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Moma alpium. Foto: João Nunes

“Dar nome à traça”: as cinco espécies de Abril

Conte-nos que nome comum gostaria de dar a estas cinco espécies de borboletas que apenas têm nome científico. Submeta as suas propostas neste formulário e junte-se à iniciativa “Dar nome à traça” da associação Rede de Estações de Borboletas Noturnas, em parceria com a Wilder. As borboletas de Março receberam mais de 80 sugestões.

Moma alpium (Osbeck, 1778)

Moma alpium. Foto: João Nunes

A Moma alpium é uma traça da família Noctuidae e apresenta uma distribuição euroasiática. Em Portugal podemos observá-la apenas na metade norte do país, onde voa de abril a setembro. O seu género, Moma, vem de “Momus” (Momo), o deus da mitologia grega associada ao gozo e à sátira, geralmente representado com uma máscara. O epíteto específico alpium remete para a cordilheira dos Alpes ou outros sistemas montanhosos, o que é curioso pois trata-se de uma espécie essencialmente florestal que aparece em bosques de carvalho, podendo também surgir em paisagens com um coberto arbóreo esparso, desde que existam as suas plantas-hospedeiras. A lagarta alimenta-se principalmente de carvalhos caducifólios, como o carvalho-alvarinho (Quercus robur), e de faias (Fagus sylvatica). Em adultas, estas traças podem ter uma envergadura entre os 33 e os 38 mm, com um ligeiro dimorfismo sexual, sendo a fêmea em geral maior. As asas anteriores são verdes-azuladas com detalhes brancos, com um padrão que faz lembrar facilmente o aspeto de líquenes.

Zethes insularis Rambur, 1833

Zethes insularis. Foto: João Nunes

A traça Zethes insularis pertence à família Erebidae.  Podemos encontrá-la um pouco por toda a bacia do Mediterrâneo, chegando mesmo até ao Médio Oriente. Em Portugal é observada sobretudo no sul do país, mas  há registo também nas zonas mais mediterrânicas deTrás-os-Montes. O epíteto específico insularis parece remeter para uma distribuição insular, pois originalmente esta traça foi descrita e apenas conhecida da ilha de Córsega. Prefere habitats secos e quentes onde ocorre a sua principal planta-hospedeira, a cornalheira (Pistacia terebinthus), sendo provável que se alimente de outras plantas relacionadas. As asas anteriores possuem duas zonas bem demarcadas e separadas por uma linha ondulada: a zona superior é escura e castanha e a zona inferior é mais clara e com tons de cinzento. Já as asas posteriores continuam o padrão das anteriores, mas de forma mais esbatida. O corte das asas desta espécie é algo anguloso, com uma protuberância mais ou menos a meio. Os adultos voam desde abril a setembro e apresentam uma envergadura em volta de 32 mm.

Plusia festucae (Linnaeus, 1758)

Plusia festucae. Foto: Ana Valadares

A Plusia festucae é uma traça da família Noctuidae, descrita no séc. XVIII. Possui registos na maior parte do território de Portugal continental, à exceção das regiões do Alto Alentejo, Beira Baixa e Trás-os-Montes. Distribui-se por toda a região Paleártica, desde a Irlanda até ao Japão. O nome festucae vem de festuca, um género de plantas herbáceas de que as lagartas se alimentam. O seu habitat preferencial são zonas húmidas, como sapais e margens dos rios. As lagartas desta traça alimentam-se de uma grande variedade de plantas, geralmente associadas a estes habitats encharcados. Já como adultos, os machos e as fêmeas são do mesmo tamanho, com uma envergadura em volta dos quatro centímetros. As asas anteriores desta borboleta são castanhas avermelhadas ou castanhas escuras, com manchas douradas salpicadas de castanho. A sua característica mais distintiva são duas marcas centrais brancas prateadas, ocasionalmente unidas e com um formato variável, mas a mais externa é sempre menor e em forma de lágrima. O período de voo é de abril a setembro.

Omphalophana serrata (Treitschke, 1835)

Omphalophana serrata. Foto: Ana Valadares

A Omphalophana serrata é uma traça mediterrânica da família Noctuidae. Em Portugal é observada principalmente no sul, até o rio Tejo, mas existem, contudo, registos mais a norte. A lagarta desta espécie alimenta-se de plantas da família Dipsacaceae, tal como as escabiosas (Scabiosa spp.), plantas essencialmente pratenses (que nascem ou crescem em prados) e que também aparecem em clareiras de matos. A etimologia do género Omphalophana parece remeter para alguma relação com umbigo, talvez devido ao destaque que a mancha orbicular pode ter na globalidade do padrão, em algumas espécies deste género. Já o restritivo específico serrata significa semelhante a uma serra ou serrilhada, característica que é evidente nesta borboleta quando observada de perfil. As asas do adulto possuem um esquema de linhas brancas retas e curvas num fundo de tons variáveis de cinza e preto; o tórax e o abdómen possuem escamas longas que ficam eretas sobre o dorso. Os adultos voam entre os meses de março a julho e têm uma envergadura em volta dos 25 mm.

Euclidia glyphica (Linnaeus, 1758)

Euclidia glyphica. Foto: Paulo Martins

A Euclidia glyphica é uma traça da família Erebidae e pode ser vista desde a Península Ibérica e Magrebe até à Ásia temperada. Em Portugal, é comum um pouco por todo o território e pode ser vista a voar durante o dia – o seu período preferencial de atividade apesar de ser uma traça – entre abril e junho. Habita especialmente prados, pântanos, pastagens e margens de florestas. As lagartas alimentam-se de herbáceas, principalmente de uma grande variedade de fabáceas como trevos (Trifolium spp.), cornichões (Lotus spp.) e luzernas (Medicago spp.). O nome em latim glyphica significa gravura, uma referência ao padrão vincado da espécie. Os adultos atingem uma envergadura em volta dos três centímetros, sendo as fêmeas habitualmente maiores. O nome em inglês, ‘Burnet companion’, foi dado porque nas ilhas britânicas podemos vê-la frequentemente na companhia de borboletas da família Zygaenidae (‘Burnet moths’). As asas anteriores do adulto são essencialmente castanhas, com três bandas transversais mais escuras; já as asas posteriores são amarelas ou laranja-amareladas, com bandas castanhas. O revés das asas é amarelo-alaranjado.


Fique a conhecer a história de um dos mais importantes peritos em borboletas noturnas de Portugal, Martin Corley, que comemorou 80 anos de idade a 8 de março.

Descubra também mais sobre o “Dar nome à traça” e recorde as cinco primeiras borboletas publicadas na Wilder, aqui.


A SPEA-Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves patrocina a secção “Seja um Naturalista”.

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