Três autores lançam livro para cativar as crianças para a observação da Natureza

24.03.2025

Acaba de ser lançado o livro “O Meu Primeiro Livro de Aves – Histórias e Rimas para Aprender a Contemplar”. A Wilder falou com os autores Ana Amaral, Gonçalo Elias e Ana Botelho.

WILDER: Como surgiu a ideia para este livro?

A ideia foi minha (Ana Amaral) e surgiu porque tenho dois filhos pequenos que mostravam curiosidade pelos animais, nomeadamente aves, e pelos guias de campo que tenho em casa. Achavam piada a folhear as páginas e ver os desenhos, mas a verdade é que os guias de campo têm demasiado texto e rapidamente perdiam o interesse. O objectivo deles não é cativar crianças. E, nesse contexto, pensei “e se houvesse um guia de aves, mas num formato apelativo para miúdos?”. Apresentei a proposta com meia dúzia de quadras sobre outras tantas espécies à Penguin Livros e a editora pegou no projecto! Foi nessa altura que convidei o Gonçalo, pela experiência na ornitologia e na divulgação científica, e a Ana Botelho, porque já conhecia o trabalho dela através das redes sociais e era, verdadeiramente, uma fã.

Qual o seu objectivo ou objectivos?

Cativar as crianças para a observação da Natureza, estimular a sua curiosidade, o gosto na descoberta das espécies que nos rodeiam. Se desde pequeninas estiverem alerta para a presença de outros seres, neste caso as aves, acreditamos que serão adultos mais conscientes para a necessidade de conservação dos seus habitats.

Qual o público-alvo deste livro?

O livro está pensado para crianças a partir dos 4 anos, mas acreditamos que seja interessante também para crianças um pouco mais velhas e, naturalmente, para os pais/educadores, que serão o veículo através do qual o livro chegará ao seu público.

Quais as suas características que o distinguem dos outros livros sobre aves de Portugal?

Este livro tem uma estrutura muito original. Por um lado, as espécies aparecem aos pares, tendo cada par um mesmo habitat como fundo. Ou seja, os desenhos ocupam uma página dupla, com um determinado tipo de ambiente (agrícola, florestal, aquático, urbano…), sendo representadas duas espécies. Cada uma dessas espécies é acompanhada por um texto em verso (duas quadras) e outro em prosa. Todos os textos são escritos na primeira pessoa do singular, como se fosse a ave a apresentar-se a si própria. Esta opção tem como objetivo criar mais empatia com o leitor. Pensamos que esta é uma forma interessante de suscitar o interesse dos mais pequenos por esta temática.

Podem dar mais exemplos das 40 espécies presentes no livro? Qual o critério de escolha destas 40?

Procurámos incluir uma selecção variada de espécies pertencentes a diferentes famílias e habitats, de fácil identificação, como por exemplo: pega-rabuda, gaio, pintassilgo, galinha-d’água, rola-turca ou flamingo. Dado que não era possível apresentar todas as espécies de Portugal, optámos por selecionar as mais comuns e fáceis de observar, incluindo várias aves de jardim, que podemos encontrar em vilas e cidades. Há 30 espécies que têm uma ficha completa, havendo 10 outras que são apresentadas de forma mais resumida, no final do livro (grou, abelharuco, pernilongo e verdilhão, entre outras).

Qual a mais-valia das ilustrações a aguarela, em vez de usar fotografias?

A ilustração com desenhos e pinturas é mais flexível na sua forma do que a fotografia, uma vez que depende apenas da imaginação do ilustrador. A mesma ideia pode ser representada de maneira simples e sintética ou mais complexa e abrangente. Por essa razão permite produzir imagens mais chamativas e inteligíveis ao público infantil.  

Em relação à técnica em si, a aguarela não apresenta vantagens práticas quando comparada aos meios digitais: é mais demorada e permite poucas (ou nenhumas) alterações. No entanto tem vantagens estéticas na sua leveza e transparência, nos efeitos proporcionados pela mistura de pigmentos à mercê da água espalhada pelo papel, nas texturas e numa certa qualidade difícil de descrever, etérea, que se presta ao fantástico. 

Como comentam o conhecimento que as crianças portuguesas têm hoje sobre as aves selvagens?

Apesar de ubíquas, as aves passam muitas vezes despercebidas. Escondem-se, andam altas nos ramos ou embrenhadas nos arbustos. Por isso, se não estiverem alerta, é provável que num passeio se deparem apenas com pombos, pardais, gaivotas mais nas zonas costeiras e um ou outro melro. E serão essas aves que são capazes de identificar. Pode ser realmente fascinante darem-se conta que estão muito mais próximas das aves e terem contacto com muito mais espécies do que achavam à partida.

Quanto tempo demorou este livro a escrever? E a fazer as ilustrações?

Os textos, desde os primeiros esboços até à versão final, terão demorado cerca de seis meses. As ilustrações demoraram, mais ou menos, dez meses.

Quantas páginas tem, qual a dimensão (formato) e qual a data de lançamento?

O livro tem um total de 48 páginas, mas o conteúdo propriamente dito ocupa 39, sendo que as espécies principais ocupam 30 páginas e as 10 espécies adicionais são apresentadas em duas páginas. O formato é quadrangular, 25x25cm, com capa dura. O livro chega às livrarias no dia 17 de março e a sessão de apresentação decorreu no Porto, no dia 22 de março.


Por: Gonçalo Elias, Ana Dias Amaral e Ana Botelho

Editora: Booksmile, Penguin

Data de publicação: 17 de Março 2025

As crianças a partir dos 4 anos têm 40 espécies diferentes de aves para descobrir. Entre elas está a rola-turca, o rabirruivo-preto e o andorinhão-preto. Nestas 48 páginas, o objectivo dos autores é “entusiasmar as crianças a observar as aves e a natureza”, sendo o ponto de partida para grandes saídas de campo e explorações na natureza. Ao longo das páginas, miúdos e graúdos podem encontrar histórias em rima, factos e informações científicas sobre cada uma das 40 espécies, todas de Portugal Continental. Cada uma das das espécies tem ilustrações da ave e do tipo de habitat onde as podemos encontrar. 


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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