados.”

“Todos os anos aparecem focas-juvenis na Península Ibérica”, o que é “mais comum na costa cantábrica e galega, mas também aparecem em Portugal.”

 

 

Foi o que aconteceu à Topo, que chegou ao CRAM-Ecomare depois de ser resgatada do mar junto à Ilha de São Jorge e depois transportada de avião, dos Açores para Lisboa. Estava “bastante magra e desidratada”, com “vários ferimentos infectados no corpo” e também com “dificuldades respiratórias”.

Nesses primeiros dias o futuro era, aliás, bastante incerto. As análises ao sangue revelaram ainda “infecção e alterações hepáticas”; os Raios-X realizados mostraram que sofria de “alterações a nível pulmonar”.

A alimentação desta foca foi uma das prioridades. Quando chegou ao centro, a desidratação foi corrigida com entubação gástrica; ao segundo dia, através do tubo, passou a receber papa de peixe. Só ao terceiro dia, forçaram a Topo a alimentar-se com peixe.

“Normalmente, os animais que nos chegam são inexperientes na captura de alimento, sendo necessário ensiná-los a comer.”

Assim que entrou, foi também medicada com antibióticos e os ferimentos tiveram que ser tratados diariamente.

 

 

E a verdade é que esta foca tem sido uma boa aprendiz, aponta a coordenadora de reabilitação. “Aprendeu rapidamente a comer e assim que os ferimentos na pele cicatrizaram, foi possível colocá-la num tanque com água para que pudesse exercitar-se.”

Ainda assim, ressalva Marisa Ferreira, este caso “está a ser um pouco mais moroso no que se refere à normalização dos valores hematológicos e químicos”. “Mas também foi a foca que nos chegou numa condição menos favorável”, nota.

Se e quando os valores de sangue voltarem ao normal, com a ajuda dos medicamentos, e o peso chegar pelo menos aos 40 quilos, é que a Topo poderá regressar ao seu habitat natural. Será então transportada numa embarcação para um local onde existam colónias residentes de focas-cinzentas, provavelmente no Norte da Europa.

 

 

Nas contas de Marisa Ferreira, além da foca Topo, por este centro já passaram até hoje oito focas-cinzentas juvenis, praticamente todas recolhidas no mês de Janeiro. Sete conseguiram recuperar e foram devolvidas à natureza no Norte da Europa; um juvenil morreu ainda na praia, vítima de “impactação do estômago devido a penas de aves”.

A Topo não foi também a única residente vinda dos Açores. Em Janeiro de 2012, o centro já tinha recebido uma foca-cinzenta juvenil fêmea recolhida junto à ilha do Faial. A maioria dos animais, todavia, chegaram da costa norte e centro de Portugal.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Encontrou um animal marinho arrojado, como uma foca, um golfinho ou uma ave? O CRAM-Ecomare explica quais são os passos a que deve estar atento nesta situação, aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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