Pode chegar o dia em que a Europa acorde mais silenciosa e monótona. Uma em cada oito das espécies de aves que aqui vivem ou que por aqui passam, está ameaçada. Há dez que estão especialmente perto de deixar de existir.
Pardela-do-Mediterrâneo (Puffinus mauretanicus), maçarico-de-bico-fino (Numenius tenuirostris), toirão (Turnix sylvaticus), escrevedeira-aureolada (Emberiza aureola), abetarda de MacQueen (Chlamydotis macqueenii), abibe-sociável (Vanellus gregarius), bufo-pescador-castanho (Ketupa zeylonensis), águia-das-estepes (Aquila nipalensis), calhandra-negra (Melanocorypha yeltoniensis) e calhandra-do-deserto (Ammomanes deserti).
São precisos momentos como este para ouvirmos falar de algumas aves pela primeira vez.
Ontem foi apresentada a Lista Vermelha das Aves da Europa e estas espécies são as mais ameaçadas de entre as 533 que vivem neste continente, vendo-se classificadas como Criticamente em Perigo de Extinção.
Estão com extremas dificuldades em adaptar-se às alterações do uso do solo, especialmente na agricultura, e à caça ilegal. Além destas causas, as principais, há outras, como a poluição, as alterações climáticas e as espécies exóticas invasoras, conclui a Lista Vermelha, depois de três anos de trabalho.
Além destas dez espécies, 18 estão Ameaçadas e 39 estão Vulneráveis.
Desde 2004 entraram mais 29 espécies para esta lista vermelha, como a rola-brava (Streptopelia turtur), o papagaio-do-mar (Fratercula arctica) e o ostraceiro-europeu (Haematopus ostralegus).
Portugal faz parte da lista dos cinco países com maior número de espécies ameaçadas (22 espécies), atrás da Rússia (38), Turquia (35), Espanha (26) e Azerbaijão (23).
A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) chama a atenção para a situação da pardela-balear, freira-da-madeira, britango, priolo, sisão e águia-imperial.
“É chocante o caso das espécies que eram comuns mas que têm vindo a regredir fortemente há vários anos, continuando a ser ignoradas pelos decisores políticos”, diz Luís Costa, director-executivo da Spea, em comunicado. Entre elas, destacam-se as espécies cinegéticas, como a rola-brava, o zarro, a piadeira, o arrabio, o tordo-zornal e o tordo-ruivo. “São todas espécies ameaçadas na União Europeia, para as quais é urgente a suspensão da caça em Portugal”, defende.
Mas nem tudo são más notícias. Há aves que na última década deixaram de ter um estatuto de ameaçadas na União Europeia, como a abetarda e o francelho. Luís Costa atribui a recuperação das espécies aos “esforços de conservação realizados, da aplicação das diretivas Aves e Habitats e da implementação do programa LIFE da Comissão Europeia”.
A Lista Vermelha das Aves Europeias – com dados sobre o tamanho, a tendência populacional e a distribuição de cada espécie de ave selvagem na Europa – utiliza os critérios da UICN (União Mundial para a Conservação da Natureza) para medir o risco de extinção de uma espécie e aplica-os a nível regional.
“Esta lista é mais um aviso de que a natureza na Europa está com problemas”, disse Martin Harper, director de Conservação da britânica Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), uma das entidades que ajudou a elaborar a Lista Vermelha.
Karmenu Vella, comissário europeu para o Ambiente, Pescas e Política Marítima, é da mesma opinião. “Este relatório contém estatísticas preocupantes”, disse, em comunicado. “A nossa tarefa é encontrar formas de espalhar os casos de sucesso para outras áreas.”
Esta lista foi coordenada pela Birdlife International (federação da qual a Spea faz parte) com a ajuda de sete entidades internacionais, como a UICN e a britânica Royal Society for the Protection of Birds (RSPB).