“A ideia de criar a Straw Patrol surgiu no Verão do ano passado, graças ao vídeo viral do resgate de uma tartaruga na Costa Rica, que me fez investigar melhor o problema do lixo marinho”, conta Carla Lourenço, que está a concluir o doutoramento em Biologia Marinha, na Universidade de Rhodes em Grahamstown, na África do Sul. De momento, está a desenvolver o trabalho no CCMAR (Centro de Ciências do Mar), no Campus de Gambelas da Universidade do Algarve (UAlg).
O vídeo mostra o sofrimento da tartaruga, enquanto uma equipa de biólogos marinhos tenta retirar uma palhinha de plástico, presa numa narina. “Estamos a falar de palhinhas usadas durante uns minutos e que acabam, muitas vezes, nos oceanos pondo em risco a vida de vários seres vivos, como esta tartaruga”, afirma Carla.
A palestra inaugural do projeto aconteceu em fevereiro no Colégio Nossa Senhora da Graça, em Vila Nova de Milfontes. Desde então, a equipa do Straw Patrol tem ido a escolas falar sobre o uso excessivo de plásticos descartáveis, como as palhinhas, e de que forma ameaçam a vida nos oceanos.
Carla Lourenço sublinha que as turmas e os professores se mostraram bastante receptivos e interessados em usar as informações em várias disciplinas como Ciências da Natureza. “No início do ano letivo 2016-2017, o objetivo é visitar mais escolas básicas e secundárias”, adianta a responsável.
Além das palestras nas escolas, a Straw Patrol organiza ações de limpeza de praia. Até ao momento já se realizaram em Faro, na ilha da Armona e em Vila Nova de Milfontes, com a colaboração de estudantes e da comunidade em geral.
Carla Lourenço diz-nos que 80% do lixo encontrado nas praias tem origem terrestre. Deste, entre 60% a 80% é plástico. “O caso das palhinhas é particularmente preocupante porque, como poucos sabem, não são recicláveis”, salienta.
Por isso, a Straw Patrol quer apostar na sensibilização em cafés e restaurantes. “Em vez de os estabelecimentos comerciais terem as palhinhas num copo, à disposição dos clientes, ou de servirem as bebidas já com as palhinhas, a ideia é levá-los a utilizá-las apenas se as pessoas pedirem”, explica.
A ideia da Straw Patrol é atribuir um autocolante aos cafés, bares e restaurantes que adiram ao projeto, publicitando tais estabelecimentos na sua página de Facebook. Deste modo, seriam identificados e reconhecidos como “estabelecimentos que estão a mudar o mundo”. “Claro que não se trata de uma certificação, mas acaba por ser uma indicação de que aquele estabelecimento está preocupado em reduzir o consumo de palhinhas”, esclarece Carla Lourenço.
Até ao momento, estão envolvidos seis biólogos marinhos no projeto Straw Patrol. Quatro a tempo inteiro – no Algarve, Carla Lourenço, com o apoio do grupo de investigação que integra – Bionept -, que é liderado por Katy Nicastro e Gerardo Zardi e, em Lisboa, Lia Laporta – e dois voluntários, estudantes do Mestrado de Biologia Marinha na UAlg, Rita Rodrigues e Filipe Parreira.
Os voluntários são essencialmente sazonais. “Procuramos promover a ciência cidadã, envolvendo o público em geral, mas ainda não se fez uma busca alargada de voluntários. Por isso, o voluntariado do qual temos usufruído tem sido mais sazonal”, explica.
Carla Lourenço realça que são sempre bem-vindas todas as pessoas interessadas em envolver-se no projeto.
Este foi o caso de Lia Laporta. “A Lia, que foi minha colega de mestrado, quis integrar a equipa e levou a Straw Patrol até à Costa da Caparica”. Neste momento, a fazer um doutoramento em Engenharia do Ambiente no Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, Lia Laporta já dinamizou palestras sobre o lixo marinho e ações de limpeza com os estudantes da Escola Secundária do Monte da Caparica. A sua máxima é: “Por mais bigodes de leite e menos palhinhas no mundo”.
Na agenda do projecto está a participação na 1ª Conferência Portuguesa sobre o Lixo Marinho, de 15 a 17 de setembro, na Faculdade de Ciências de Lisboa. Esta iniciativa, organizada pela Associação Portuguesa do Lixo Marinho, já tem programação agendada e as inscrições estão abertas.
Este texto foi editado por Helena Geraldes.