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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

ZERO alerta que 77% das zonas húmidas portuguesas estão ameaçadas

02.02.2022

Hoje, 2 de fevereiro, Dia Internacional das Zonas Húmidas, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável alerta para o estado preocupante em que estão 77% das zonas húmidas de Portugal, como as turfeiras, os sapais e os charcos temporários.

Todos os anos celebra-se a 2 de Fevereiro o Dia Internacional das Zonas Húmidas. Sapais, turfeiras e charcos temporários ocupam apenas 1,8% do território nacional mas são de importância crucial.

Estes habitats regulam o ciclo hidrológico e, em caso de inundações, são capazes de conter e abrandar a força das águas, salienta a associação ZERO.

Além disso, são “reservatórios” de biodiversidade que abrigam milhares de espécies de animais e plantas. E ainda ajudam a regular o clima, a proteger a zona costeira, a disponibilizar parte da água que consumimos (em quantidade e em qualidade) e a servir de “maternidades” para muitas espécies que consumimos.

Mas estes habitats estão em perigo. Segundo a ZERO, “77% dos habitats de zonas húmidas estão ameaçados em Portugal” por causa do aumento “da pressão humana ligada à utilização dos territórios”.

Essa percentagem refere-se ao período 2013-2018 e foi a comunicada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) à Comissão Europeia, no âmbito do Relatório dos Estados Membros sobre o estado de conservação de espécies e de habitats.

Das 53 representações de 22 habitats, pelas cinco regiões biogeográficas (Mediterrânica, Atlântica, Macaronésia, Mar Atlântico, Mar da Macaronésia), 40 estão em estado de conservação desfavorável.

E este ano, a situação parece ser ainda mais preocupante, “num contexto de enorme apreensão quanto ao evoluir da situação de seca”.

A ZERO lembra a importância de fazer uma boa gestão dos aquíferos, “uma vez que a maior parte das zonas húmidas estão muito dependentes das massas de água subterrâneas”.

Mas não só. A associação está preocupada com a eventual construção de mais barragens para a expansão do regadio em mais 130.000 hectares.

“A construção de mais barragens associadas ao regadio não resolve o problema cada vez mais recorrente da severidade das secas meteorológicas (redução temporária da precipitação face ao esperado) e da escassez hídrica (é mais estrutural e resulta do excesso de consumo face às disponibilidades existentes).”

A associação denuncia a aposta num “modelo agrícola industrial totalmente dependente de rega”.

“A ZERO alerta para os impactes negativos dos aproveitamentos hidráulicos no fluxo de serviços dos ecossistemas proporcionados pelas zonas húmidas e, em particular, pelos cursos de água. A drástica alteração dos regimes naturais afeta os caudais ecológicos, impedindo a continuidade dos habitats fluviais e o transporte de sedimentos até aos estuários e zonas costeiras, onde a chegada de água doce é essencial.”

“O valor ecológico destas massas de água artificializadas é muito diminuto e não compensa a perda de zonas húmidas naturais.”

Ainda assim, os habitats das zonas húmidas estão protegidos por legislação. Em Portugal, apenas 31 Sítios foram designados para integrar a Convenção de Ramsar, totalizando cerca de 132.487 hectares, ou seja, 79% do total das zonas húmidas existentes em Portugal.

No entanto, salienta a ZERO, “conferir uma figura legal de proteção a um determinado local nem sempre significa uma garantia de conservação ou do seu uso sustentável”. Prova disso, acrescenta, é que “a maior parte das representações de habitats de turfeiras, habitats de água doce, como os charcos temporários mediterrânicos, as depressões intradunares e mesmo os habitats costeiros, como os sapais, estão em mau estado de conservação”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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