As aves que têm um começo de vida mais difícil tornam-se adultos mais gordos e vorazes do que os seus irmãos, revela um estudo científico publicado na revista Animal Behaviour, que se baseou no caso dos estorninhos-malhados (Sturnus vulgaris).
O stress e as dificuldades que uma cria tem de suportar acabam por marcá-la para o resto da vida, nomeadamente na sua relação com o alimento, concluem os investigadores da Universidade de Newcastle, coordenados por Melissa Bateson e Clare Andrews.
Segundo o estudo, as crias mais pequenas de estorninho-malhado alteraram o seu comportamento alimentar quando adultas, resultando numa maior massa corporal.
“Acumular reservas de gordura como segurança para eventuais episódios de escassez de alimento é um mecanismo de sobrevivência”, diz Clare Andrews, do Centro para o Comportamento e Evolução naquela universidade. “O que mostramos é que as aves que tiveram de lutar mais pelo alimento com os seus irmãos maiores, enquanto crias, estão mais dispostas a procurar comida e tendem a comer em excesso quando chegam à idade adulta”, acrescenta.
Para chegar a estas conclusões, os investigadores colocaram crias de estorninho mais pequenas em ninhadas com aves maiores. Estas crias tiveram de lutar mais para serem alimentadas, gastando mais energia a chamar os progenitores e a tentar ganhar um lugar mais favorável no ninho. As crias mais “desfavorecidas” foram comparadas com crias maiores.
Dez dias depois, os investigadores deram a todas as mesmas condições alimentares, para que apenas os primeiros dias de vida fossem diferentes.
Mais tarde na vida, estas mesmas aves tiveram de escolher alimento fácil – migalhas acessíveis – ou alimento mais difícil – migalhas escondidas na areia. As aves que tiveram mais dificuldades no início de vida passaram mais tempo à procura das migalhas escondidas e comeram mais das migalhas de fácil acesso. As outras optaram por ser mais moderadas.
Os cientistas suspeitam que as aves que foram crias pequenas comportam-se como se o alimento fosse faltar, sugerindo que têm uma “memória da fome”.