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Ilha da Berlenga. Foto: Pedro Geraldes / SPEA

Ratos e coelhos começam a ser removidos das Berlengas para ajudar biodiversidade

15.09.2016

A partir deste mês, a equipa do projecto Life Berlengas começa a remover os ratos-pretos e os coelhos daquela ilha ao largo de Peniche, foi hoje anunciado. Estas espécies invasoras põem em perigo ovos e crias de aves marinhas e plantas que não existem em mais lugar nenhum do planeta.

 

A acção faz parte de um esforço maior para ajudar as espécies naturais da ilha, como a arméria-das-berlengas com as suas flores rosa ou as aves marinhas que ali nidificam, desde a cagarra à galheta.

Joana Andrade é coordenadora do Departamento de Conservação Marinha na Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) e coordenadora do Life Berlengas (2014-2018). “Nesta primeira fase, o alvo é o rato-preto, espécie abundante na ilha e que preda ovos e crias de aves marinhas. Nos casos das aves mais pequenas, pode predar também indivíduos adultas”, explicou à Wilder.

A equipa prevê remover entre 3.000 e 3.300 ratos-pretos. Mais tarde será a vez do coelho, mamífero que foi introduzido na ilha e que se alimenta de plantas, algumas ameaçadas. “Como estas plantas estiveram durante milhares de anos nesta ilha sem coelho, não desenvolveram técnicas de combate para se protegerem dos herbívoros”, explicou a responsável. Além disso, o projecto concluiu que os coelhos podem causar erosão do solo, quando escavam as tocas, e competem pelo espaço com aves que nidificam em buracos no chão.

Para já não se sabe ao certo quanto tempo irá durar esta campanha de controlo de invasores, que segue as recomendações nacionais e internacionais e passa pelo uso de iscos com uma substância anti-coagulante. “Dependerá muito de como correr o trabalho, mas posso dizer que estaremos na ilha, de forma permanente, até Novembro. Depois faremos uma avaliação do efeito da campanha” na biodiversidade autóctone da ilha, acrescentou Joana Andrade.

Nos últimos dois anos, a equipa do Life Berlengas estudou as populações de ratos e coelhos, para conseguir definir um plano operacional para a sua remoção. “Ainda ponderámos capturar os coelhos vivos e reintroduzi-los no continente. Mas esta opção foi abandonada porque os estudos que fizemos mostraram sequências genéticas reveladoras de descendência de coelho doméstico (a maioria) e de coelho-bravo”, explicou. Seria um risco muito grande introduzir estes animais na natureza, podendo ser transmissores de doenças, por exemplo.

A Reserva Natural das Berlengas, que recentemente fez 35 anos, foi classificada com base nos seus valores naturais, incluindo importantes colónias de aves marinhas, uma subespécie endémica de réptil e três plantas endémicas. Foi ainda reconhecida pela UNESCO em 2011, integrando atualmente a rede mundial de Reservas da Biosfera.

Segundo Joana Andrade, “a remoção dos mamíferos da ilha da Berlenga será um marco decisivo para a recuperação da fauna e flora nativas do arquipélago”.

O Life Berlengas é um projeto coordenado pela Spea, em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a Câmara Municipal de Peniche, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo ainda a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (Peniche) do Instituto Politécnico de Leiria como observador.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra o que tem vindo a ser feito pela natureza das Berlengas e conheça seis espécies que, só por si, merecem uma visita àquela ilha.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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