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Espécies incríveis: uma aranha que vive na areia da praia em abrigos revestidos a seda

27.08.2024

É preciso um olhar atento para descobrir a aranha-lobo-dos-areais (Arctosa perita), uma espécie que podemos ver nos areais das nossas praias. Pedro Sousa conta-nos mais sobre esta incrível aranha.

Já estamos habituados a encontrar inúmeros animais nas praias portuguesas, desde aves a caranguejos ou até pequenos escaravelhos.

Mas também há aranhas que escolheram viver nos areais das nossas praias. Uma delas é a aranha-lobo-dos-areais (Arctosa perita), mestre da camuflagem que tece os seus abrigos sob a areia.

Fêmea de aranha-lobo-dos-areais. Foto: Africa Gómez/WikiCommons

Pedro Sousa, biólogo com vasta experiência na identificação de espécies de aranhas autóctones de Portugal e especialista do grupo Aranhas e Escorpiões da IUCN SSC, explica que esta aranha vive nos areais das praias mas também em “outros locais com areia solta, incluindo no interior de Portugal continental. Exemplos são estradões de terra batida ou margens de ribeiros”.

A aranha-lobo-dos-areais pode ter entre 6 e 8 milímetros de comprimento quando adulta. Os machos tendem a ser menos robustos que as fêmeas.

“A sua coloração é variável, de acordo com a cor do substrato onde vivem”, explicou também. “Assim, existem aranhas mais claras em zonas com areia clara e aranhas mais escuras, em zonas mais escuras. Têm um prossoma (cefalotórax) mais escuro do que o opistossoma (abdómen), mas sempre com um padrão de manchas e as suas patas têm um padrão anelado.”

Estas aranhas são arquitectas exímias na hora de construirem os seus abrigos. “Em zonas de areia solta, como as dunas, a aranha constrói um túnel revestido com seda no interior. A entrada é disfarçada com uma cortina de seda, revestida no exterior com grãos de areia, tornando-a praticamente invisível.”

Noutros locais, a aranha-lobo-dos-areais pode ser encontrada em abrigos debaixo de pedras.

Os indivíduos desta espécie são predadores activos e procuram as suas presas, em especial insectos ou outras aranhas de tamanho apropriado. Segundo Pedro Sousa, “normalmente deslocam-se em busca de presas. Mas também existem registos de aranhas que esperaram pelas presas no interior das tocas, tendo agarrado as presas que passavam próximo”. “A sua coloração oferece lhes uma excelente camuflagem, sendo muitíssimo difíceis de detectar quando paradas.”

Aranha-lobo-dos-areais. Foto: kitenet/WikiCommons

De acordo com Pedro Sousa, “esta espécie é adulta da Primavera até ao Outono e, portanto, também estão activas no Verão”. “É possível que em alturas do dia em que está demasiado calor, elas se abriguem, pois será também provável que as suas presas estejam resguardadas do calor excessivo.”

É provável que possamos encontrar esta aranha um pouco por todo o país. “Mas, como para a maioria das aranhas no nosso país, sabemos muito pouco sobre elas para termos a certeza. Existem registos desde o norte ao sul, no litoral, e registos mais dispersos no interior.”

“Existem outras espécies de Arctosa no nosso país de aspecto e coloração muito semelhante, quatro no total.” Na verdade, são “tão semelhantes que durante bastante tempo algumas dessas foram consideradas como uma só espécie, o que torna registos mais antigos difíceis de interpretar”, detalhou Pedro Sousa. “Uma delas, a Arctosa similis, foi inclusive, originalmente descrita de Odivelas em 1938. Esta espécie, que pode chegar aos 18 mm quando adulta, ocorre desde Portugal até ao Médio Oriente.”

Actualmente estão descritas cerca de 830 espécies de aranhas em Portugal Continental.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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