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clareira de uma mata rodeada por árvores e arbustos
Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa. Foto: Cristina Luís

Bioblitz em Monsanto vai descobrir as espécies do Outono

22.09.2017

O bioblitz de Monsanto realiza-se este sábado, 23 de Setembro, pelo terceiro ano consecutivo, mas desta vez trocou a volta às estações e acontece no Outono. A Wilder falou com a equipa organizadora e conta-lhe tudo sobre este evento.

 

Entre as 9h00 e as 22h00, na Floresta de Monsanto, vão suceder-se as saídas de campo à descoberta de aves, insectos, plantas, mamíferos, líquenes e musgos e outros seres. Todas gratuitas e abertas a todos os interessados, guiadas por cientistas, tendo como local de encontro o Parque Keil do Amaral.

“Esperamos cerca de 100 pessoas distribuídas ao longo do dia”, adiantou à Wilder uma das responsáveis pela organização desta iniciativa, Cristina Luís, investigadora no MUHNAC – Museu Nacional de História Natural e da Ciência.

 

um grupo de pessoas à procura de algo, numa floresta
Grupo de participantes no bioblitz de Monsanto realizado em 2016, no início do Verão. Foto: Cristina Luís

 

Mas o que são bioblitzs? Estas acções de ciência cidadã são registos relâmpago de todas as espécies observadas num determinado local, normalmente abertas a todos os cidadãos, com a ajuda de especialistas. Os resultados dessas monitorizações podem ser depois usados em trabalhos científicos.

No caso desta acção em Monsanto, e tal como noutros anos, mantém-se a meta de “registar mais de 200 espécies num só dia”, refere Cristina Luís. Recomendações: levar calçado confortável, água e máquina fotográfica ou telemóvel com câmara.

Todos os dados sobre as espécies observadas ficam guardados na plataforma BioDiversity4All, tal como noutros anos, e vão ser utilizados pela Câmara Municipal de Lisboa para o inventário da biodiversidade no parque florestal.

 

uma libelinha pousada sobre um ramo
Tira-olhos migrador (Anax ephippiger), descoberta para Lisboa no bioblitz de 2016. Foto: Albano Soares

 

E esperam-se surpresas nas espécies observadas? “Talvez não haja espaço para grandes mudanças, mas uma vez que mudamos de estação [do início do Verão para o Outono], estamos expectantes relativamente às variações que possam surgir”, diz Cristina Luís.

“Nesta altura do ano vamos com certeza observar as espécies típicas de Outono, aparecem outras plantas em floração, outras aves, e esperamos insectos diferentes que estão agora em estado adulto. “

 

Pintassilgos, táguedas e pretas-comuns

 

O dia começa pelas 9h00, com uma saída de duas horas à descoberta da “rica diversidade de aves” do Parque Keil do Amaral, que se deve à variedade de habitats.

“Nas zonas florestais e com matos o chapim-azul (Cyanistes caeruleus) e a toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala) são espécies comuns”, descreve Ana Leal, guia desse passeio e investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, ligado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

 

pintassilgo pousado numa vedação de arame
Pintassilgo (Carduelis carduelis). Foto: Ricardo Martins

 

“Já nas zonas mais abertas poderão marcar presença o melro (Turdus merula), o pintassilgo (Carduelis carduelis) e a pequena fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis).”

Entre as aves que estão neste momento de partida para Sul, Ana Leal espera ver as andorinhas-das-chaminés (Hirundo rustica).

 

andorinha das chaminés
Andorinha das chaminés (Hirundo rustica). Foto: Ricardo Martins

 

Répteis e também as árvores e arbustos são outras saídas de campo previstas para a parte da manhã. Mas quando o calor apertar, pela hora do almoço, vai-se à descoberta das borboletas e das libélulas de Monsanto.

“Uma planta ruderal, a tágueda (Dittrichia viscosa), está agora em flor, o que vai com certeza atrair uma diversidade de insectos”, explica por sua vez Patrícia Garcia Pereira, da associação Tagis e também do c3Ec. Plantas ruderais são as que ocorrem em habitats muito alterados pela acção humana.

 

uma planta com pequenas flores amarelas
Tágueda (Dittrichia viscosa). Foto: Rui Félix

 

“Há borboletas típicas do Outono que devem voar agora em Monsanto, como a fidia (Hipparchia fidia) ou a preta-comum (Hipparchia statilinus). É a época também das migrações, como por exemplo da libélula-das-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii) ou a borboleta atalanta (Vanessa atalanta)”, acrescenta.

 

libélula de corpo vermelho pousada num pequeno ramo
Libélula-das-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii). Foto: Albano Soares

 

Ao longo da tarde, vão seguir-se diferentes passeios à procura de gafanhotos e grilos, insectos, líquenes e musgos e ainda mamíferos, sempre acompanhados por biólogos.

 

Guiados pelos ouvidos

 

Já as aves nocturnas – ou pelo menos os sons e os vestígios que deixam – vão ser procuradas ao anoitecer, entre as 19h00 e as 21h00. Ao longo da noite, até às 23h00, haverá ainda espaço para encontrar morcegos e anfíbios, em especial guiados pelos ouvidos, e ainda as misteriosas borboletas nocturnas.

Quem resistir até ao final, vai ficar a saber desde logo os resultados deste bioblitz, promete a organização: a divulgação dos dados registados na BioDiversity4All está prevista entre as 22h00 e a meia-noite.

 

borboleta de asas pretas com riscas laranjas e brancas
Borboleta atalanta (Vanessa atalanta), também conhecida por almirante-vermelho. Foto: Rui Félix

 

Além do Museu Nacional de História Natural e da Ciência e da Câmara Municipal de Lisboa, participam na organização deste bioblitz várias universidades portuguesas. Já os especialistas que vão guiar as saídas de campo pertencem também a várias entidades: cE3c, Museu de História Natural e da Ciência, Tagis, Biodiversity4All, Sociedade Portuguesa de Botânica e Bioinsight.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Consulte o programa completo do bioblitz de Monsanto, agendado para este sábado, dia 23 de Setembro.

E recorde os resultados da edição de 2016, quando esta iniciativa deu duas novas espécies de libélulas a Lisboa.

 

 

 

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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