Numa altura em que está a decorrer a apanha da azeitona nos olivais portugueses chega a notícia de que o projecto espanhol, com financiamento europeu, Olivares Vivos, vai ser replicado em mais três países, incluindo Portugal.
Acaba de ser apresentado em Madrid o sucessor do projecto LIFE Olivares Vivos que, de 2015 até Maio deste ano, concebeu um novo modelo de olivicultura que aumenta a biodiversidade e a rentabilidade dos olivais.
O projecto LIFE Olivares Vivos+, coordenado pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife), quer ajudar a replicar este modelo pelas principais regiões produtoras de azeite da Europa – como Portugal (no Alentejo), Grécia (no Peloponeso e em Creta) e Itália (na Toscânia e Apúlia) – e por outros cultivos como a vinha, o amendoal e os pomares de citrinos. A ideia é avançar com uma rede de propriedades com olival que possam ser demonstrativas e com cursos de formação para agricultores.
Em Portugal, o projecto conta com a participação da Universidade de Évora.
Liderado no nosso país por José M. Herrera, coordenador do Grupo de Investigação em Biodiversidade e Alterações Climáticas no Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora, o investigador explicou, em comunicado daquela Universidade, que o principal objetivo é “desenvolver um certificado que garante o compromisso dos olivicultores com a conservação da biodiversidade”. Para tal, acrescentou, “será testado o impacte das práticas agrícolas na biodiversidade, bem como a eficiência de diferentes actuações destinadas à sua conservação, nomeadamente o incremento da disponibilidade de refúgios artificiais para a fauna vertebrada e invertebrada”.
José Herrera sublinhou ainda a importância de “valorizar o papel da biodiversidade na sustentabilidade dos sistemas agrícolas e providenciar aos agricultores um certificado que garanta o seu compromisso com a biodiversidade e os serviços derivados da sua conservação”. Os investigadores esperam ainda “contribuir para uma maior resiliência e resistência, face às alterações climáticas, do olival, uma cultura chave para a economia da Europa mediterrânea em geral e de Portugal em particular”, salientou.
De acordo com a SEO/Birdlife, os resultados do anterior projecto demonstraram que este modelo consegue poupar em fertilizantes e fitosanitários (com uma redução média de 22%), atrair financiamento pelos serviços ambientais (através das medidas agroambientais da nova PAC, por exemplo) e pelo valor acrescido que representa para os azeites produzidos nos olivais a recuperação de espécies de fauna e de flora (graças ao selo Olivares Vivos e ao seu esquema de certificação).
O anterior projecto foi realizado em 20 propriedades na Andaluzia, nas quais se mediu a biodiversidade através de uma série de indicadores – aves, polinizadores, formigas e plantas – lenhosas e herbáceas) durante um ano. Depois foram postos em marcha planos de acção para recuperar essa biodiversidade, incluindo uma gestão do coberto herbáceo, a plantação de espécies silvestres em espaços improdutivos como bermas de caminhos e a instalação de elementos para o refúgio da fauna (como caixas-ninho, postes para rapinas e pequenas charcas).
Posteriormente voltou-se a medir a biodiversidade, tanto nos olivais do projecto como em olivais de controlo. Em média foram recuperadas mais de cinco espécies por grupo de indicador e a sua abundância cresceu 36%.
Segundo a SEO/Birdlife, o selo Olivares Vivos é o primeiro produto agroalimentar da Europa com um aval científico que certifica que para produzir esses azeites foram recuperadas espécies de flora e de fauna.
O novo projecto vai então arrancar este ano e prolongar-se-á até 2016. Ao longo destes anos, os responsáveis do projecto esperam saber mais sobre como se vai comportar a biodiversidade a mais longo prazo e perante cenários de alterações climáticas.
“O olival é o cultivo mais importante para a conservação da vida silvestre na Europa”, comentou Asunción Ruiz, directora-executiva da SEO/Birdlife. “Para o Olivares Vivos+ acelerar a sua expansão para as principais regiões produtoras de azeite do Mediterrâneo, hotspot de biodiversidade, será preciso uma aposta global para recuperar o vínculo entre agricultura e natureza, mantendo como premissa os interesses dos agricultores”, acrescentou.
Os peritos vão continuar a monitorizar a biodiversidade dos olivais e a estudar como evolui cada uma dessas regiões, uma vez postos em marcha os planos de acção para a sua recuperação.
Saiba mais aqui sobre os resultados do primeiro projecto Olivares Vivos.