Banner

flores amarelas num fundo preto

Quase metade dos vertebrados ibéricos está em declínio, revela estudo

08.10.2024

Um estudo liderado pela Universidade de Alicante e pela Universidade de Barcelona, Espanha, publicado na revista científica Biological Conservation, revela que 42% dos vertebrados ibéricos está em declínio. A situação mais grave é vivida pelos anfíbios e peixes.

Das mais de 1500 populações e 430 espécies analisadas – entre 1927 e 2020 -, os dados revelam que os grupos com maiores taxas de declínio são os anfíbios e os peixes; os sistemas mais ameaçados são os sistemas aquáticos de água doce.

A perda de biodiversidade é uma das principais ameaças mundiais. De acordo com o mais recente Relatório Living Planet, da organização WWF e relativo a 2022, a abundância relativa das populações de espécies selvagens registou um declínio médio de 69% desde 1970. As estimativas globais prevêem que cerca de um milhão de espécies se possa extinguir nas próximas décadas.

Em comunicado, Roberto Rodríguez-Caro, investigador da Universidade de Alicante, disse que “as taxas de extinção são muito altas e prevê-se que continuem a aumentar se não forem aplicadas medidas de conservação que mitiguem as suas ameaças”.

Um dos indicadores prévios à extinção é a redução do tamanho da população, ou seja, a diminuição do número de indivíduos em liberdade. Por isso, acrescentou o investigador, “avaliar se as populações estão estáveis, a aumentar ou a diminuir é crucial para podermos identificar os problemas e procurar soluções”.

Esta investigação – liderada por Roberto Rodríguez-Caro e por Pol Capdevila, investigador da Universidade de Barcelona – criou uma vasta base de dados de tendências populacionais da Península Ibérica. “Dados anteriores indicavam tendências positivas nesta região, mas com este projecto podemos triplicar a informação e concluímos que os resultados não são tão positivos”, salientaram os dois investigadores.

Os anfíbios e os peixes continentais são os grupos que registam as maiores taxas de declínio e os investigadores pedem melhorias nos seus habitats e a mitigação de ameaças para a sua conservação no futuro.

Mas nem todos os resultados indicam tendências negativas. Os mamíferos e as aves são os grupos que apresentam resultados mais optimistas, sendo geralmente as espécies que recebem mais financiamento para a sua conservação. Por exemplo, o lince-ibérico (Lynx pardinus) tem mostrado uma tendência positiva depois de aplicação de vários projectos de conservação.

No total, neste trabalho participaram 21 investigadores de vários centros de investigação que trabalharam desde 2021 para compilar a informação de populações de vertebrados da Península Ibérica dos últimos anos.

Ainda que a base de dados seja vasta, Rodríguez-Caro admitiu que “ainda há vazios de informação em determinadas regiões da Península Ibérica e em determinados grupos taxonómicos, como os répteis. Seria preciso mais investigação sobre esses grupos para podermos fazer um diagnóstico mais preciso da biodiversidade ibérica”.

Os resultados do estudo, financiado pela Sociedade Ibérica de Ecologia (SIBECOL), sugerem que “estamos perante um cenário de perda de biodiversidade em que reverter as suas principais ameaças é crucial para a conservação das espécies”, advertiu Rodríguez-Caro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss