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Foto: Ida Eriksson (Futurismo)

Baleia quase desconhecida foi filmada ao largo dos Açores

07.03.2017

 

A baleia bicuda de True (Mesoplodon mirus) raramente foi observada viva, até aos dias de hoje, e muitos cientistas passam anos a tentar registá-la sem sucesso. Um grupo de investigadores divulgou agora o primeiro vídeo submarino deste cetáceo, filmado por acaso por um grupo de estudantes ao largo dos Açores.

 

Esta espécie de cetáceo pertence à família Ziphiidae, que inclui 22 espécies de baleias com dentes, conhecidas também por baleias bicudas. Destas, algumas estão entre os grandes mamíferos mais mal conhecidos em todo o mundo. Por um lado, estes animais passam longos períodos debaixo de água; por outro, há espécies que se confundem entre si e são difíceis de identificar no mar.

O grupo de cientistas, que inclui investigadores portugueses, lembra que a baleia bicuda de True ocorre principalmente no Atlântico Norte, embora esteja também presente mais a sul, junto a países como Moçambique e a Austrália.

São precisamente os Açores, Madeira e Ilhas Canárias que marcam o limite sul da presença destes cetáceos no Atlântico Norte, indica o estudo ‘Baleia bicuda de True na Macaronésia’, publicado na PeerJ, que descreve as características físicas da espécie com base em 12 observações registadas entre 1984 e 2016 – incluindo o vídeo agora divulgado.

O filme gravado junto à ilha do Pico foi captado com uma pequena câmara subaquática durante uma viagem educativa por um grupo de estudantes do programa Master Mind, num bote de borracha.

“De repente, três zífios apareceram e começaram a nadar à volta da embarcação. Ninguém reconheceu aquela espécie de zífio, que nadava a cinco metros do barco, e ninguém se deu conta de que estavam a gravar o primeiro vídeo de zífios de True”, descreveu ao El Mundo uma das autoras do estudo, Natacha Aguilar de Soto.

 

 

“Estes estudantes foram testemunhas acidentais de algo a que muitos investigadores dedicam a sua vida e nunca conseguiram ver”, admitiu também a cientista, ligada às universidades de La Laguna, em Tenerife, e St. Andrews, na Escócia.

Estas três baleias seriam fêmeas adultas ou subadultas, por não terem dentes na mandíbula inferior, ao contrário do que acontece com os machos. Pensa-se que estes usam os dentes para se enfrentarem entre si.

Os investigadores divulgaram também o que consideram ser a primeira fotografia de uma cria de baleia bicuda de True, captada ao largo da costa açoriana, em Maio de 2015.

 

Foto: Ida Eriksson (Futurismo)

 

“O registo de várias observações desta espécie nas águas profundas mas relativamente costeiras ao largo dos Açores e das Ilhas Canárias sugere que estes arquipélagos podem ser locais únicos para o estudo do comportamento da enigmática baleia bicuda de True”, sublinham os autores do artigo.

A espécie foi descrita pela primeira vez em 1913. Apesar da falta de dados sobre esta baleia, acredita-se que “não é rara no Atlântico Norte”,segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.

 

Quanto aos dados que o estudo permitiu reunir sobre as características físicas destas baleias, nomeadamente a sua coloração, Natacha Aguilar de Soto acredita que vão ser muito úteis para ajudar a distinguir os animais, quer estejam arrojados numa praia ou sejam avistados no alto mar.

 

“[Identificar a baleia bicuda de True no mar] é tão difícil que não há ainda estimativas sobre a abundância da população global ou local desta espécie. Se os cientistas não conseguem reconhecer a espécie com toda a certeza durante as pesquisas, não podemos contabilizá-las!”, explicou a investigadora, numa entrevista ao blogue da PeerJ.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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