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Projecto Sentinelas: Morte suspeita de animais selvagens está sob investigação

18.07.2022
Casal de milhafre-preto encontrado morto no ninho. Foto: Palombar

Casos de ameaça para a fauna silvestre em áreas protegidas, nos distritos de Bragança e Zamora, foram detectados no primeiro semestre deste ano.

 

No total, foram encontrados mortos oito animais de cinco espécies diferentes, envolvendo “suspeitas de envenenamento, colisão com linha elétrica e eventos de causa desconhecida”, e foram avisadas as autoridades, indica em comunicado a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural. 

Esta organização não governamental de ambiente com sede no concelho de Vimioso, Bragança, é coordenadora do projecto Sentinelas – Rede de Monitorização de Ameaças para a Fauna Silvestre, financiado pelo Fundo Ambiental e desenvolvido em parceria com a Universidade de Oviedo, em Espanha.

Entre os animais mortos encontrados nos primeiros seis meses deste ano estavam um abutre-preto (Aegypius monachus), um milhafre-real (Milvus milvus), dois milhafres-pretos (Milvus migrans), três grifos (Gyps fulvus) e uma raposa (Vulpes vulpes).

“Todas as espécies de avifauna afetadas estão protegidas legalmente e duas delas encontram-se ameaçadas de extinção, como é o caso do abutre-preto e do milhafre-real”, sublinha a Palombar, que recorda que o abutre-preto é também uma espécie prioritária de conservação a nível nacional.

Os casos aconteceram nos Parques Naturais do Douro Internacional e de Montesinho e em áreas classificadas da Rede Natura 2000 (ZEC e ZPE do Douro Internacional e Vale do Águeda e Montesinho/Nogueira) ou nas suas imediações.

Cinco dos animais foram encontrados mortos por técnicos desta organização “durante acções regulares de seguimento das espécies alvo do projeto Sentinelas”, indicou à Wilder o coordenador deste projecto, João Santos. Quanto aos outros três, a associação foi  avisada por cidadãos e os casos foram confirmados pela equipa que ali se deslocou, “para verificar o sucedido e solicitar a presença das autoridades competentes, além de recolher elementos que permitissem fazer uma denúncia formal”.

Sinais suspeitos

João Santos prefere não identificar os animais encontrados com suspeitas de envenenamento, para não comprometer as investigações, mas descreve os sinais suspeitos: “A posição em que os animais foram encontrados (normalmente prostrados, em decúbito ventral, sugerindo uma morte antecedida por convulsões), a sua aparente boa condição física, o tipo e as características dos locais onde os cadáveres se encontravam e a ausência de outras ameaças detectáveis na área envolvente.”

Quanto às linhas eléctricas, houve apenas um caso envolvendo um grifo, e aconteceu na província de Zamora, em Espanha. “O cadáver da ave encontrava-se junto da linha elétrica, apresentando uma das asas seccionada, muito provavelmente devido à colisão com os fios.”

No que respeita à possibilidade de envenenamento, o próximo passo deverá ser a investigação pelo Ministério Público, que está prevista quando estão em causa espécies protegidas e há suspeitas de crime. 

“Caso se confirme a prática de crime e sejam encontrados, eventualmente, os presumíveis culpados desses crimes contra a fauna silvestre, esperamos que estes possam ser julgados em tribunal e, uma vez provado o seu envolvimento, lhes seja aplicada a devida sentença condenatória”, indica ainda o responsável do projecto Sentinelas.

Segundo dados compilados pelo Programa Antídoto Portugal, entre 2003 e 2014, na região do Douro Internacional, houve 38 casos suspeitos de envenenamento, que envolveram mais de 100 animais de espécies domésticas e silvestres. Destes, foi possível confirmar a presença de venenos em sete casos. Já o programa LIFE Rupis, que decorreu na mesma região entre 2015 e 2019, identificou 23 casos de suspeita de envenenamento, dos quais 10 foram confirmados.

“Portanto, a ocorrência de casos de envenenamento de fauna é uma realidade na região em que atuamos”, nota João Santos. “De resto, esta é uma problemática que afeta animais silvestres e domésticos em todas as regiões do país.”

Mais espécies marcadas com emissores

Desde o arranque do projecto Sentinelas, em 2019, foram marcados 21 grifos, incluindo 16 com emissores GPS-GSM e outros cinco com anilhas metálicas e anilhas de PVC, de leitura à distância.

Actualmente, segundo o coordenador do projecto, está a ser preparado o alargamento da rede de espécies sentinelas, que deverá incluir “num futuro próximo o milhafre-real e a raposa.

Os principais objetivos deste projeto são, de acordo com a Palombar, “monitorizar, através da marcação com dispositivos GPS, espécies sentinelas de aves e mamíferos que são mais afetadas por diversas formas de perseguição ilegal, bem como por outro tipo de ameaças de origem antrópica; avaliar a vulnerabilidade das espécies de fauna silvestre ao uso ilegal de venenos e analisar as perceções sociais e os níveis de tolerância de diferentes grupos de interesse relativamente às espécies de fauna silvestre.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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