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Há 20 anos que açorianos saem à rua para resgatar esta ave marinha

13.10.2015

Desde 1995 que é assim e muitos já sabem o que fazer. De 15 de Outubro a 15 de Novembro, as ilhas açorianas estão envolvidas na missão de resgatar os cagarros juvenis que tentam voar pela primeira vez. Ambientalistas, forças policiais, entidades regionais e cidadãos já estão preparados para a campanha SOS Cagarro.

 

Por estes dias, os juvenis de cagarro (Calonectros diomedea borealis) estão a começar a sair dos ninhos para o  primeiro voo em direcção ao oceano. Mas muitos confundem a iluminação pública das povoações com a luz da Lua e desorientam-se, acabando por cair nas ruas e nas estradas.

Por isso, todos os anos, a Direcção Regional dos Assuntos do Mar promove por esta altura a Campanha SOS Cagarro, com o apoio de várias entidades e de cidadãos que querem ajudar.

Nas escolas da região são organizadas actividades para explicar quais os cuidados mais adequados a ter em situações de encandeamento e atropelamento de cagarros juvenis.

Mas quem quiser tem a oportunidade de fazer mais pela ave marinha mais abundante nos Açores (com 97.500 casais reprodutores), pode inscrever-se nas várias Brigadas Nocturnas previstas. Estas são saídas nocturnas organizadas em vários pontos dos Açores por entidades especializadas, entre as quais está a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).

“Temos brigadas previstas nas localidades do Nordeste e Povoação, onde iremos patrulhar as ruas e estradas”, contou à Wilder Ana Mendonça, da Spea em São Miguel, acrescentando que nesta altura do ano é o pico destes primeiros voos.

Quando é encontrada uma ave, esta é recolhida em caixas especiais da campanha, com dimensão própria e pequenos furos. “Se a ave estiver bem, é libertada na manhã seguinte. Se estiver ferida, por ter embatido em algum obstáculo, é preciso contactar a Direcção Regional para ser recolhida”, explicou Ana Mendonça.

Se alguém encontrar um cagarro por acaso, a Campanha pede que contacte os responsáveis ou as entidades envolvidas, como a PSP, Polícia Municipal ou GNR. Estes funcionarão também como centros de recolha de aves.

O cagarro é uma ave marinha que mede 50 centímetros de comprimento, em média, e tem uma envergadura de asa de um metro e 25 centímetros. Nidifica nas ilhas Berlengas, Açores, Madeira e nas Canárias, em ninhos feitos em cavidades naturais e fendas nas rochas. Nos Açores, estima-se que nidifiquem 75% da população mundial de Calonectros diomedea borealis.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Apesar de os cagarros serem a ave marinha mais abundante dos Açores, a população europeia está em estado desfavorável e tem vindo a decrescer. Esta é mais uma razão para ajudar.

Se estiver nos Açores nesta altura do ano, aqui ficam os contactos para o caso de encontrar um cagarro e quais os pontos de recolha. Pode também procurar as actividades que estão a ser organizadas e onde poderá participar.

E mesmo que não esteja nos Açores, pode espreitar as imagens da webcam colocada num ninho de cagarro na ilha do Corvo. Este é o terceiro ano consecutivo em que é possível seguir em directo um casal de cagarros, desde o início de Junho até Novembro. A webcam faz parte de um projecto para recuperar o habitat das aves marinhas nos Açores, coordenado pela Spea, com financiamento do programa LIFE da Comunidade Europeia.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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